Luciano Leães se apresenta no New Orleans Jazz Museum e prepara novo álbum na Terra do Jazz com músicos locais

| LL no Tipitina's em New Orleans. Foto: arquivo pessoal |
| Por Márcio Grings |

MÚSICO É O PRIMEIRO PIANISTA BRASILEIRO A SE APRESENTAR NO JAZZ MUSEUM 

O pianista Luciano Leães já é tema de matérias no Memorabilia há quase uma década. Falamos de seu álbum de estreia "Power of Love" (2015); das viagens; de vários shows, como a apresentação de abertura para Elton John; contamos suas histórias (entra elas o encontro com Dr. John); destacamos o álbum ao vivo "Live at Pianístico", entre outras atuações — confira todas AQUI

Leães, que recentemente retornou de uma novo mini tour aos Estados Unidos, onde se apresentou no Jazz Museum (ele foi o primeiro pianista brasileiro a conseguir este feito), prepara novo álbum — a ser gravado em território estadunidense , e ainda planeja o lançamento de um livro em que relata suas aventuras no universo musical.   

Na cronologia de Luciano Leães está uma profunda relação cultural com New Orleans, um dos pontos de convergência em sua carreira, cidade onde já esteve por oito vezes. E essa ligação novamente se reconectou durante uma viagem recente pela Europa, em setembro passado. Convidado para tocar no bar do Espaço Cultural Le 360, em Paris, onde  no teatro do local — aconteceria o show do cantor e trompetista norte-americano James Andrews, algo inesperado aconteceu. Enquanto o artista brasileiro fazia sua apresentação, Andrews surgiu de surpresa no bar e, acompanhado do pianista, cantou clássicos como "Iko Iko" e "Big Chief". Curadores do evento na França, organizado pelo Jazz Museum, ao presenciarem a interação entre ambos, lançaram o convite para que Leães se apresentasse na sede do instituto nos Estados Unidos. Convite aceito, o músico brasileiro retornou a New Orleans no último mês de dezembro. 

LL em frente ao JM. Foto: AP
JAZZ MUSEUM 

Instalado na histórica Old U.S. Mint, estrategicamente localizado no cruzamento do French Quarter e do corredor de música ao vivo da Frenchmen Street, o Museu do Jazz de Nova Orleans celebra a profícua história do jazz em suas diversas manifestações. O instituto oferece exposições interativas, programas educacionais, instalações de pesquisa e apresentações musicais únicas. Sua proposta é revelar a quintessência do gênero na cidade que testemunhou o surgimento do jazz. 

O NOJM publicou em seu site: 

"Luciano Leães é o principal e mais ativo músico associado ao R&B e ao New Orleans Piano no Brasil, e possivelmente em toda a América Latina".

No setlist da apresentação de Leães no dia 14 de dezembro no Jazz Museum, além de faixas autorais como “Odila y Maneco”, “Song for JB”, “Fessta Brasilis”, “Power of Love”, “Sinner Not the Saint” e da inédita “Inner Song”, ele ainda tocou clássicos como "People Say" e o spiritual "Go Down Moses". O show do primeiro pianista brasileiro no Jazz Museum, com casa cheia, fez parte da programação de instrumentistas do instituto. 

LL no Jazz Museum. Foto: AP

Quebrando com as formalidades do evento, o brasileiro falou sobre sua carreira e descreveu as histórias por trás das músicas. Nessa conversa com o público, ele chamou atenção para a conexão íntima entre a tradição de Nova Orleans com a música brasileira e latino-americana. Explorando as raízes do jazz, o pianista ainda destacou a influência fundamental da habanera, que não apenas deu origem ao maxixe, tango, vanera e ao próprio jazz, como também fez questão de reforçar a importância da matriz africana na difusão dos ritmos nas Américas.


TIPITINA'S e MAPLE LEAF
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Nessa nova incursão por New Orleans, Luciano Leães novamente se apresentou no Tipitina’s, uma das mais tradicionais casas de espetáculo da cidade. O músico tocou durante a comemoração anual do aniversário de Professor Longhair, lenda do piano blues. No cartaz, Leães figura ao lado de cinco pianistas norte-americanos, além de estar ancorado por uma banda de apoio formada por residentes de renome (veja cartaz acima). Leães foi o último a se apresentar, ordem hierárquica que representa o reconhecimento e a estatura artística dele por lá. E, aproveitando essa nova visita, o músico também passou pelo Maple Leaf (bar onde já tocou mais de 10 vezes):


"Se apresentar no Maple Leaf é emblemático para qualquer artista do gênero. É um local onde muitos músicos importantes já tocaram e ainda tocam. Jon Cleary, Johnny Vidacovich, George Porter Jr (The Meters), entre outros, ainda circulam por lá. É 'o bar' para assistir um show local"
, explica. 

Vale lembrar que estamos falando do mesmo palco onde um de seus ídolos, James Booker, se apresentou pela última vez, isso apenas quatro dias antes de morrer. Há um documentário em produção sobre os 50 anos do Maple Leaf, a ser lançado nos próximos meses — Leães deu um depoimento sobre sua relação com a casa e ainda relatou suas vivências na cidade. E, como já de costume em seus tours por NOLA, o músico ainda deu entrevista a uma rádio local (WWOZ ) e participou da tradicional noite no Buffa's com Tom Worrell, seu irmão nas teclas na cidade. Utilizando o epíteto pelo qual a dupla é identificada por lá: Piano Twins. O evento — que sempre traz convidados especiais — contou com a participação de Josh Paxton e Michael Skinkus

NOVO ÁLBUM DE ESTÚDIO — 

Sobre o novo álbum de estúdio, o sucessor de “The Power of Love” (2015) — vale aqui a menção do CD/ booklet “Live at Pianístico” (2021), gravado ao vivo em Joinville (SC) —, o trabalho trará uma série de convidados, reunindo nomes conhecidos da cena de New Orleans, personagens de vários álbuns e da música do nosso tempo. 

O jornalista britânico Adam Kennedy, colunista da revista Blues Matters!, chamou Leães de "The Brazilian Professor", em referência ao FESS e ao blues rhumba, cognome que gerou um mote para o próximo álbum. O trabalho deve ser gravado no estúdio de Jake Eckert, guitarrista do Dirty Dozen Brass, e proprietário do Rhythm Shack Studios, e, como já mencionado, pode ter alguma associação com o Jazz Museum. Um detalhe interessante sobre os planos para o novo projeto é que parte das histórias vividas pelo músico podem ser materializadas em um livro, possivelmente com lançamento simultâneo ao álbum. 

LEÃES DE ORLEÃES 

Nessa série de idas e vindas aos Estados Unidos, o músico fez amigos e encontrou parceiros para seus projetos. Patricia Byrd, filha de Professor Longhair (contamos a história dessa amizade), carimba sua presença por lá e dá o tom de como ele é percebido pelos locais: 

"Quando me lembro de Luciano Leães, ele não é uma presença insólita. Muitos já o assistiram tocando por aqui [em New Orleans]. E, quando recorre ao espólio do meu pai, ele é um dos melhores pianistas para figurar neste papel". 

LL em frente ao Buffa'a. Foto:AP
Tom Worrell cita um dos temas de Leães (Odila y Maneco) como exemplo da universalidade da música de New Orleans e de seus desdobramentos. Essa fusão de estilos também pode ser ouvida em "Fessta Brasilis", seu último single, caminhos que apontam para as possibilidades e intenções do futuro álbum, o terceiro na discografia do pianista, que não esconde sua gratidão pela forma como foi recebido em NOLA: 

"Me sinto adotado pelos amigos que fiz lá, como se fizesse parte de uma grande família musical". 

Leães e Monique Pyle. Músico deu depoimento num documentário sobre o Maple Leaf. Foto:AP

LL com o radialista Fred Kasten, Monique Pyle e o proprietário do Maple Leaf. Foto: AP

LL com o jovem pianista River Eckert e John Fohl, guitarrista de Dr. John e de "Fessta Brasilis". Foto: AP

LL e a amiga Pat Byrd, filha de Professor Longhair. Foto:AP

Casa do 'Piano Twin' Tom Worrell. Sessao de gravacão móvel do Estúdio do Arco com com Lionel Batiste Jr. e Revert "Peanut" Andrews. Foto: AP
Piano Twins. Foto: AP

LL no Maple Leaf. Foto: AP

LL no Jazz Museum. Foto:Danny Kadar

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