Bebeto Alves é imorrível!

| Bebeto Alves. Foto: Gika Oliva |
| Por Márcio Grings |

Bebeto Alves sempre foi um dos meus heróis de carne e osso. Aos 17 anos eu já sabia disso, época em que comecei a seguir suas pegadas. Estamos falando de um artista difícil de ser rotulado, pois Bebeto é pop, milongueiro, black bagual nego véio, gosta de reggae, transa o rock and roll e faz o diabo com seu violão. Dê a ele apenas seu instrumento e ele nos entrega seu ponto de vista sobre o mundo. E que ponto de vista peculiar!

Leia a resenha de "Contraluz", último disco de Bebeto Alves

Uruguaianense, moldado pela fronteira, não há pontes, cercados ou muros que o cerceiem de espiar nos cantos mais escuros, não há nada que o impeça de abrir janelas iluminadas e de viajar além. Ele sempre foi além. Além das expectativas, dos limites geográficos, além de preconceitos. Assim como Neil Young, sempre foi difícil prever: como será o próximo disco de Bebeto Alves? Qual será seu iminente plano de conquista. Exposição fotográfica? Uma revolução contra o streaming? Aquele trabalho em que ele grava todos os instrumentos e compõe tudo? Um álbum em que ele só canta canções de um amigo? Bebeto, imorrível, transplantado, um sobrevivente — o cantautor nato, gente como a gente, que responde as mensagens no WhatsApp e troca figurinhas como um colega de classe. 

Ouça a discografia completa de Bebeto Alves

Camarim Itaimbé Palace Hotel (2015). Foto: Fabiano Dallmeyer  

Uma das maiores façanhas da minha vida de produtor cultural foi trazê-lo para tocar em Santa Maria com "Mandando Lenha". O CD de 1997 — um dos discos que moldaram quem eu sou! —, o álbum sem turnê. Isso só aconteceria 18 anos depois, com direito a uma estreia triunfal — 28 de junho de 2015, Centro Cultural Kirshner em Buenos Aires. Lotado! Minha cidade finalmente o assistiria em agosto e, Porto Alegre, só o veria em novembro daquele ano. E mais ninguém com aquele show. Osso duro de roer, ao vivo, já vi centenas e centenas de apresentações, mas chorei só três vezes: Paul McCartney no Beira-Rio, Elton John no Zequinha, e Bebeto Alves no Itaimbé Palace Hotel. Me senti muy chamamecero quando às lagrimas despencaram já na primeira música.

Outdoor de divulgação do show "Mandando Lenha", agosto de 2015. 

Leia a resenha do show "Mandando Lenha" 

Veja a abertura do show em Santa Maria. 

Quanto um artista morre, sua obra o representa após essa despedida ingrata. Assim, Bebeto seguirá vivo entre nós, imortal na acepção mais legítima da palavra, pois acabei de ouvi-lo mais uma vez, sussurrando suas histórias aqui na sala de casa:

"Não vou morrer/ Depois da chuva/ Como um domingo/ Não vou morrer/ Não vou morrer/ Isso é um insulto/ Sob esse viaduto/ Não vou morrer".

"A morte de Bebeto Alves tá entrando nos ossos", pois sabemos: um homem insubstituível se foi. Tudo cinza feito a versão de "Paint in Black" que ele nos deu.    

Leia a resenha de Bebeto Alves y La Milonga Nova ao vivo em Viena, registro de um show na Europa em 2000

Confira o trailer de "Mais uma Canção", documentário de Rene Goya Filho sobre Bebeto Alves.            

Comentários

  1. Parabéns pelo texto. Entendesse perfeitamente Bebeto. E a saudade corrói.
    Mesmo tendo acompanhado o último ano de dentro da situaçao tudo que não se queria era essa despedida. Mas tudo para te dizer, parabéns pelo texto. E obrigado. Para mim todas as homenagens sao justas e necessárias...abraço

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  2. Poderia ter sido escrito por mim. Todos os dados conferem e eu teria dito. Só não, de forma tão bonita.

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