Bebeto Alves Y la Milonga Nova ao vivo em Viena
Bebeto Alves Y la Milonga Nova. Ricardo Baungarten, Luciano Maia, Bebeto, Paulinho Fagundes e Edinho Espindola. |
Por Márcio Grings
Cada show é único. Por mais que saibamos que o universo muitas vezes revele sua generosidade com alguns de nós e premie um ou outro afortunado com segundas chances, a maioria das vezes isso não acontece. A vida é um sopro e várias experiências não se repetem. Eu queria ser uma das cerca de 300 pessoas que tiveram a oportunidade de assistir a apresentação única de Bebeto Alves e sua banda em julho de 2000 no WUK, em Viena, capital austríaca. O espetáculo, gravado por Paulo Petzold e recentemente masterizado por Marcos Abreu, é um dos grandes achados do ano.
Leia resenha do show de Mandando Lenha
Divulgação |
Leia resenha de "Oh Blackbagual pela Última Vez", de Bebeto Alves
Cartaz do evento em Viena. Reprodução |
Em pleno verão vienense, numa noite agradável de julho, Bebeto começa os trabalhos apenas com seu violão, numa monumental versão de "Em Cima do Laço", de Mauro Moraes. Mas afinal: onde está a sensacional banda que o acompanha, já que o show começa com um solista? Qualquer imagem minimalista é desfeita com "Num Primeiro Dia", quando a tríade baixo, guitarra e bateria se impôe. Até por ali, pois, na linha de frente é um hiperativo acordeon que dá as cartas, com a guitarra surgindo como um coringa no solo. "12 Milonga" é a milonga mais rock and roll já feita 'para se dançar', numa paráfrase com a letra. "Tum Tum Tum" abre espaço para improvisações, com diversas dinâmicas e alternâncias, espaço onde cada instrumentista joga suas poções no caldeirão de ritmos. O reggae "Que Bom" mistura tudo e deliciosamente se mescla ao regionalismo. Em "ÃO", a ambiência e os scats de Bebeto nos levam ao apertume dos clubes de jazz. A poeira baixa em "Chamamecero" e "Milonga do Meu Assado", retratos de um intérprete transcedental e único. Já a releitura de "Vuelvo er Sur", de Pino Solanas e Astor Piazzolla, é um dos recortes mais sublimes do set, quando o intérprete emerge na sua vitoriosa persona fronteiriça. A parte final, com "Rei e Rainha", "Festa dos Caranguejos" e "O Teu Poder", é pura demonstração de um cantor popular de primeira linha. É improvável ficarmos impassíveis nesse grand finale repleto de swing e vibração.
"Bebeto Alves Y la Milonga Nova ao Vivo em Viena” é um registro histórico, um retrato iluminado de um dos grande nomes da nossa música, merecidamente brilhando num palco europeu. Duas décadas após o registro, Bebeto não esconde a satisfação de ouví-lo: "Eu fiquei surpreso quando conferi essa gravação, pois me deu a ideia de onde andávamos naquele momento, do quanto estávamos na frente de tudo, fazendo uma musica sulbrasileira moderna, contemporânea, do quanto era sensacional o trabalho. Acredito que desenvolvemos um trabalho pouco reconhecido, mesmo aqui no nosso meio. Uma música grandiosa, que pode ocupar qualquer lugar. Era um prazer imenso tocar com esses músicos. Ouvir isso agora me deu uma certeza: de saber que nossa música era boa demais, e continua sendo". Após a apresentação em Viena, de volta ao Brasil, por compromissos com o Nenhum de Nós, João Vicenti precisou deixar o bando, sendo substituído por Luciano Maia. Com essa formação (veja foto no cabeçário da postagem), a trupe gaúcha seguiu a turnê, com destaque para o show em Buenos Aires.
Sinceramente, espero que esse instantâneo se materialize num álbum ou no mínimo migre para o player de sua plataforma de streaming favorita. Não hesite, ouça-o imediatamente, não há nada parecido com "Bebeto Alves Y la Milonga Nova ao Vivo em Viena”. Um deleite de apresentação.
Maravilhoso texto! Eu também estava no concerto em Buenos Aires e foi muito intenso, com quase cinco minutos de aplauso ao final. Abrazo
ResponderExcluirJoão vicenti