Bebeto Alves "Mandando Lenha" - Santa Maria, 13 de Agosto de 2015
Fotos: Rafael Cony (Expertise Cultural) |
Review Márcio Grings Colaborou Ana Bittencourt Fotos Rafael Cony
Depois de 18 anos, "Mandando Lenha" (1997), disco em que Bebeto Alves interpreta canções do compositor regionalista Mauro Moraes (existem mais dois CDs), finalmente ganha show. O première aconteceu em Buenos Aires, em junho, na inauguração do Centro Cultural Néstor Kirchner. Santa Maria foi a segunda cidade (a primeira no país) a receber esse espetáculo inédito. O último e terceiro show do ano acontecerá em novembro no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.
Foto: Rafael Cony |
Aqui na Boca do Monte, a apresentação aconteceu no Centro de Eventos do Itaimbé Palace Hotel. No palco, Bebeto Alves (voz), Clóvis ‘Boca’ Freire (baixo acústico) e Marcello Caminha (violão de náilon). E, para início de conversa, Bebeto estava a fim de papo — contou histórias entre as músicas, revelou detalhes da parceria com Mauro Moraes e cantou — cantou muito, entregando ao público toda e intensidade que que esse material evoca.
Foto: Rafael Cony |
Em uma entrevista, certa vez a cantora norte-americana Janis Joplin disse: "Eu canto com a minha alma e com o meu corpo”. Bebeto Alves joga nesse time. Vestido em seu djellaba marroquino (óbvio que não seria uma pilcha), o cantor solta a voz e sacoleja. Hiperativo, como intérprete utiliza o gestual para materializar-se como principal personagem frente às histórias que se desenrolam no palco.
"Chamamecero" (captação TV Santa Maria).
Uma das principais idiossincrasias dessa apresentação/álbum se dá pela configuração instrumental. Diferente de boa parte dos modelos do gênero, apenas dois instrumentos comandam as ações — o contrabaixo acústico de ‘Boca’ Freire e o violão de náilon do músico argentino Lúcio Yanel (no show substituído por um de seus discípulos, o não menos talentoso Marcello Caminha). De todo o modo, na sonoridade há uma forte ligação folclórica e legítimos cruzamentos com a herança platina. E mais: nuanças jazzísticas, um toque erudito no arco que raspa contra as cordas do baixo, e com certa licença poética, podemos alçar até mesmo conexões com o blues, principalmente nos espaçamentos do fraseado do violão, eclodindo no emergir sorrateiro promovido pela ausência de outros instrumentos. E com isso, a aura reflexivas das músicas respira.
"Milonga pra Loco" (captação TV Santa Maria).
"Chamamecero" (captação TV Santa Maria).
Uma das principais idiossincrasias dessa apresentação/álbum se dá pela configuração instrumental. Diferente de boa parte dos modelos do gênero, apenas dois instrumentos comandam as ações — o contrabaixo acústico de ‘Boca’ Freire e o violão de náilon do músico argentino Lúcio Yanel (no show substituído por um de seus discípulos, o não menos talentoso Marcello Caminha). De todo o modo, na sonoridade há uma forte ligação folclórica e legítimos cruzamentos com a herança platina. E mais: nuanças jazzísticas, um toque erudito no arco que raspa contra as cordas do baixo, e com certa licença poética, podemos alçar até mesmo conexões com o blues, principalmente nos espaçamentos do fraseado do violão, eclodindo no emergir sorrateiro promovido pela ausência de outros instrumentos. E com isso, a aura reflexivas das músicas respira.
"Milonga pra Loco" (captação TV Santa Maria).
Muito fácil perceber a emoção que paira no semblante da audiência santa-mariense. O álbum é tocado na ordem, começando com uma das canções símbolo dessa parceria, "Chamamecero", autêntica epístola da cartilha utilizada por Mauro Moraes — "Como se a escuridão trouxesse luz / Como se o coração fosse explodir / Mastiguei a fala, negaceei a mágoa / Só pra ver a lágrima feliz". Depois de cantar “No Fundo da Alma”, olhando nos olhos da audiência, Bebeto revela uma de suas epifanias nesse retorno ao álbum de 1997: — “Eu as peguei pra mim, agora essas canções são minhas”, diz o artista ao se reconhecer como intérprete de um dos trabalhos mais significativos de sua carreira.
Foto: Rafael Cony |
Afinal, ninguém canta melhor Mauro Moraes do que Bebeto. Nem o próprio Mauro. Na atitude e no gestual, as mãos desenham signos no ar e, assim, Bebeto ainda traz a lembrança do rock e o do soul, traços de rebeldia evocadas no semblante artístico de um homem da fronteira, um uruguaianense acostuma a misturar tudo. No magnetismo do intérprete, ao vivo, as canções crescem, se reinventam e ganham divergências dsipostas a conversar entre si. A movimentação do intérprete compõe uma espécie de Teatro Nō 能楽, sugerido pelo esplêndido desenho de luzes maquinado por Alexandre Lopes. No núcleo dessa ambiência, há uma mescla de canto, pantomima, música e poesia, potencializando a fuga do lugar comum onde muitas vezes está estacionada a música regionalista. Enquanto show, “Mandando Lenha” é um organismo vivo, uma peça única! Aliás, essa pode ser sua primeira e última vez frente ao espetáculo, então — preste atenção nos detalhes!
"Do Fundo da Alma" (captação TV Santa Maria).
"Do Fundo da Alma" (captação TV Santa Maria).
Temas como “Juntando os gravetos” e “Charla de tropa” ampliam seus espectros nesse tête-à-tête do palco. “Do fundo da alma” e “Com o violão na garupa” também brilham, a poesia de Mauro fica translúcida em cada nova frase proferida pelo cantor. É possível sentir o coração insistindo em saltar do peito, inflado pelo difuso prisma da apresentação e tantos contos musicais afins a tantos de nós. Ao final, surpresa: bis com “Campereando” e “Em cima do laço”, músicas que promovem a ponteada final de uma noite histórica, relembrando outro disco da dupla Bebeto/Mauro, “Milongamento”, de 1999.
Foto: Rafael Cony |
Grande parte das vezes, sentimentos são imparáveis. Até por quê, sem comoção a vida fica opaca, insípida. Cada qual com sua história e bagagem. Eu, por exemplo, desabei em lágrimas em apenas três shows: Paul McCartney, Elton John e “Mandando Lenha”. E, se no palco, Bebeto, Caminha e Boca Freire formam um monstro de três cabeças, é porque há um espírito perturbado que perambula nessas composições de Mauro Moraes — cada frase de cada música contém um dos principais combustíveis responsáveis por mover a máquina humana — a emoção!
Mandando Lenha em Santa Maria foi um oferecimento de Fundação Eny, Uglione, Ótica Sílvio Joalheiro, CDL Santa Maria e Klinikon. Apoio: Itaimbé Palace Hotel, TV Santa Maria, Mídia Urbana, Divino Restaurante e Eventos, Guds, Cinemashow, Jornal A Razão, The Park, Santa Brasa, HVinte Eventos, Serve Bem, Bella Festa e Sandor Mello Produções Artísticas. Realização: Expertise Cultural, On The Rocks e Grings - Tours, Produções e Eventos.
Nossos agradecimentos a todos os personagens de "Mandando Lenha" em Santa Maria: Bebeto Alves, Marcello Caminha, Clóvis "Boca" Freire, Rafael Cony (Expertise), Rodrigo Rheinheimer (técnico de som), Alexandre Lopes (técnico de luz), Luci Caminha, Ana Bittencourt, Paulo Teixeira, Pablito Diego, André e Thaís Trevisan, Renata Camargo, Sandor Melo, Andréa Amaro, Gika Oliva, Rodrigo Ricordi, Fabiano Dallmeyer, Priscila Fialcoff, Juliano Scheffelbein e equipe H20, Ademir Lima, Tiago Hoffman, Leandro Grazzioli, Aline Druzian Petrucci, Taís Beuren, Ewerton Falk, Tonho Saccol, Sávio Werlang. Caroline Viana, Elaine Santiago, Alexandre De Grandi, Mariana Borges, Patrícia Riet, Rosane Kasten, Pedro Vaz, Sandro Barrros e todos aqueles que acreditaram na realização do evento.
Foto: Rafael Cony |
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