Review: Bebeto Alves "Contraluz"

Capa de "Contraluz". Foto: Simone Schlindwein

Por Márcio Grings

Gravado em sua casa, tudo o que ouvimos em "Contraluz" é fruto da ação de Bebeto Alves, que autoproduziu seu novo álbum (Compre AQUI). Incatalogável, afeiçoado ao crossover, o artista zarpa e zurze para todos os lados. Ele oscila entre orientalismos, percussões, traços de blues, provocativas dissonâncias, afinações sinistras, batidas eletrônicas — mas também se resolve no unplugged; canta em português-espanhol-inglês, explora minimalismos e excessos, qual coisa forja um som que muitas vezes bate no rock, mas que sempre encontra no violão de aço — e no dedilhar da milonga — o fio condutor para fundir todas as profusões. 

Foto: Simone Schlindwein

Poeta, antena da raça — artista que captura todos os sinais — sua música é como um tabuleiro ouija doido para nos revelar novas aparições, seja "no meio das coisas vivas (ou) das coisas mortas", como nos diz em "Preciso Encontrar". Assim, a possessão musical de Bebeto nunca se afasta do sentido plural de uma ancestralidade fronteiriça, é o que acontece em "De déu em Déu"e na faixa título. O mantra existencialista "Aroma perdido" ulula como um canto de sereia: "Eu não posso de rasgar as asas do poema | Eu já não posso deixar de guardar a sirena | Lá fora na noite estrangeira | Nem deixar de sentir o aroma perdido no ar da fonteira". Essa ubiquidade, o desejo de estar em todos as paragens, seja aqui ou lá sabe-se onde, é o poder de teletransporte na música de Bebeto Alves. Eu tenho o tíquete premiado (já o ouvi), e "Contraluz" me deixou solto no ar, como uma pena bailando ao vento frente o reflexo do sol.  

Com mais de 40 anos de estrada, mais de 20 álbuns no currículo, não posso deixar de desejar que mais pessoas conheçam a música de Bebeto. O Brasil precisa de artistas assim, dispostos a não desistir de originalidades, indispostos ao flerte fácil com modismos, coerentes com sua própria insensatez.    

Foto: Simone Schlindwein

Comentários

  1. Valeu, Márcio. É sempre bom ler o que escreves. Me custa mucho. Obrigado. Abração.

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