Romero Carvalho — Os 10 Melhores Álbuns de 2023

| Fonte: Adobe Stock |
| Por Romero Carvalho |

A convite do parceiro no podcast Quando o Som Bate no Peito, e titular neste site, Márcio Grings, trago aqui no Memorabilia minha lista dos 10 Melhores Álbuns de 2023, confessando a princípio não achar que este ano contaria com lançamentos avassaladores. Mas aí veio o senhor Mick e cia... E ressignificaram tudo, deixando o ano discográfico mais interessante. E depois veio o senhor Paul McCartney, nos entregando uma canção emocionante, que me faz chorar copiosamente. Pronto. Já posso dizer que 2023 é histórico! E vamos lá!

Confira os Melhores de 2023 por Márcio Grings

Ouça o podcast Quando o Som Bate no peito sobre os Melhores Álbuns de 2023 

Além das escolhidas abaixo, destaco minhas menções honrosas: Vanessa da Mata, com “Vem Doce”, Xande de Pilares, com “Xande Canta Caetano” e Luiz Carlos Sá, com “Solo e Bem Acompanhado” (veja a live sobre o disco no Pitadas do Sal).     

||| Música do ano ||| 

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THE BEATLES | NOW AND THEN

Grings já comentou em seu texto, fizemos até uma live sobre essa canção com o Sal Jr em seu Pitadas do Sal (veja AQUI). Mas nunca é demais expressar a imensa satisfação de ouvir "Now and Then" repaginada, com a voz do seu criador — John Lennon — soando perfeita. Um belo arranjo de cordas e vocais, o dueto Paul/John soando novamente, a bateria precisa de Ringo, o baixo poético do Macca e até os violões relutantes de George. O que pode ser mais beatle que isso? É ouvir e chorar! A canção do ano ficou em primeiro lugar nas paradas, é recordista no streaming e continua tocando nas rádios. Uma canção “nova” dos Beatles em 2023? Só isso já valeria a década. 

||| Videoclipe do ano |||

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THE ROLLING STONES | ANGRY

Sigo o chefe do site nessa. O clipe do ano é o espetacular "Angry", dos Rolling Stones. Nada neste audiovisual é menos que brilhante. É Rolling Stones em excelência, reverenciando sua história e legado. A celebração do primeiro single de "Hackney Diamonds" é tão bem feita neste vídeo que facilmente nos emociona. Somos transportados para uma linha do tempo em que a música era o "entretenimento" mais popular e relevante. A Sunset Strip nos surge mais autêntica e emblemática do que nunca.


|| Os 10 Melhores do Ano |||

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THE ROLING STONES | HACKNEY DIAMONDS

Essa era até uma escolha óbvia. "Hackney Diamonds" é o melhor disco do ano com sobras e "Sweet Sounds of Heaven" seria a música do ano se não houvesse “Now and Then”. Sobre o disco, novamente acompanho integralmente o relato de Grings (leia review AQUI). A essência da banda está ali, com convidados  incríveis e um constante tom celebratório. E acho sim que é o melhor disco da banda dos últimos 40 anos, pois resguarda a essência do som stoneano, mas com um leve frescor de 2023, e tudo sem exageros. O repertório é forte, coeso, bem trabalhado, com passagens pelos vários estilos musicais — combinados — que sempre estiveram presentes nos álbuns da banda. Sim, porque Stones é muito mais que um grupo de rock, sendo logicamente um resumo quintessencial do gênero. Agora vamos aos discos “normais”. 

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SAMANTHA FISH & JESSE DAYTON | DEATH WISH BLUES

Há uns sete anos, zapeando pelo Youtube, me deparei com uma cantora de voz rasgada, empunhando muitíssimo bem uma guitarra e fazendo uma apresentação visceral do clássico “I Put a Spell on you”. Ali me senti uma groupie e o fascínio atendia pelo nome de Samantha Fish.  Desde então, comprei todos os discos da bluseira rocker e fiquei atento a cada lançamento dela. Seja num blues mais raiz ou mais pop, Samantha traz uma energia impressionante em seus discos e shows, e já possui uma fan base bastante ativa nos EUA. O último disco de Samantha, “Death Wish Blues”, é uma parceria com o guitarrista texano Jesse Dayton, que já tocou com Johnny Cash e Willie Nelson, mais ligado, portanto, ao rockabilly country do que ao blues rock elétrico de Samantha Fish. E esse encontro produz um disco excelente, com canções de altíssima octanagem, guitarras nervosas e vocais sensacionais. Blues tingido por funks e rocks rudes, em um álbum sem defeitos e sem baixas. Pra ouvir em alto astral da primeira à última faixa. 38 minutos de alegria.

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EILEN JEWELL | GET BEHIND THE WHEEL 

O 12º álbum da cantautora norte-americana Eilen Jewell é altamente recomendável para quem já curte o som de artistas como Emmylou Harris, Patty Griffin, Lucinda Williams e Patsy Cline. Como gosto de todas,  "Get Behind the Wheel" me soa excelente da primeira a última faixa. Música americana com suas nuances rurais e urbanas, mas equilibradas na medida certa. A voz de Jewell é agradável aos ouvidos, nada datada, e traz uma interpretação precisa e delicada nas canções. As letras são primorosas. Destaque para uma interpretação na medida de “Could You Would You”, do imenso Van Morrison, com guitarras e timbres que me levam diretamente para a virada dos anos 1960 para os 1970. 

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KARA JACKSON | WHY DOES THE EARTH GIVE US PEOPLE TO LOVE? 

Kara Jackson é uma artista completamente singular. Cantora e compositora, Jackson é, sobretudo, uma laureada poetisa, um prodígio. O que ela entrega em "Why Does the Earth Give Us People to Love" é algo totalmente distinto de tudo que já ouvimos. Não estou exagerando. São poemas musicados sobre amor e perda, feitos durante a Pandemia do Covid-19, tudo envelopado em canções intimistas, quase meditativas. Não é um álbum para se ouvir, mas para se mergulhar com cuidado e respeito, porque o salto é arriscado. Kara Jackson nos leva, com letras profundas, em cenários complexos e às vezes perturbadores. E, por isso, o disco é fascinante. 

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HUMBERTO GESSINGER | QUATRO CANTOS DE UM MUNDO REDONDO 

O Alemão chega ao terceiro disco solo com toda sua identidade poética e melódica que o faz ser amado e cultuado ou rejeitado. Com a obra de Humberto Gessinger parece não ter meio termo. Eu tentei analisar o fenômeno no texto publicado neste site sobre o último show dele em BH, que já fazia parte da turnê do novo disco (leia AQUI). "Quatro Cantos de um Mundo Redondo" traz um ótimo time de músicos, algumas parcerias e uma homenagem a Bebeto Alves, com a canção "A.E.I.O.U". Com direito a um tema feito para o casamento da filha, a delicada “Fevereiro 13”. O grande destaque do álbum é a canção de amor “Começa tudo outra vez”, feita em parceria com Roberta Campos. Aliás, as canções que Humberto tem feito para a maturidade de seu casamento são cada vez belas. Por mais que os teclados no disco estejam por vezes excessivos, para mim, o disco tem momentos muito altos. 

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PJ HARVEY | I INSIDE THE OLD YEAR DYING 

Atmosférico, denso e enigmático, "I Inside the Old Year Dying", novo álbum da cantautora inglesa PJ Harvey, foi aclamado em todo o mundo e não é para menos. Com sua linguagem cada vez mais própria e menos parecida com sua trajetória inicial, PJ entrega um trabalho poético, por vezes delicado, campestre e espiritual. Após sete anos sem lançar nada, a cantora nos presenteia aqui com uma história mitológica cativante e complexa, que requer audições atentas para captar todas as nuances. 

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LUCINA | NAVE EM MOVIMENTO

A linda voz contralto de Lucina está de volta, desta vez sem sua eterna parceira Luli, que nos deixou em 2018. Porém, Luli está completamente presente nas composições e no clima do disco, que é fruto de uma mexida no baú da dupla; um acervo de quase 1000 canções (!!!). "Nave em Movimento" apresenta Zélia Duncan, Marcelo Dworecki (baixo e violão de aço), Otávio Ortega (piano e acordeom) e Peri Pane (violoncelo), além de Bruno Aguilar (baixo acústico), Curumin (bateria), Décio Gioielli (kalimba, percussão e flauta africana), Elione Medeiros (fagote), Jaime Além (violão), Jorge Mathias (baixo), Marcelo Caldi (acordeom), Maurício Cajueiro (guitarra) Murilo O' Reilly (percussão e percussão Eletrônica), Ney Marques (mandolim e guitarra) e Wallace Cardia (bateria). São 13 canções pinçadas diretamente do espólio da Luli/Lucinaa, sempre naquele clima de “música artesanal” e orgânica, uma escolha que sempre caracterizou a obra independente da dupla. 

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TINARIWEN | AMATSSOU 

O grupo de tuaregues do Mali retorna com "Amatsou", mais um disco excelente, que se soma a uma discografia pra lá de consistente, na qual a música sobrevive ao clima bélico e de constantes revoluções na região, que invariavelmente perseguem a música e a liberdade artística em regimes teocráticos. Este nono álbum do coletivo, gravado majoritariamente durante a Pandemia num estúdio móvel na Argélia, segue trazendo aquela multiplicidade de elementos que caracteriza o som do Tinariwen. Há detalhes que vão do country americano ao krautrock, do bluegrass à música do deserto do Saara, da psicodelia ao blues africano de Ali Farka Touré. Não é possível ficar indiferente ao som deles e se há um lançamento do Tinarirew, estou atento e recomendo.  

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FATOUMATA DIAWARA | LONDON KO 

Primeiro uma declaração de amor: Fatoumata Diawara é uma cantora arrebatadora. Desde o lançamento de “Fatou”, de 2011, ela me conquistou. Infelizmente, ela grava muito pouco, o que já faz com que “London Ko”, apenas o seu terceiro disco, seja celebrado. Esta atriz, compositora, guitarrista e cantora nascida na Costa do Marfim é filha de malineses, sendo, portanto, mais um nome da extraordinária cena musical de Mali. O álbum é exuberante, dialoga com a cultura malinesa do wassoulou e elementos de outras nações africanas e sua diáspora, sendo simultaneamente cosmopolita, universal, tradicional e futurista. As letras são lindas e engajadas, os vocais são impecáveis, assim como os arranjos. Se os Stones não tivessem lançado seu disco, "London Ko" certamente seria o meu favorito do ano. E se eu pensar muito, ele retoma o posto.   

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LUIZ CALDAS | O SORRISO DO SAMBA 

Pra encerrar a lista, o maior fenômeno de produção musical dos últimos 10 anos. Você sabia que, de 2013 pra cá, o baiano Luiz Caldas lançou 101 discos? É inacreditável. É assombroso. E não são trabalhos feitos “a toque de caixa”. São álbuns produzidos, com composições próprias, bem arranjados e muito habilmente executados. 101 discos de todos os gêneros e linguagens que você puder imaginar. E Luiz Caldas ainda arranja tempo de fazer vídeos para o Youtube interpretando clássicos da música mundial em seu violão, com um virtuosismo que beira o absurdo. Um domínio total do instrumento. Caetano Veloso uma vez disse que não sabe quem é o pai do Axé, mas o primeiro filho é Luiz Caldas. Porém, hoje estamos diante de algo muito maior. Tomando como base sua média surreal, 2023 foi um ano de poucos discos para ele, que “só” lançou cinco álbuns. Em 2022 foram 11... Eu sei... é de deixar o Papa incrédulo. Escolhi para a lista um em particular — “O Sorriso do Samba”, um autêntico disco de samba, que flerta com aquela linguagem sambística dos Novos Baianos, cheia de solos incríveis, onde podemos ver o brilhantismo do Luiz em vários instrumentos. Várias facetas do gênero, sejam elas baianas ou cariocas, estão presentes. Um álbum pra alegrar magistralmente qualquer sábado à tarde.  

Ouça playlist com destaques dos selecionados. 

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