Vini Brum fala sobre "Sereno"

| Foto: Pablo Zambelli |
Há muita vida envolvida em um disco. "Sereno" levou três anos para se materializar em CD. Vini Brum, o autor da obra, fez uma reflexão sobre como se deram as coisas, um exercício de resgate da memória e do próprio processo criativo como artista.  

Ouça "Sereno" no Spotify | Compre o CD no site da Memorabilia Store  

SERENO, UMA COLEÇÃO DE SÍMBOLOS

| Por Vini Brum |

Na última sexta (1º), Sereno foi lançado. Eu estava na estrada, por isso acho necessário dizer algumas coisas sobre meu primeiro álbum solo, lançado pela Memorabilia Store.

Leia o review de Elmo Köhn   

A faísca inicial surgiu como uma provocação. Enquanto devolvia o ukulele emprestado pelo amigo Márcio Grings, isso ainda no início da pandemia, floreei algumas notas aleatórias no instrumento. Foi quando ele me perguntou: "Que som é esse?". Respondi não ser nada em específico. Ele visualizou algo ali. Então, perguntou se poderia escrever uma letra para o tema. Proposta aceita no ato. No dia seguinte tínhamos “Château Solaire”, que viraria a faixa 1 de Sereno. Nesse período não nos víamos, apenas trocávamos figurinhas via internet, pois era o começo do lockdown. Desse modo o processo avançou — eu enviava algumas harmonias por mensagem de celular e ele prontamente colocava as letras. Assim surgiram cinco canções. Seguindo no embalo, aproveitei para tentar expressar  meus próprios sentimentos no papel. Outras canções nasceram e, a exceção de “Cem Palavras”, um tema engavetado há mais tempo, as outras seis músicas que compoêm o CD vieram dessa mesma lavra. 

Gravação de Sereno no Estúdio Caixa de Sons. Foto: Márcio Grings 
Em paralelo a isso, nessa época eu estava muito ligado em dois artistas: Lenine e Vitor Ramil. Da parte do músico pelotense, ouvia o tempo todo "Foi no Mês que Vem” (2013) e “Campos Neutrais” (2017) . Assisti e até trabalhei em uma apresentação do Vitor em Santa Maria, era maio de 2017, e a convite do Grings, produtor local do espetáculo, pude ver tudo muito de perto. Fiquei impressionado com a capacidade de um artista solo soar tão bem no palco, apenas com seus violões, entregando ao público um espetáculo de rara elegância. Outro show específico também me impactou, "Lenine in Cité" (2004), de Lenine, onde ele se apresenta ao lado de Yusa (baixo, violão e voz) e Ramiro Musotto (percussão), este último, responsável por colorir as músicas do pernambucano com suas diferentes percussões. 

Foto: Márcio Grings
Após os incentivos de Grings, agora já imaginando que de fato tinha comigo um trabalho autoral, com possível potencial de álbum, comecei a avaliar as possibilidades de instrumentações. Pesquisei tipos de percussões na internet e cheguei no trabalho de um amigo de longa data, Luís Bittencourt (conhecido pelos santa-marienses como Neny), pesquisador e músico ativo na Cidade do Porto, em Portugal. Lembro que passei uma madrugada assistindo vários vídeos dele, impressionado pela qualidade do trabalho. Havia tempo que não nos falávamos e, coincidentemente, poucos dias depois, ele puxou papo comigo pelas redes sobre alguma das minhas postagens. Comentei que estava trabalhando em temas autorais e que gostaria de utilizar percussões e... por que não trabalhar com ele? Tudo se encaixou e, assim, nasceu essa parceria que levou o trabalho para outro patamar. Neny, que num primeiro momento seria  apenas percussionista, para minha sorte, acabou por criar arranjos para todas as instrumentações e, desse modo, naturalmente passou a assumir a produção do álbum. Isso transformou as canções em algo inimaginável, emprestando uma importante coesão para Sereno

Ouça "Mar de Distrações". 

Foi quando, ainda em meio a pandemia, surgiu o edital da Lei Aldir Blanc. Eu não tinha experiência nenhuma na área, daí, novamente Márcio Grings atuou. Ele não apenas me incentivou a inscrever o projeto, mas também me ajudou a forjar as defesas e apontou os caminhos para uma aprovação, mirando a edição de um CD. Para nossa alegria, o projeto foi qualificado e assim angariamos os recursos necessários para avançarmos. 

Durante todos esses meses, eu e Neny trabalhamos distanciados, utilizando nossos e-mails para debatermos  processo e, por incrível que pareceça, não nos encontramos presencialmente em nenhum momento. Estávamos em nossas casas: eu, em Santa Maria, ele, na Europa, na Cidade do Porto. Por aqui, durante as gravações, contei com o apoio de Vinicius Bertolo, proprietário do estúdio Caixa de Sons, que desde o início abraçou a causa. Exceto os baixos, gravados no meu quarto, captamos tudo no estúdio do Bertolo: vozes, violões, ukuleles, bandolim, com sessões de gravação regadas a muito café. Salvos os arquivos, enviávamos o material para Neny, que do outro lado do Atlântico fazia a mágica acontecer. Lembro da primeira faixa enviada por ele, especificamente dos arranjos utilizados na primeira versão de “No Jardim das Açucenas”. Fiquei de queixo caído, pois o tema estava exuberante. E, a partir daí, com tudo no seu tempo, o trabalho foi tomando forma. Após muito debatermos os arranjos, como vários ajustes e afinações, finalmente no segundo semestre de 2023, o disco ganhou vida. 

Ouça "Lanhado". 

Além de Luís Bittencourt, que fez boa parte do trabalho, contei com algumas participações especiais: Márcio Grings, com uma locução em “Cem Palavras” (além das letras em 5 temas); Luiz Brum, meu pai, com um apoio na letra e na locução da intro em “O Caminho”; Márcia Heinz, minha querida professora de português no ensino médio, não cantou nem tocou, mas me ajudou com as palavras e dividiu comigo e com meu pai a escrita da letra de “O Caminho”; Felipe Quadros, grande amigo e talentosíssimo músico local, colocou seu toque de pedal steel em “Tudo o que Vale a Pena”; e Paulo Noronha, meu amigo/irmão de Rinoceronte, colocou um slide de violão em “Longa Metragem”. 

A capa de "Sereno". Arte: Paulo Noronha 
Noronha também assumiu o design gráfico do álbum. Criou um material fantástico para o caderno de letras. Assim, cada página ganhou elementos simbólicos, o que resultou em uma capa incrível, juntando essa coleção de símbolos sobreposto a uma foto de outro grande amigo, Pablo Zambeli, fotógrafo que também é o responsável pelas fotos do encarte. E falando em fotos, o disco também conta com outras duas imagens, uma fotografia de Márcio Grings e outra de João Duarte, ambas fixadas ao lado da ficha técnica. Luís Bittencourt também fez o processo de mixagem das canções, com masterização de um fiel escudeiro dele, o Engenheiro de Áudio de suas apresentações pela Europa, Rodolfo Cardoso (Estúdio Workhorses), realizador de um trabalho impecável. 

Contracapa do CD. Foto: Pablo Zambelli. Desenho gráfico: Paulo Noronha 
Ao longo desse percurso contei com a ajuda de muitos amigos, às vezes caminhando por estradas imprevistas, mas o que tornou a viagem muito divertida e repleta de paisagens exuberantes! Toda minha gratidão a Alex da Rosa, Anderson Bitencourt, André Tavares, Bruno Brandão, Bruno Sesti, Cassiano Cassanta, Cirlene Ereno, Erick Corrêa, Familia Handte, Família Pira Rural, Família Ribas, família Saurin, Felipe Quadros, Leonardo Gadea, Luís "Neny" Bittencourt, Luiz Brum, Márcia Heinz, Márcio Grings, Mauricio Brum, Ninu Ilha, Pablo Diego Martins, Pablo Zambeli, Paulo Noronha, Pedro Paulo Rodrigues, Thiago Brandão, Vinicius Bertolo e Vitor César. Também agradeço ao apoio incondicional da minha família e a todos que incentivaram e colaboraram para a realização deste trabalho.

Sereno é dedicado as pessoas que percorreram juntos ou cruzaram o meu caminho nessa jornada até aqui!   

Ouça "A rima". 

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