Lot Long, o trabalhador rural que foi parar na capa de Led IV

| Dukes Auctions/Atlantic Records |
| Por Márcio Grings |

O álbum Led Zeppelin IV possui vários selos de originalidade, a começar pela capa, sem nenhuma nomeação. Há também a simbologia dos criptogramas que representam os integrantes. O velho rabugento que nos encara na imagem frontal, curvado por um feixe de lenha às costas, é uma figura intrigante. Na contracapa, percebemos uma cena urbana de uma cidade qualquer, quando então entendemos que o ancião é um símbolo do passado, fixado num quadro. No encarte, numa tipografia específica, lemos a letra de “Stairway to Heaven”, um dos principais grimórdios do Led. Ao lado do texto, um homem de cartola lê um livro. O eremita com uma lanterna na parte interna da capa é um símbolo enigmático que reaviva a imagem de Jimmy Page em “The Song Remais the Same”, o filme. Jimmy, o feiticeiro mais famoso da música mundial, que idolatrava outro bruxo, Aleister Crowley. Será que ele saberia de algo que não sabemos? 

Saiba mais sobre o álbum Led Zeppelin IV

Eu cresci sovando a capa do álbum Led Zeppelin IV. Eu e milhões de fãs do grupo inglês.  O fato é que 52 anos depois de seu lançamento, um dos mistérios dessa composição icônica da cultura pop e do rock and roll finalmente foi resolvido: o velho barbudo e curvado da capa foi reconhecido. Seu nome é Lot Long, de 69 anos, um trabalhador rural que cobria telhados com palha no sudoeste da Inglaterra, isso na década de 1890, mais propriamente na cidade de Wiltshire.

| Lot Long, fotografado por Ernest Howard Farmer em1892, mais propriamente na cidade de Wiltshire, sudoeste da Inglaterra |
Jimmy Page e Robert Plant não tinham ideia de quem era aquele homem quando encontraram uma cópia colorida da imagem numa loja de antiguidades em Pangbourne, nos arredores de Londres, no início da década de 1970. A história da identificação da foto foi revelada em uma matéria do New York Times escrita pela correspondente do jornal em Londres, Claire Moses. A revelação acontece exatamente 52 anos do lançamento do álbum em 8 de novembro de 1971, que muitos consideram a obra-prima do Zeppelin. O capítulo mais recente da história começa com Brian Edwards, um pesquisador ligado à University of the West da Inglaterra que estava “vasculhando a Internet em busca de novos lançamentos em casas de leilão que pudessem ser interessantes para sua pesquisa". Enquanto navegava na web, Edwards encontrou um álbum de fotos vitoriano de paisagens e casas. Folheando, o pesquisador se deparou com algo que viu pela primeira vez quando comprou o LP Led Zeppelin IV no ano em que foi lançado.

“Havia algo familiar naquela imagem", disse Edwards ao Times. Então, ligou para a esposa – para se certificar que não estava equivocado, diz ele – e concluiu que sim, a foto era do homem da capa do Led, embora fosse uma versão em preto e branco, em oposição à foto colorizada utilizada no invólucro do LP (às vezes erroneamente considerado uma pintura). Dias depois, Edwards foi ao Museu de Wiltshire, onde o álbum estava em leilão. Edwards, que foi curador de uma exposição no museu em 2021, soube que o material intitulado de "Reminiscences of a visit to Shaftesbury", era obra de um homem chamado Ernest Howard Farmer (1856-1944), um fotógrafo de 25 anos que havia tirado, compilado e inscrito o álbum de fotos em algum momento durante a Era Vitoriana. O objetivo da coletânea? Presentear uma de suas tias. Edwards teoriza que o fotógrafo, que também ensinava fotografia, usou uma impressão em preto e branco da imagem para orientar seus alunos a como colorir fotos. A impressão comprada por Page and Plant aparentemente já foi perdida há muito tempo. 

Quanto à resolução do mistério, Edwards disse ao Times: “Tive muita sorte".

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