Sábado (12): Guinga faz show no Recanto Maestro

| Guinga. Foto: Manfred Pollert | 

| Por Márcio Grings Colaborou Marcos Marcos Kröning Corrêa

Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar, o Guinga, músico carioca de 73 anos, já atuou como violonista de vários artistas renomados: Clara Nunes, Beth Carvalho, Alaíde Costa e João Nogueira são alguns deles. Guinga é o músico responsável pela introdução de "O Mundo é um moinho", um dos clássicos de Cartola. Teve várias de suas composições gravadas por artistas como Elis Regina, Cauby Peixoto, Michel Legrand, Sérgio Mendes, Chico Buarque, Ivan Lins, Leila Pinheiro e Ronnie Von. No álbum "Catavento e Girassol" (1996), de Leila Pinheiro, e "Corpo de Baile", de Mônica Salmaso, ele compôs todas as músicas. Ainda como compositor, teve como parceiros musicais poetas maiúsculos como Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc e Chico Buarque. 

Celebrado como uma das lendas vivas do violão brasileiro, hoje é também reconhecido pelas letras que escreve letras e canta: "Eu não sou letrista. Verbalizo o que sinto com a música e uso a letra como fio condutor", disse ao Memorabilia. Seu último álbum solo, "Zaboio" (2021), ganhou uma edição em vinil com tiragem limitada de 400 cópias. O disco é um triunfo, ouça AQUI.  

A boa nova é que Guinga retorna ao Centro do RS no próximo dia 12 de agosto, sábado, com show agendado para às 20h. O artista estará na sede da Bell'Anima, no Recanto Maestro (situado a 30 km de Santa Maria), lembrando clássicos de suas mais de quatro décadas de carreira. O sarau inaugura a série Bell'Anima Essencial, formato que celebra a troca essencial entre artista e público. Para garantir isso, a lotação da sala de apresentação foi limitada, oferecendo uma qualidade sonora de excelência e um ambiente de intimidade para que o músico compartilhe histórias da infância e das suas parcerias, além da convivência com Cartola, Francis Hime e Mônica Salmaso. 

Os ingressos para a apresentação, no valor de R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada), podem ser adquiridos antecipadamente pelo Sympla. No dia do evento, haverá venda no local, a partir das 19h. "Eu não sei fazer show. Não uso roteiro. Vou fazer apenas o que eu gosto e me dá prazer. Esse encontro com o público é uma troca", disse Guinga ao Memorabilia, uma relato com a marca de sua humildade, um dos seus selos com artista.      

O local de apresentação — a sede do Recanto Maestro — é familiar a Guinga. Em maio de 2016, foi lá que o músico carioca gravou o álbum "Vagner Cunha convida Guinga - Depois do Sonho", ao lado da Camerata Ontoarte: "O Recanto é um lugar onde me sinto muito a vontade", diz. Em 2020, em plena pandemia, ele ainda estrelou uma das edições dos Saraus Bell'Anima, na companhia do violino de Vagner Cunha.

Veja!

Nessa nova passagem pelo Rio Grande do Sul, Guinga também desembarcará em Porto Alegre para gravar um álbum ao lado do acordeonista Bebê Kramer, no Estúdio Transcendental. O lançamento virtual do álbum ocorrerá ainda em 2023, pelo selo Bell'Anima Produções.

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O Memorabilia conversou rapidamente com o violonista por telefone. Guinga, ainda se recuperava do fuso horário, isso após ter voltado de uma viagem a Irlanda. O músico e Professor da UFSM, Marcos Marcos Kröning Corrêa, colaborou na entrevista (Leia review do novo álbum do violonista santa-mariense).

Memorabilia | Como nasceu essa colaboração com Vagner Cunha e o Bell'Anima, não é a primeira vez que você passa por aqui? 

Conheci o Vagner no final dos anos 1990, quando participamos juntos de um concerto em Porto Alegre (Com a Orquestra da Unisinos). Quanto ao Recanto, já estive outras vezes lá, onde ainda conheci o Cláudio (Cláudio Carrara, proprietário do Bell'Anima), a casa dele, um lugar onde me sinto muito a vontade. Inclusive já gravei lá, e é um  prazer retornar ao convívio entre amigos.     

Marcos Kröning | Eu tenho comigo os discos "Cheio de Dedos", "Suite Leopoldina", "Cine Baronesa" e "Noturno Copacabana", todos pelo Selo Velas. Destes o "Cheio de Dedos" é um dos meus discos de cabeceira, fundamental para meu dia a dia, que me acompanha em viagens e outras incursões. Como tu vês esse mercado hoje? E como tu tens percebido o momento atual do lançamento e divulgação de discos, cada vez voltada ao formato digital, através das plataformas? 

Fico feliz em inspirar outros instrumentistas. Quanto ao mercado, ele acabou, digo na forma que conhecíamos, que não existe mais. Eu nem sei como as coisas funcionam hoje, sinceramente, me preocupo apenas com a arte, com a música — a parte que me compete — e me realiza como artista e ser humano.   

Marcos Kröning | E é possível ter algum retorno financeiro nesse formato digital?  

Ganho muito pouco. Inclusive, acabo de lançar um disco em vinil ("Zaboio", onde pela primeira vez todas as faixas, letras e melodias, têm a sua assinatura). Legal essa volta dos discos, as pessoas voltarem a comprar LPs, mas acho muito caro, não é algo acessível e popular. E quanto ao mundo de hoje, não é justo para os músicos, pois realmente ganho quase nada nesse formato digital.   

Memorabilia | Tu já compôs com nomes Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro, entre tantos outros artistas e letristas. Como nasceu o Guinga letrista de "Zaboio" (2021), um dos teus álbuns mais recentes?

O Aldir foi um homem que lutou muito por mim. Aprendi muito com ele, sou muito grato a todos os compositores talentosos com quem trabalhei, foram tantos. Eu não sou letrista, sou um escritor circunstancial, verbalizo o que sinto com a música e uso a letra como fio condutor. Não sou um literato, um poeta, mas eu falo de mim, isso eu posso fazer, pois eu me conheço.          

Marcos Kröning | És um compositor reconhecido pela excelência musical por muitos artistas que tem gravado tuas músicas, do Brasil e de outros países, bem como por escritores e críticos como Mário Marques, Sérgio Cabral e tantos outros. Na tua opinião, o que falta para que tua música chegue a mais e mais pessoas? 

Eu sou um compositor que nunca fez um grande sucesso comercial, nunca fui um grande vendedor de discos ou algo assim. Minhas músicas não tocam nas rádios comerciais. O que me importa, agora, aos 73 anos, é me encontrar com meus amigos e continuar fazendo música.    

Marcos Kröning | Tenho usado, sempre, para mim e para meus alunos aqui da UFSM, o songbook "A música de Guinga", editado inicialmente em 2003 pela Editora Gryphus, com tantas pérolas, como "Dá o Pé, Loro", "Igreja da Penha", "Nó na Garganta", "Di Menor", e tantas outras mais. Como tu vês hoje a edição das partituras como elemento para a propagação da tua música para cada vez mais músicos, e por extensão, para outros públicos? 

Acho importantíssimo. É o papel, é a forma mais antiga de se aprender e se aperfeiçoar na música. Muitos se aperfeiçoaram assim, estudando partituras. Fico feliz em saber que minha obra circula no ambiente acadêmico.   

Memorabilia | E o que as pessoas vão encontra no próximo sábado no Bell'Anima Essencial? Qual a diferença de um show para essa modalidade de evento? E mais: o que ainda te motiva como um artista que já realizou tanto, seja como colaborador ou protagonista de diversos trabalhos, o que te inspira a continuar compondo, gravando e se apresentando?

Eu não sei fazer show. Não uso roteiro. Vou fazer apenas o que eu gosto e me dá prazer. Esse encontro com o público é uma troca. Não há diferença entre eu e você, somos todos iguais. Veja bem, eu joguei fora todos os meus prêmios. Para mim era tudo apenas plástico e metal. Também não tenho mais recortes das reportagens que fizeram comigo. Tinha pilhas delas. Hoje até me arrependo, poderia ter deixado essas coisas com minhas filhas, talvez fosse importante para elas guardarem tudo isso como recordações do pai. Não sou vaidoso, não gosto de vaidade e detesto pessoas vaidosas | Guinga faz um longo monólogo onde relata sua ojeriza pelos artistas ególatras que conheceuQuero apenas continuar vivendo,  poder jogar bola com meus amigos, ter saúde e trabalho para continuar fazendo música e poder viajar pelo mundo tocando meu violão.              

SERVIÇO

Guinga | Bell'Anima Essencial

Dia 12 de agosto, sábado, às 20h

Sede da Bell’Anima (Rua Oniotan, S/N – Recanto Maestro – São João do Polêsine/RS)

Ingressos

R$ 200,00 (inteiro) e R$ 100,00 (meia-entrada)

Pontos de venda

Online, pelo Sympla ou na sede da Bell’Anima (Rua Oniotan, S/N – Recanto Maestro – São João do Polêsine): somente no dia do evento, a partir das 19h (pagamentos por pix ou nos cartões de crédito e débito).

|  Foto: Manfred Pollert | 

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