Quarta-Feira (9): Marcos Kröning Corrêa lança novo álbum no Theatro Treze Maio

| Foto: Patricio Orozco-Contreras |
| Por Márcio Grings |

Nesse mundo de inúmeras possibilidades, cada um de nós possuiu uma espécie de microteia. No meu radar particular (e provavelmente no seu), eventualmente a malha fina deixa passar algo afinado com nosso círculo de interesse — dependendo da eficiência das redes de cada um — e, assim, muitas vezes, descobrimos que perdemos algum evento específico por mero desconhecimento. Este post bate dessa tecla e conclama os amantes da música instrumental e, principalmente, é destinado para quem gosta de violão. 

Nesta quarta-feira (9), às 20h, no Theatro Treze de Maio, acompanhado apenas de seus violões, Marcos Kröning Corrêa faz um recital inédito em Santa Maria. Ana Macedo está na cenografia e Patricio Orozco-Contreras conduz a direção de áudio/ vídeo. O evento tem financiamento da Prefeitura de Santa Maria, Secretaria Municipal da Cultura e Theatro Treze de Maio, aprovado no edital ‘Ocupa Treze’. O álbum também ganhará lançamento em Porto Alegre, no próximo dia 19, com apresentação no Salão de Atos do Instituto de Artes da UFRGS. O show integra a programação do Festival de Violão da UFRGS, coordenado por Daniel Wolff.   

Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro (R$ 30 | público geral; R$ 15 meia-entrada).  

Divulgação MK

Doutor em Estudos em Performance pela Universidade de Aveiro, Portugal, como músico, além de várias cidades do Brasil, apresentou recitais nos Estados Unidos, Portugal e França. Professor na UFSM nos Cursos de Bacharelado e Licenciatura e Coordenador da PG Especialização: Músicas dos Séculos XX e XXI – Performance e Pedagogia (2018-2023), Marcos Kröning Corrêa também compõe e grava discos. "Criações e Recriações" contém 10 músicas registradas com técnica de som de Cassiano Hathke — durante a pandemia, em quatro tardes em maio de 2021 — no palco do Centro de convenções da UFSM, sob os auspícios da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade. A mixagem e a masterização tem a assinatura de Patrício Orozco-Contreras

No show de lançamento em Santa Maria o músico utilizará violões de 6 e 7 cordas com afinações ambíguas, trazendo um setlist com mesclas de seus álbuns anteriores — "A Caminho do Meio" (2004) e "Violões" (2008) (ouça-os AQUI), mas tendo como destaque os temas do CD mais recente. Para quem folheou o encarte de "Criações e Recriações" (com arte assinada por Roberto Gerhardt), fica fácil perceber o cuidado e a paixão do protagonista com sua obra. O autor dedica cada faixa a um amigo ou instrumentista, em textos que trazem relatos e peculiaridades envolvendo as composições. Além de releituras de Johann Sebastian Bach, "Allemande BWV 996", e Dilermando Reis, "Xodó da Baiana", Marcos Kröning Corrêa coloca no mundo 6 faixas inéditas e, "em busca da batida perfeita", relê "Helios" e "Sr. De Si Sr. De Mim", músicas autoriais de seu álbum de estreia.   

"Este CD diz respeito às necessidades de criação e recriação inerentes ao fazer musical em minha trajetória artística, compreendendo o período de quatro anos vivido em Portugal e o período de retorno aos trabalhos na Universidade Federal de Santa Maria", escreveu.

"Criações e Recriações" propõe ao ouvinte uma jornada além da ambiência solitária de um violão, pois há muitas cores e esboços cinematográficos disparados pelo dedilhar de Marcos Kröning Corrêa. O ouvinte mais atento irá perceber que o fio condutor que perpassa as faixas, sem uma aparente linha temática, poliniza a digital do violinista, repleta de propositais oscilações de andamento e harmonias sinistras. Entre os destaques, a série "Iluminuras" (1, 3 e 4), distribui uma linguagem alinhada a aridez melancólica de Ry Cooder em "Paris, Texas", longa de Win Wenders que se tornou um dos cult movies do cineasta alemão. Entre pausas, viradas e silêncios, é possível visualizar o cruzamento de muitos estilos e referências, artifícios desdobrados pelo fogo cruzado das afinações, temperado com muita originalidade.    

| Foto: Patricio Orozco-Contreras |

Em "Allemande BWV 996", afora a reverência explícita a Bach, o violonista homenageia o compositor italiano Ennio Morricone, citando um breve trecho da trilha-sonora de "Cinema Paradiso" (1988), de Giuseppe Tornatore. Ainda na linguagem filmática, "Em Tempo" é provocativa, pois aqui há fusões onde um bordão milongueiro pode se misturar a linguagem country & western, revelando a potência de suas composições e o universo que elas abarcam.   

"Criações e Recriações" é um disco para iniciantes e iniciados, uma obra alquímica em suas combinações eruditas, jazzística, regionais etc, aquele tipo de criação envernizada pela maturidade, pois aos 58 anos, Marcos Kröning Corrêa coloca no mundo um disco com capacidade de circular em qualquer território artístico. E isso não é pouca coisa.

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