Tom Fogerty, o Fogerty esquecido e o fim do Creedence
| Por Márcio Grings |
Veja a live sobre Tom Fogerty e o fim do CCR no canal de Daniella Zupo
Sem dúvida: a saída de Tom deixou um enorme buraco na banda, tanto que após "Mardi Grass" (1971), o trio remanescente resolveu encerrar às atividades, há 50 anos, em julho de 1972. Mas por quê? Hoje, o teste do tempo nos dá a sobriedade de constatar que o timbre vocal dos irmãos é muito parecido, assim como as canções de Tom, ouvidas posteriormente em seus discos solo, não destoam dos temas do Creedence. Como guitarrista, John era mais talentoso do que o irmão mais velho, contudo, Tom fornecia a sólida base para o que ouvimos nos seis álbuns gravados pelo CCR.
A ASCENÇÃO DO CCR
Quatro anos mais velho (9/11/1941) que o caçula (26/6/1945), foi Tom que introduziu o mais jovem dos Fogerty no universo musical. Quando começaram, John, Stu e Doug tinham em torno de 14/15 anos, e Tom 18/19. Isso explica a liderança inicial do irmão mais velho. O quarteto nasceu como Tommy Fogerty and the Blue Velvets, em 1959, quando os amigos de escola John Fogerty (guitarra), Stu Cook (baixo) e Doug Clifford (bateria) se apresentavam com Tom (ou Tommy) como vocalista. Tempos depois se tornaram The Visions, The Golliwogs, e só em 1967 eles seriam conhecidos como Creedence Clearwater Revival.
Leia também: John Fogerty, um excelente professor
Ao gravarem o primeiro disco em 1968, no álbum autointitulado que apresenta o CCR — John, Stu e Doug tinham em torno de 23/24, e Tom 27/28. Nesse LP, os irmãos compuseram uma única canção juntos, "Walk on the Water", tema que fecha o disco de estreia da banda. Já no ano seguinte, com John assumindo a liderança e compondo todas as canções, colocaram no mundo três álbuns — “Bayou Country”, “Green River” e “Willie and the Poor Boys” — três trabalhos em apenas um ano, ainda hoje um feito notável. Assim o CCR se tornou um fenômeno das massas naqueles últimos dias dos anos 1960.
A CHEGADA AO TOPO
Com esse início arrasador, enfileirando um álbum atrás do outro, uma enquete entre os leitores da revista Rolling Stone os elegeu — com justiça — como a grande banda norte-americana daquela virada de década, mesmo ano que eles foram um dos destaques no Festival de Woodstock. A chegada ao topo está eternizada em “The Concert”, registro de um show realizado em 31 de janeiro de 1970 no Oakland Coliseum (lançado em CD só em 1980), além do concerto em 13 de maio de 1970, no Madison Square Garden em Nova Iorque, que se tornou um audiovisual bem conhecido entre os fãs. Ainda nesse ano, “Cosmos Factory”, em julho, e “Pendulum”, em dezembro, só ajudaram a manter o grupo dos irmãos Fogerty como um dos mais populares naquele início de anos 1970.
O INÍCIO DO FIM
Após lançarem cinco álbuns em dois anos, eles fizeram uma pausa
de um ano e quatro meses, pois quando “Mardi Grass” saiu em abril de 1972, o
Creedence lançaria o que seria seu último álbum, e sem Tom, que deixou a banda um ano antes, em fevereiro de 1971. Foi quando o mundo percebeu que haviam estranhezas e conflitos entre eles.
Hoje sabe-se que, por questões contratuais, John não
concordava com a divisão dos lucros. Brigou com Doug, Tom e Stu, e
ainda bateu de frente com Saul Zaentz, chefão da Fantasy, selo que detém o
catálogo do CCR até hoje, e que também participava da divisão dos imensos lucros gerados pelas vendagens de singles e LPS. John queria manter o controle total e receber a maior parte dos royalties, merecedor dessa posição (na visão dele), pois produzia, compunha todas as canções, cantava e liderava o Creedence Clearwater Revival.
A SAÍDA DE TOM FOGERTY
E quais foram os motivos da saída de Tom Fogerty? Penso que foram dois — o primeiro deles — Tom tinha as suas canções, e não encontrava espaço para colocá-las nos álbuns do grupo. Isso o amargurava, pois John não apenas ganhou status de autoproduzir o grupo, como também cravava na tracklist dos álbuns apenas suas composições. Com o sucesso da banda, Doug e Stu também queriam não apenas gravar suas criações, mas ainda cantá-las. Foi o que aconteceu em “Mardi Grass”, o derradeiro LP do Creedence, que após a saída de Tom, trouxe um líder contrariado em aceitar a incursão de canções de seus companheiros. Assim, apenas seis meses após “Mardi Grass”, uma coisa puxou a outra, e o fim estava decretado. Um reencontro quase aconteceu em 1975, mas novamente as divisões de royalties não permitiram a reconciliação, pois outra vez houve desentendimentos. Ainda ocorreria uma segunda tentativa frustrada, no casamento de Tom, em 1980.
TOM SOLO
Após a saída de Tom Fogerty do Creedence, ele lançou um single curioso, “Goodbye Media Man”, em 45 RPM e a lá "What I'd Say", pois o tema toma conta de ambos os lados do compacto e virou um minidoc de 10 minutos. No Top 100 da Billboard, a música ficou na posição 103º, mas virou um hit em outras partes do mundo, chegando ao Top 20 das paradas argentinas! Mas havia mais, pois em apenas dois anos, quatro LPs revelariam que a tirania de John privou o Creedence de ótimas canções. Basta ouvir as faixas de "Tom Fogerty" (1972), "Excalibur" (1972), "Zephyr National" (1974), "Myopia" (1974), obras comprovativas do quilate de suas composições, mas também de suas limitações como guitarrista.
O epônimo álbum de estreia ganhou resenhas positivas nas revistas Rolling Stone e Billboard, mas não emplacou nas paradas. 50 anos depois, ao ouvirmos esse mesmo LP com atenção, fica fácil perceber que temos um ótimo disco girando no toca-discos. Canções como "Lady of Fatima", "Wondering", "Train to Nowhere" e principalmente "Cast the First Stone" poderiam tranquilamente ter figurado em um álbum de sua ex-banda. Uma das críticas sofridas por Tom nessa estreia passa por sua ineficiência como instrumentista solo, tanto que estamos falando de um álbum sem virtuosismos de guitarra. Essa dificuldade seria solucionada no disco seguinte, "Excalibur", para muitos seu maior êxito fora do CCR, pois Tom recrutou para a guitarra líder Jerry Garcia, do Grateful Dead. "Faces, Places, People", "Sick and Tired" e "Forty Years" são atestados do quilate alcançado por Tom nessa segunda estocada. O álbum ainda trazia no time Merl Saunders, organista ao qual Tom e Jerry haviam caído na estrada meses antes, reunião que forjou preciosas parcerias entre ambos, entre elas um álbum gravado ao vivo.
No álbum seguinte, "Myopia", Doug e Stu permanecem como músicos de apoio, mas dessa vez John não participa. "What Did I Know" e "Showdown" estão entre os bons momentos, mas aos 33 anos, Tom Fogerty já era um homem cansado. Em comparação ao sucesso alcançado pelo CCR, seus discos solos não causaram o barulho esperado, principalmente pela visão da Fantasy, sua gravadora. Assim , no final de 1974, Tom Fogerty teria o contrato fonográfico rescindido.
OS ANOS FINAIS DE TOM.
Como resgate da obra solo de Tom Fogerty, montei uma playlist que traz diversos momentos iluminados de sua carreira solo, o que revela a qualidade de muitas de suas canções (1972-1981). Nas próximas semanas falarei do outro Fogerty, John, e de sua carreira solo, que apesar das expectativas também não obteve o memo sucesso da banda que o tornou uma lenda.
Salve, Tom!
Gostei muito do artigo. Agora estou ouvindo a playlist. Parabéns!!!
ResponderExcluirgostei muito.
ExcluirClaramente John C.Fogerty, fué CCR, los otros 3 totalmente REEMPLAZABLES, John era demasiado bueno como músico,compositor,una voz extraordinaria, la banda se acabó porque con 6 álbumes exitosisimos era suficiente,yo hablo musicalmente,que después se manejo mal John con los derechos de sus canciones y el catálogo ya no era de él...ok,pero eso no tiene nada que ver con lo virtuoso en todos los aspectos que es JOHN C. FOGERTY, su hermano era uno más del montón, igual que los otros dos.
ExcluirJuntos somos melhores que separados. E o que se vê.
ResponderExcluirFaltou sabedoria até no enterro do irmão. Não precisava ser/terminar assim.
Faltou sabedoria...inteligencia em administrar a banda...pura imaturidade.
ResponderExcluirFicou claro que quando Deus abençoa juntos, separados pelo egoísmo e ganancia do Jhon Forgeti acabou estragando um grupo que era um dos mais famosos que existiu na época. John acabou no ostracismo por querer ser o líder egoísta O que Deus lhe deu já era o suficiente e ele não percebeu. Ao seu irmão Tom eu lhe agradeço pela sua humildade, bondade e respeito ao próximo. Adeus Tom Deus está contigo.
ResponderExcluirMuito bom, o Creedence permanece no seu som simgular e magnífico, obrigado pela matéria.
ResponderExcluir