Review: Gabriel Braga Nunes - O Amador

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Por Márcio Grings

Mesmo como artista reconhecido na dramaturgia brasileira, o que muitos talvez não saibam, é que o rock nunca deixou de pulsar nas veias do ator paulista Gabriel Braga Nunes. Seja na juventude, quando chegou a montar alguns projetos musicais, até os dias atuais, período em que o artista ressurge musicalmente com o espetáculo O AMADOR, inspirado em sonetos de William Shakespeare, e cantado no idioma original do escritor, o inglês.

Saiba mais sobre "O AMADOR" 

Se o combustível literário elisabetano alicerça a massa intelectual das composições, o corpo sonoro sugere uma ligação com o hard rock dos anos 1970. E o recente lançamento virtual do EP de "O AMADOR", amostra que nos apresenta aos 4 primeiros temas dessa empreitada, é uma boa pista que o músico/ator consegue dar liga a seu tão esperado projeto musical. 

Mayer, Oliveira, Gabriel Braga Nunes e Hoffman - a banda de O AMADOR. Foto: arquivo pessoal
Tudo começa com o "Soneto 15", um hard aceso com a carga sonora do melhor do rock encardido feito nos anos 1970.

"Quando penso que tudo o quanto cresce / Só aprisiona a perfeição por um breve instante / Que neste palco é sombra o que aparece /Velado pelo olhar do firmamento".

Musicalmente, se alguém esperava algo num intento mais intimista ou reflexivo, provavelmente ligado ao folk ou a tradição britânica de um som feito para pensar, como o rock progressivo - nada disso -  é o corpo que responde ao primeiro impulso, quando ainda nos instantes iniciais da audição, somos instantaneamente impulsionados a chacoalhar o esqueleto. Já no "Soneto 27", a voz de Gabriel lembra o ritmo falado de algumas das canções de Lou Reed.

"Cansado do trabalho / Corro ao leito para repousar meus membros exaustos de viagem / No entanto, inicia-se uma jornada em minha mente /Depois que todo o movimento do meu corpo cessa"

No "Soneto 75" Gabriel e banda mostram todo o entrosamento do projeto. Seja pela harmonia entre as vozes do protagonista e Lucas Hoffman (baixo), que ao lado de Fernando Oliveira (bateria), promovem o lastro sonoro para o protagonismo e a digital de Leo Mayer (guitarra), a soma de tudo produz um conteúdo que nos motiva a continuar acreditando no rock. O tema ainda conta com participação de Felipe Shoroeder (piano). Do mesmo modo, a missiva do dramaturgo nos revela os reveses e o lado tempestuoso de um relacionamento:

"E eu não tenho nem quero mais delícias / Das que você me dá ou me reserva / Todo dia, me sinto saciado e morro de fome / Eu já me acostumei com você, e assim enfastio".

E no apagar das luzes do EP, o clima de vaudeville do "Soneto 88" é uma promissor encerramento dessa primeira amostra de "O AMADOR".

"Ao te dar vantagem, dou-as em dobro a mim /  Assim é o meu amor, assim a ti pertenço / E, por teu direito, suportarei todo o engano".

O espírito de um bluesman andarilho surge justamente no minuto final, no solo de Mayer, exato momento em que a epifania bate: as letras de Shakespeare não representam apenas a alma de um velho bardo, pois o combustível de sua imaginação parece ainda circular candente entre nós... E por que não o rock'n'roll ou as estradas vicinais do blues para para ilustrar toda essa celeuma promovida pelo amor? 

Ouça o EP.  

     

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