Memórias das aulas (e lutas) do professor Vitor Biasoli

Divulgação Memorabilia
| Por Juarez Fonseca |

Mais uma ótima dica de lançamento da editora Memorabília na 52ª Feira do Livro de Santa Maria, que segue até o próximo domingo: “Histórias escritas com giz”, de Vitor Biasoli. São 32 textos/crônicas “extraídos” dos 15 anos em que ele lecionou no magistério estadual, dando aulas em Porto Alegre e cidades da Região Metropolitana.

Em sua maioria, os professores se identificarão com essas histórias, em que se cruzam os mais diversos sentimentos e surpresas. Mas não só os professores. Separo trecho de uma:

– O que eu ganho aprendendo sobre Napoleão Bonaparte? – me perguntou um rapaz de ensino noturno, na 8ª série, em Canoas.

– Napoleão é fundamental no processo de consolidação do projeto burguês, do Estado liberal e da economia capitalista – eu respondi.

– E o que o mundo burguês capitalista tem a ver comigo? – o aluno rebateu, rindo.

O aluno em questão morava na Vila Mathias Velho, numa área do bairro não atendida por esgoto e onde os traficantes lhe ofereciam serviço no qual ele ganharia o equivalente a um salário-mínimo por pessoa.

Mas como eu disse, as histórias deste professor são bem diversas. Entre outras coisas, por exemplo, envolvem os embates do Cepers por melhores condições de trabalho e salário; as muitas greves e manifestações diante do Palácio Piratini, as promessas não cumpridas por governantes... Os desencantos (o pai de Vitor não queria que ele fosse professor), mas também os encantos da profissão. E não falta bom-humor nas narrativas.

Anoto os títulos de alguns textos que falam por si: Homens de vida amarga, Rua de chão batido, Althusser e a sala de aula, Pedagogia do oprimido, Ainda Paulo Freire, Sindicalismo às vezes atrapalha, Você não soube me amar, Pra que estudar essas coisas?, Tu sabias que não há racismo no Brasil?

Nascido em Pelotas em 1955, Vitor Biasoli transferiu-se com a família para Porto Alegre em 1967. Dez anos depois, formou-se em História pela UFRGS, passando a lecionar em escolas públicas até 1991. Nesse ano tornou-se professor da UFSM, lá permanecendo até a aposentadoria, em 2015. No meio tempo, tornou-se mestre em Letras pela PUCRS (1993) e doutor em História pela USP (2005).

Aposentado, voltou a viver em Porto Alegre e se dedica à literatura, tendo lançado “Paisagem Marinha”, livro de poesia (2020); “Itália, Café e Trilhos”, de memórias (2021) — ambos pela Memorabilia; e o romance “Os Caminhos de Santa Teresa” (2023). “Histórias escritas com giz – Memorias de um professor” tem 126 páginas.



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