Review: Willie Nelson "Last Leaf on the Tree"
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Quando, ainda na década de 1970, Willie Nelson começou a se referir à sua banda de apoio como “A Família”, talvez ele levasse em conta o fato de sua irmã, Bobbie, ser a pianista residente no grupo. Ele também passou a considerar os músicos de estrada como membros da família — e, de fato, a maioria deles ficou com Willie até seus últimos dias, ou ainda está com ele até agora. É o caso do gaitista Mickey Raphael, na estrada como membro da 'família' desde 1973. Contudo, ao decorrer dos anos seus filhos naturalmente passaram a dividir o palco com a turma. Entre eles, Lukas e Micah são os mais presentes. O último álbum de Willie, o 76° de sua carreira, “Last Leaf on the Tree”, acaba de ser lançado. A produção é de Micah Nelson, o caçula, atual integrante do Crazy Horse (guitarra), banda de Neil Young. No novo trabalho, além de diretor musical, Micah toca uma dezena de instrumentos, colabora com vozes de apoio e ainda editou o videoclipe da faixa título — "Esse disco é a declaração de um ser humano autêntico, alguém que talvez nunca mais vejamos em nossas vidas", escreveu Micah em seu Instagram.
Micah e Willie. Foto: Annie Nelson |
Entre as faixas escolhidas em “Last Leaf on the Tree”, Willie continua olhando para novos talentos, pois a versão de “It Wasn’t Broken”, um bonito tema escrito pela jovem cantora de Nashville Sunny War, é a prova dessa sagacidade. Sunny agradeceu a Willie no seu Instagram:
“Willie Nelson fez muito por mim ao longo dos anos. Ele até me
convidou para shows e auxiliou financeiramente durante a Pandemia. Até agora, além de mim, ninguém havia lançado alguma
das minhas músicas. Ouvir Willie cantando If It Wasn't Broken é
a coisa mais doce e maravilhosa que já aconteceu comigo. Eu costumava tocá-la no calçadão de Venice Beach e nunca teria imaginado naquela época
que Willie Nelson a ouviria. Sinto-me grata e inspirada”.
Em “Keep Me Your Heart” (Waren Zevon), ele usa frases musicais roubadas de "Girl From North Country” (Bob Dylan). Ainda há regravações de “Lost Cause” (Beck), “Come Ye” (Nina
Simone), “Do You Realize?” (Flaming Lips) e uma releitura de “Robbed
Blind” (Keith Richards), com participação de John Densmore (percussão), lendário
integrante do The Doors.
"Estou particularmente impressionado porque ele incluiu Robbed Blind no álbum, o que é estranho porque quando eu a
escrevi e a gravei, eu me perguntei o que Willie poderia fazer
com ela. Agora eu sei. Engraçado como as coisas acontecem! A ótima produção de
Micah a mantém na família”, disse Keith Richards.
Quanto as novas canções, há um tema escrito por Micah, “Wheels”, outra dele coescrita com o pai, “Color of Sound”, e “Ghost”, de Willie, essa com o pedal steel de Daniel Lanois (Bob Dylan, U2), produtor de Teatro (1999), um dos melhores álbuns de Nelson naquela década.
O adjetivo <insubstituível> pode ser usado para poucos artistas. Willie Nelson é um dos raros que merece essa insígnia. Extraclasse também é adequado a sua persona. Aos 91 anos, poucos músicos ainda pensam em encarar a estrada e o ritmo de gravações. A sensação ao ouvir "Last Leaf on the Tree" é de que Willie sabe que a festa finalmente acabou, mas a música ainda não parou dentro dele. A aridez profunda das letras é potencializada pela voz envelhecida e estragada do eterno herói do country, assim como o minimalismo da produção de Micah deixa espaços vazios adequados aos arranjos. Como chuva no deserto após um período de secas ou como a visão de uma improvável flor do campo brotando no concreto, o velho cantor do Texas continua a nos surpreender.
Veja o clipe da faixa-título.
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