As multidões na música de Bob Dylan
Divulgação Editora Zain |
| Por Márcio Grings |
Aos 79 anos, Greil Marcus continua sendo uma das vozes mais lúcidas e confiáveis do jornalismo musical norte-americano. Como resenhista e ensaísta — desde os anos 1960/ 70 — vem publicando suas visões em revistas como Creem, The Village Voice, Artforum e principalmente pela Rolling Stone. Considerado um dos grandes pensadores do jornalismo musical, ele ganhou notabilidade tanto pela atuação acadêmica — ele ministra cursos de pós-graduação em Estudos Americanos da Universidade da Califórnia, em Berkeley — quanto pela literatura do rock, reposicionando o gênero num espectro mais amplo, fazendo constextualizações políticas e históricas, ampliando a experiência cultural dos apreciadores do música. Individualmente, entre as obras mais notórias assinadas por ele, o livro "Mistery Train" (1975) foi considerado pela revista Time uma das 100 melhores obras de não-ficção do Século XX.
Ilustração da capa: Talita Hoffmann |
Assim como "A Balada de Bob Dylan" (2012), de Daniel Mark Epstein, que tem como mote falar da biografia de Dylan pela perspectiva de quatro shows assistidos pelo autor, o novo livro de Marcus mantém uma linhagem semelhante, mas embaralha ainda mais as cartas, pois, sem ordem cronológica, fala de sete canções e abre muitas janelas para o leitor. Marcus vê Dylan como um dos grandes no vernáculo mais original da tradição da música folk e, na visão do jornalista, desse modo forjou um songbook próprio e criou um estilo. Com isso, trouxe sua música para o século XXI, ora ou outra ainda falando de preocupações sociais e políticas.
Greil Marcus. Fonte: chronicle.com/ |
Contrariando a letra de "Ain't Talking" em que Dylan (esse mentiroso contumaz) nos diz — "I'll burn that bridge before you can cross (Vou derrubar aquela ponte antes que você possa atravessar" — o livro de Greil Marcus nos prova o contrário do que foi dito, pois tudo que Bob faz com sua música é justamente construir imensas pontes que nos levam de volta ao passado e ao não-tempo. Ao embarcarmos nessa viagem sonora somos içados direto para o melhor do folk e da música norte-americana do Século XX, um lugar onde as boas canções ainda sobrevivem, frutificadas direto da Árvore da Vida. E, quando chegamos nesse Éden artístico, multidões nos aguardam.
Veja a live falando sobre o livro no Canal Pitadas do Sal.
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