Review: Hurricanes
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| Arte da capa: Julia Danesi / Divulgaçao | |
Fazer rock e viver de música no Brasil é um ato de idealismo e coragem. Você sabe que vai passar por perrengues, está ciente de que não haverá balaclavas para protegê-lo das chamas, de todo o modo, o ímpeto de seguir em frente simplesmente o empurra. Foi assim que em 2016 Rodrigo Cezimbra (voz) e Leo Mayer (guitarra) saíram de Santa Maria rumo a São Paulo. Eles tinham um brasão: Hurricanes, banda que fundaram no interior do RS, dispostos a levar esse mesmo emblema como símbolo de sua diligência pelo centro do país. Na capital paulista se juntaram a Henrique Cezarino (baixo) e Guilherme Moraes (bateria, que gravou o trabalho, mas foi sucedido Lucas Leão).
Hurricanes se apresenta em Santa Maria no Auditório da Cesma. Saiba mais
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Arte sobre foto de Julia Danesi por Diego De Grandi |
Nessa trajetória, um dos picos na carreira da Hurricanes se deu em março do ano passado, quando fez as preliminares para a segunda passagem dos Black Crowes pelo Brasil, com show único em São Paulo. A banda norte-americana, uma das legendas do hard rock mundial, é uma das referências do gênero na atualidade. Essa participação rendeu ao quarteto brasileiro uma série de matérias em sites especializados que consequentemente propagaram o autointitulado álbum de estreia lançado três meses após o evento.
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Divulgação |
Com sua mensagem positivista da vida que se renova após períodos nebulosos: "Waiting for the sun/ Waiting for the rainbow/ Waiting for my love", WAITING tem o carimbo do hard rock revival dos anos 1990, em outra parceria da dupla Cezimbra/Mayer com colaboração da cantora Julia Danesi (que também assina a arte da capa). A guitarra slide brilha em HOW DO YOU LOVE?, numa levada glam chumbo-grosso. No solo a música se pacifica, para novamente pesar a mão na parte seguinte. Daí caimos num buraco escuro, voltando no tempo até chegarmos ao coda mais blues do álbum, com direito a voz-reverber-de-lata e harmônica com cheiro de válvula, numa sonoridade que emula os antigos bluesman.
FLOWERS é a grande balada dessa estreia, início só voz e violão, chamuscada pelo country e salpicada pelo southern, tornando-a uma faixa passível de figurar em qualquer rádio rock do planeta. WEARY HEARTED BLUES é etérea, climática, com o baixo de Henrique Cezarino soando borbulhante e gelatinoso, tudo em plena comunhão com a guitarra sombreada pelas blue notes. E, se bandas como Greta Van Fleet e Rival Sons são celebradas como deflagradoras de uma nova onda de classic rock 70, coloque PURPLE CLOUDS e a Hurricanes nesse mesmo pote, pois se você não soubesse que trata-se de um grupo brasileiro nesse páreo (sem a ajuda do photo finish), possivelmente você cairia do cavalo em qualquer jogo de adivinhação.
Veja o clipe de "Purple's Cloud".
Para muitos, por escrever canções em inglês, pode parecer ilegítimo fazer rock no Brasil e mirar na 'gringa' (ou soar como tal), como se isso fosse um simples arremedo ou apenas uma utopia estúpida. A Hurricanes parece não se importar com impressões rasas como essa, pois sua inegável qualidade musical está resenhada por eles com extrema clareza em uma estreia impecável e sem deslizes, onde eles passam o rodo em toda e qualquer torcida de nariz. Ao apostar suas fichas na profunda herança anglo-americana produzida na conjunção dos anos 1960/70, o grupo brasileiro nos oferece uma ponte-aérea sem escalas até um dos períodos mais mágicos da música mundial. O rock and roll agradece.
Ouça uma prévia no player ou o álbum completo no link.
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