Bob Dylan - A Filosofia da Música Moderna

| Por
Márcio Grings |

Se você gosta de música, curte ouvir histórias e aprecia análises alegóricas e poéticas sobre o universo artístico, "A Filosofia da Música Moderna" de Bob Dylan lhe entrega tudo isso de sobra, mas cuidado: não se trata apenas de um livro, a experiência de lê-lo nos leva além. Quando você gira a tramela dessa Caixa de Pandora, um mundo de coisas surgem na sua frente. Estou lendo pela segunda vez, e continuo me deliciando nessa nova cruzada pelas páginas  do livro. 

"A Filosofia da Canção Moderna é o resultado de um trabalho iniciado em 2010, no qual Bob Dylan expõe a sua perspectiva da natureza da música popular. Escritos numa prosa única, os ensaios focam-se em canções de outros artistas, desde Stephen Foster a Elvis Costello, ou de Hank Williams a Nina Simone", nos avisa o release. "O título, A Filosofia da Canção Moderna, em tradução livre, é bem acadêmico, bem o que se espera de um ganhador do prêmio Nobel de literatura. O conteúdo, no entanto, passa longe do Nobel e da academia", disse Celso Loureiro Chaves em sua resenha no site da Gaúcha ZH (leia AQUI). O que o colunista não sabe, por total desconhecimento da obra de Dylan, é que o título não passa de uma ironia.  

Na foto da capa estão Little Richard, Alis Lesley e Eddie Cochran, uma pista de que o livro não trata sobre o mundo de hoje, pelo contrário, ele recupera dias gloriosos. A publicação ainda traz mais de uma centena de imagens que nos auxiliam nessa jornada. Dylan escreve bem, vai fundo nas suas memórias, faz inúmeras conexões, é divertido em suas narrativas, abre a cabeça do leitor/ouvinte através de um olhar profundo sobre a complexidade do universo musical. Reconta fatos históricos, abre inúmeras janelas e nos relembra de como esse cenário já foi mais profícuo e repleto de riquezas. Não há desperdício em suas histórias, ele fala de canções pertencentes a árvore da vida, nos convencendo de que esses temas são pertencentes ao próprio microcosmo de todos nós. Traições, desejos, conquistas, alegrias e tristezas, não interessam de onde elas venham, toda música fala da natureza humana, traduz nossos dilemas e contradições.

Bob Dylan dá aula, apresenta aos leitores um manual de escrita sobre música sem frescuras, com perícia de boleiro, de quem saca do cortado e narra sua paixão com uma categoria invejável. Em suma, o velho fala sobre aquilo que o alimentou e ainda o faz sobreviver: música de verdade e, desse modo, nos entrega o tíquete premiado para viajar no tempo. 

Editado no Brasil pela Companhia das Letras, a tradução de Bruna Beber e Julia Debasse não diminui a obra por aqui, pois as meninas acertaram a mão e mantiveram na língua portuguesa várias das sacadas de Bob. 

Uma delícia ☆☆☆☆☆

Em tempo: fiz uma playlist no meu perfil no Spotify, lá estão as 66 músicas resenhadas pelo autor. Leia com a playlist em curso. Satisfação garantida.

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