Review: Festival Turá, 18 e 19 novembro em Porto Alegre

| Foto: André Feltes |
| Por Lúcio Brancato Fotos André Feltes |

Não é de hoje que os grandes festivais de música no Brasil e no mundo procuram — cada vez mais — trazer uma grande diversidade musical para o público, a mistura de gêneros musicais já está entendida e muito bem absorvida pelo público. Cabe a cada um a escolha do seu roteiro de acordo com o que gosta. Os festivais se transformaram numa imensa playlist espelhando as novas formas de consumir música, o que reflete diretamente na maneira como são montados os lineups.

| Foto: André Feltes |

O Festival Turá não seria diferente, entrega exatamente o que o próprio jogo com a palavra “misTura” propõe: apresentar toda a pluralidade cultural brasileira. O evento conseguiu unir nos dois dias atrações que contemplam a nova faceta da música brasileira, junto a ícones que ainda sustentam os pilares da nossa formação musical. Podemos facilmente afirmar que tivemos pelo menos três gerações de público. Alceu Valença e Caetano Veloso percorrem desde o final dos anos 1960 e começo dos 1970 cada renovação, mantendo-se intactos para todos espectadores. Pitty, Fresno e Papas da Língua, trazem as referências para a turma dos anos 1990 e começo dos 2000. Jup do Bairro, Emicida, Marina Sena, Duda Beat e Baco Exu do Blues, representam a nova música popular contemporânea, que por si só não deixa de ser um resultado que mescla elementos do passado e do presente apontando para um futuro cada vez mais heterogêneo.

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Apesar da forte chuva que caiu em Porto Alegre desde sexta-feira, o sábado, que amanheceu ainda chuvoso, o tempo aos poucos foi limpando num timing perfeito para a realização do evento sem grandes transtornos. As primeiras brechas de céu azul já apareciam por volta das 15h para alegria dos organizadores, artistas e público. O Bloco Império da Lã deu a largada para a maratona multicultural, que seguiu com Jup do Bairro, Papas da Língua, Alceu Valença, Fresno com Pitty, e o Emicida encerrando a primeira noite. Destaques para o celebrado retorno do Papas da Língua e sua fábrica de hits locais, Alceu Valença como regente de um lindo final de tarde, Fresno no seu potente revival juvenil — com participações especiais de Emicida e Pitty. No encerramento, Emicida teve seus versos entoados por todo o público coroando sua majestade frente ao caldeirão de temperos da brasilidade com o hip-hop, ainda nos surpreendendo com o retorno de Pitty ao palco.

| Foto: André Feltes |

O segundo dia do festival abriu com o Bloco da Laje preparando perfeitamente o terreno de cores e interação com o público que seguiu com a chegada de Francisco, el Hombre e sua tradicional catarse musical. A força feminina no cenário da música atual foi muito bem representada nos shows que seguiram com Marina Sena e Duda Beat. Baco Exu do Blues trouxe sua fórmula que soma referências do moderno R&B com o Hip-Hop acrescentando uma linha percussiva orgânica junto a elementos eletrônicos.

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O fechamento do festival consagrou na figura de uma entidade musical todo o mote proposto. Se existe uma artista que mistura — há mais de 50 anos — todos os temperos da música nacional e internacional com propriedade, esse ser é Caetano Veloso. Seja só na voz e violão ou com sua espetacular banda, Caê hipnotiza qualquer plateia. Aos 81 anos, resoluto na sua atitude e carisma, o artista baiano reina absoluto no altar de qualquer geração. Seu diálogo com o contemporâneo foi ainda reforçado com as participações de Duda Beat e Marina Sena, exatamente numa canção do seu recente álbum “Meu Coco (2021)”, a faixa “Sem Samba Não Dá”, que na letra lista nomes atuais da nossa música, como a própria Duda Beat e Baco Exu do Blues. 

Um ponto que vale destacar no lineup do festival, foi a escolha dos DJ’s que tocaram nos intervalos entre os shows. Uma escolha muito bem bolada e certeira dentro do conceito do evento. Representaram a diversidade local através de nomes que tocam em diferentes festas e casas conhecidas da noite de Porto Alegre como Blow Up, Cabaré, Cadê Teresa? e Céu Bar.

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Entre tantas atrações, o Turá por si só, apontou um marco principal como legado: a retomada do Anfiteatro Pôr do Sol. Espaço esquecido e negligenciado há muitos anos, provou ser um dos melhores locais em Porto Alegre para este tipo de evento. Funcionou — e muito bem — toda a estrutura montada no local que recebeu 20 mil pessoas no final de semana. O ambiente em sua totalidade foi muito bem aproveitado, o que permitiu mesmo com um grande público, conforto e acesso aos serviços oferecidos. A própria formação natural do terreno côncavo oferece ao espectador uma experiência melhor para assistir os shows nessa arena natural. Fica a torcida para que toda a excelência brindada pelo Festival Turá abra os olhos para a utilização do local para novos projetos musicais do gênero. Se na proposta musical a mistura funcionou muito bem, a panela geográfica foi ideal para unir todos ingredientes. 

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Agradecimentos GT a Jéssica Barcellos e Roberta Amaral pelo suporte e credenciamento.       

Além das atrações musicais, o Turá também faz parte daqueles tipos de evento onde o olhar de um fotógrafo sobre o público revela a diversidade e o alto astral. Veja abaixo mais fotos de André Feltes.    

| Foto: André Feltes |

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