50 anos de "Houses of the Holy", 5° álbum do Led Zeppelin
| Divulgação Warner | |
"Houses of the Holy" foi o segundo LP do Led Zeppelin que eu ouvi. Comprei meu exemplar no dia 9 de setembro de 1985, eu tinha acabado de completar 15 anos. Estava eufórico, pois poucas semanas antes assistira pela primeira vez "The Song Remais the Same", o filme do Led, criticado por muitos e, até mesmo por toda a escassez de material em vídeo da banda, amado por outros tantos (apesar de suas imperfeições).
Veja a live dos 50 anos de "Houses of the Holy" no Pitadas do Sal.
Esse menino de 1985 vinha de uma geração acostumada a delays, e com um atraso de 12 anos do lançamento original, se aprofundou na bonita arte da capa, na parte interna, nas letras e principalmente no som que ele ouvia de um som AH920 Philips (recém comprado) que tocava incessantemente 'Houses'. Naqueles dias, eu ainda tentava tirar o atraso de ter nascido no tempo errado, pois em pleno limiar da segunda metade dos anos 1980, só queria saber de tudo o que havia se passado na década anterior e, o Led Zeppelin, era a minha nova descoberta adolescente. Mesmo com a banda fora de cena, pois apenas cinco anos tinham se passado após a morte de John Bonham e do pouso forçado que levou ao fim do grupo, mas seus álbuns ainda eram destaque nas prateleiras das lojas.
Assim, tentando resgatar essas lembranças de um garoto, recordo que, após o arrebatamento com Led Zeppelin IV (para muitos sua obra-prima), algumas músicas de "Houses of the Holy" me soaram estranhas, pelo menos nas primeira audições, foi o caso de "No Quarter" e "The Rain Song", hoje, curiosamente, minhas preferidas. Entre as possíveis pisadas de bola, à primeira vista, canções como "The Crunge", e "D'yer Maker", não conseguiam me convencer de nada, pois para muitos, ainda hoje, elas soam como peças desajustadas. Já "The Song Remains the Same" e "Dancing Days" trazem o DNA hard do Led Zeppelin, e "The Ocean" talvez seja a pérola muitas vezes esquecida, mas certamente incluída hoje entre os grande momentos não só álbum, mas da discografia do Led Zeppelin.
Já a eletroacústica "Over the Hills and So Far Away" é feita da mais pura gema riponga dos anos 1970, um espírito já em declínio naquela primeira metade de década, mas uma intenção vitoriosa nessa canção. 'Houses' é um disco de banda, pois além de três canções onde a habitual parceria entre Page/ Plant vigora (exatamente nas três primeiras faixas do Lado A), há também uma parceria da dupla com JP Jones e outras três feitas por todos os integrantes, o que denota o espírito de banda vigente nas gravações. Lançado no mesmo mês que "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, uma sombra gigantesca e assustadora, e assim mesmo, que tenha sido por poucas semanas, o LP do Led chegou ao topo das paradas nos dois lados do Atlântico, graças as compras antecipadas feitas pelas lojas.
A CRÍTICA E A TURNÊ DE 1973
Na época, até mesmo o hoje consagrado e idolatrado "Led IV" foi contestado pela revista Rolling Stone, e não foi diferente com 'Houses'. A treta entre o Led e a RS já era algo público, com animosidades e farpas sendo disparadas de ambos os lados. Os fãs e as rádios não estavam nem aí, pois o Led Zeppelin já era um dos maiores sucessos daquele período, campeão de vendas de discos e com shows esgotados por onde eles passavam. Eles foram os primeiros a contratar um RP para divulgar turnês e álbuns, o jovem Danny Goldberg, com passagem pelas revistas CREEM e Rolling Stone. Os shows estavam mais grandiosos, com lasers, explosões, gelo seco, canhões, telas gigantes e toneladas de equipamentos para empurrar a massa sonora produzida pela banda. Foi nesse ano que eles fretaram um avião, o Starship, com o logo do grupo pintado na fuselagem. Em sets que duraram em torno de três horas, quebraram recordes de público dos Stones e Beatles, com destaque para o show em Atlanta, na Georgia, quando o prefeito local declarou que a passagem do grupo pela cidade era o maior evento por ali desde a estreia de "E o Vento Levou".
E ainda haveria o filme, gravado em 1973, exatamente exatamente nos últimos três shows da turnê do álbum em destaque neste post, mas só lançado em 1976. O filme pinça o quarteto ao vivo no Madison Square Garden, em 21, 22 e 23 de julho de 1973, apenas 4 meses após o lançamento de 'Houses', num ano em que o Led fez 61 shows. Após isso, eles ficaram quase 1 ano e meio sem se apresentar. Nesse contesto, 1973 foi um dos seus melhores anos (e dias lendários pelos excessos cometidos), foi quando eles atingiram o topo, deixando de ser uma mera banda de rock para se transformar numa instituição, principalmente nos Estados Unidos.
GRAVAÇÃO
Mas, e quanto ao disco promovido para essa turnê? Podemos afirmar que o tempo fez muito bem para "Houses of the Holy". Gravado com excepcionalidade por Eddie Kramer, grandioso na direção musical de Page, ouvimos uma banda confiante em todas as pontas do processo, onde a multiplicidade das camadas faz desse trabalho um dos mais atemporais do Led, pois ainda hoje vende frescor, mesmo que a ambiência dos anos 1970 esteja lá, vigente e vívida. É um disco com um som mais brilhante e moderno que o álbum anterior, menos sombrio, menos Terra Média e mais Califórnia. Se havia pressão, o quarteto não demostra oscilação em nenhum momento, pois fizeram o que bem entenderam durante a gravação.
Os irmãos Stephen e Samantha Gates, as crianças multiplicadas na capa de "Houses of the Holy" em imagem recente |
CAPA
O nome do álbum (que teve a faixa título descartada e usada posteriormente no disco seguinte) busca uma provável ligação com o livro "O Fim da Inocência", de Arthur Clarke, lançado em 1953. No final do romance, a trama fala de centenas de crianças nuas vagando pela terra. A representação nominal é uma homenagem do grupo ao espaço criado entre a banda aos fãs, as "casas do sagrado" e, além dessa reverência no título, uma das canções ainda seria dedicada a eles. A capa, uma das melhores da banda, foi criada por Aubrey Powell (junto com Storm Thorgenson, a dupla de mentores visuais do Pink Floyd). Torghenson teria proposto inicialmente a imagem de uma quadra de tênis e uma raquete, sumariamente vetada por Page. Venceu a ideia de Aubrey. A Imagem original foi clicada durante uma locação em Grant's Caseway, em Country Antrim, a chamada Calçada dos Gigantes na Irlanda do Norte, local escolhido depois dos criadores avaliarem uma locação semelhante no Peru. A imagem colorizada traz duas crianças, os irmãos Samantha e Stephan Gates, nus e multiplicados em 11. Por anos a capa foi censurada no Sul dos Estados Unidos e na Espanha. Foi um defeito na pós-produção ao revelar a imagem que deu o tom alaranjado para a imagem, que acabou migrando para a capa original. A foto da parte interna foi tirada em Denluce Castle, próximo de Caseway.
As imagens que serviram como locação para a capa — Grant's Caseway, em Country Antrim, e Denluce Castle, próximo de Caseway. |
FAIXA A FAIXA
Lado A
THE SONG REMAINS THE SAME
A faixa de abertura materializa o entusiasmo com a vida e a emoção de viver. Concebida sob influência de um antigo feito de Page, "Tinker Tailor Soldier Sailor", um tema do Yarbirds, o guitarrista pensou nela inicialmente como tema instrumental, uma espécie de prelúdio para "The Rain Song". Plant achou que ela merecia mais e escreveu uma letra, como ainda sugeriu uma parte mais lenta pra cantá-la. Sua voz é levemente acelerada no mix, o que o colocará em apuros quando apresentá-la ao vivo. No filme homônimo, o tema intercala imagens do show com cenas de ficção de Robert (que se estendem e se ampliam até a faixa seguinte). Ao vivo, para tocá-la, Jimmy empunha sua Gibson (double neck) de dois braços, uma das marcas poderosas de sua atuação nos palcos. Ironicamente, "The Song Remains The Same" foi gravada numa Fender 12 cordas, a mesma usada no "Becks Bolero", também dos Yardbirds, mas com sua Les Paul número 1 sobrepondo outras camadas. Afora o Exército de Guitarras de Jimmy, é uma faixa de abertura e tanto (o Led sempre foi bom em faixas 1 de Lados A), um início apoteótico, com um baixo saltitante e uma bateria poderosa, um coice na porta de uma banda digna de figurar no topo do mundo naquele início de 1973.
THE RAIN SONG
Reza a lenda, que durante um bate-papo entre John Bonham e George Harrsion, o ex-beatle teria dito ao baterista que o Led nunca seria uma banda completa por não saber construir boas baladas. Ao saber disso, a resposta de Page teria sido "The Rain Song", e inclusive faz uma micro citação no seu dedilhar. Os acordes sinistros, as notas soltas e dobradas em uníssono, no início pode causar estranheza no ouvinte, mas essa é uma daquelas músicas destinadas a conquistar o coração de qualquer fã de boa música. A letra utiliza as estações do ano para falar dos vai e vens do amor, e fecha com a visão da chuva caindo como símbolo de renovação. "Brinda a mim apenas com teus olhos" é uma citação ao poeta elisabetano Ben Johnson. O melloton a lá Genesis e Moody Blues empresta uma intenção de rock progressivo a "The Rain Song", o que também revela um passo além na sua forma de apresentar novas canções.
"The Rain Song" começou a ser gravada no Olympic Studios com George Chkiantz. Em seguida, seguiram o expediente em Stargroves, a casa de campo de Mick Jagger e, em Headley Grange, com o Estúdio Móvel dos Rolling Stones, e Eddie Kramer na técnica.
OVER THE HILLS AND FAR AWAY
Estamos de volta ao território acústico favorito do Led, pelo menos no início, com direito ao uso de um violão de 6 e 12 cordas. O riff inicial é puro Jimmy Page, e os ares de balada terminam quando a parte elétrica se impõe com a Les Paul de Jimmy. A um trecho da letra em que Plant cita 'gold', uma maconha poderosa que circulava durante o início dos anos 1970 na Costa Oeste americana, pois quando ele diz que tem o 'bolso cheio de ouro', provavelmente ele esteja se referindo ao fumo específico: "I live for my dream/ And a pocketful of gold". A parte final, onde podemos ouvir até um pedal steel, o fadeout da música empresta um tom quase místico a "Over the Hills and Far Away". Conceitualmente, dá pra imaginar as três primeiras músicas com um elo ligação entre elas.
THE CRUNGE
O R&B "The Crunge" é uma pura tentativa de emular o som de James Brown. Nascida de uma jam entre Bonzo e JP Jones (que também toca um sintetizador a lá Stevie Wonder), é o Led pagando tributo ao som da Staxx. A letra até cita "Mr. Pitiful" (Otis Redding) e "Respect" (Aretha Franklin): "Ain't going to call me Mr. Pitiful, no!/ I don't need no respect from nobody, no!". No teste do tempo, levando em conta o resultado obtido, dá pra dizer que "Ther Crunge" não emula a autêntica música negra norte-americana, mas soa divertida e eficiente nesse final de Lado A, assim como está longe de ser uma faixa descartável, como propagado pela crítica na época. No sentido de qualidade, além do groove do baixo e bateria, do vocal quente de Robert Plant, a guitarra de Jimmy Page (ele toca uma Stratocaster) se juntam numa climática completamente ajustada aquilo que ouvimos em muitos discos da música soul. Gosto mais do já gostei.
Lado B
DANCING DAYS
O engenheiro de som Edie Kramer, o homem que esteve do outro lado do aquário durante as gravações de parte de "Houses of the Holy", disse que quando a banda ouviu o mix final de "Dancing Days", todos dançaram em fila indiana pelo pátio de Stargrooves, fruto do puro contentamento e satisfação pelo resultado final da gravação. O riff de guitarra de Jimmy Page é o motor principal da música, muitas vezes amplificado pelas camadas sobrepostas e timbres alternados que formam seu Exército de Guitarras, algo que ele sabia fazer como poucos. Hino ao hedonismo, a vida desregrada, "Dancing Days" celebra uma festa sem hora pra acabar. Um rockásso inspirado por uma música indiana que Jimmy Page e Robert Plant ouviam enquanto viajava em Bombaim, na Índia. O Stone Temple Pilots fez uma versão bem bacana para "Dancing Days",
D'YER MAKER
"D'yer Maker" é a grande pisada na bola de "Houses of the Holy". O Led nunca a tocou ao vivo. Os ingleses tentam surfar na onda do ska/reggae utilizando uma das letras mais infelizes de Robert Plant. Apesar do balanço da cozinha, o resultado final é constrangedor. É um dos piores momentos do quarteto em toda a sua carreira, uma piada sem graça pesada demais para ser pop, com Bonzo sentando a ripa e mandando para o espaço toda a sutileza que as baterias de reggae trazem. "D'yer Maker" não conversa com nada nesse lado B. Sheryl Crow fez uma versão para "D'yer Maker", que acabou por fazer sucesso nas rádios (infelizmente!).
NO QUARTER
Depois de pop descartável, eis a redenção. "No Quarter" é uma das canções mais impressionantes de "Houses of the Holy". No comando de John Paul Jones, pilotando um sintetizador e um piano elétrico, o tema transita do jazz ao rock progressivo, trazendo na sua letra ecos da mitologia nórdica ou talvez uma jornada por Mordor, uma das referências de Plant, fã de Tokien. Logo no início quando o vocalista diz "Close the door/ Put out the light" (Feche a porta e apague as luzes), ele evoca um bordão propagado por Keith Moon, mestre da sacanagem conhecido como baterista do Who. A voz de Robert Plant é fantasmagórica, quase extracorpórea. Um clima sinistro toma conta de toda a música, e quando os cães da perdição uivam, é como se eles fossem mandados diretamente por Sauron para aterrorizar esse caminhante que percorre o vale das sombras: "Andando lado a lado com a morte/ O diabo ridiculariza todos seus passos/ A neve faz meus passos ficarem mais lentos". "No Quarter" era também o momento solista de John Paul Jones nos shows, eternizado em imagens no filme "The Song Remais the Same".
THE OCEAN
Dá para ouvir a voz de John Bonham no início: "Já tocamos 4 vezes, mas agora estamos firmes e lá foram eles: 1, 2, 3, 4"). Coloque um bom fone de ouvidos e perceberá. Assim como na versão ao vivo, era Bonzo que fazia os vocais de apoio no lá, lá, lá. Com seu riff memorial, "The Ocean" é a pérola quase esquecida a ser ofertada como despedida do álbum. Plant presta homenagem ao 'oceano' de fãs da banda (Cantando para o oceano, posso ouvir o seu rugido) e declara seu amor por Carmen, sua filha de três anos (Agora eu canto todas as minhas canções para a garota que ganhou meu coração)
Ao final, o doo-wop e o rock dos anos 1950 é evocado, isso sem relação com a parte anterior da música, mas ao estilo do Led Zeppelin, é claro! Chuck Klosterman escreveu algo sobre essa música em seu livro "Killing Yourself to Live": “Não importa se você já ouviu essas músicas centenas de vezes e não sentiu nada no passado […] Há um ponto em sua vida quando você ouve músicas como The Ocean e de repente percebe que essas músicas estão ativamente transformando você na pessoa que você deseja ser". A sempre amarga — pelo menos para o Led — revista Rolling Stones elegeu "The Ocean" como a 14ª melhor música do grupo, o que mostra sua força entre os críticos de rock e até mesmo no ponto de vista de revisão histórica. A música soa como se o Led estivesse tocando ao vivo no estúdio com a porta aberta e com vista para o mar.
Ouça "Houses of the Holy".
Esse celular de zap não sou o cara já tava morto rolava Cícero nesse aqui já remix vai indo em Cabo frio na maldita lá da parar de tudo na nas Américas ali do Rio de janeiro na maldita de Cabo frio sítio santia revista da história do Harry potência muito tempo chegou um monte na minha casa de volta redonda lá tá errado é tudo meu Deus da vila
ResponderExcluir