Shake Your Money Maker: há 33 anos The Black Crowes lançava seu álbum de estreia

| Divulgação:  Def American Records |
| Por Márcio Grings |

Após 27 anos, na época em passagem pelo Hollywood Rock (Estádio do Morumbi, São Paulo, 20 de janeiro de 1996), o grupo norte-americano The Black Crowes finalmente retorna ao Brasil (mas em show único) e também à América do Sul. Os últimos ingressos para as apresentações no Chile (11), São Paulo (14) e Buenos Aires (16) ainda estão à venda. Na capital paulista o evento será realizado no Espaço Unimed. A atual turnê — interrompida no início de 2020 pelo início da pandemia de Covid-19 — celebra o aniversário do álbum de maior sucesso da banda — "Shake Your Money Maker" (1990). O show apresenta esse trabalho na íntegra, faixa a faixa, amarrado na parte final do espetáculo por clássicos da trajetória do grupo, além de possíveis releituras. 

No último final de semana o grupo retornou aos palcos com duas apresentações em Las Vegas, no Pearl Concert Theater, auditório do Palms Casino Resort. Os shows em Vegas apresentaram canções de vários álbuns do grupo, diferente da atual turnê, mas serviu de aquecimento para o novo integrante apresentado sem um anúncio prévio.     

Veja!  

O novo guitarrista da banda é o músico argentino Nico Bereciartua. Nico é filho de Vitico Bereciartua (atual Viticus), baixista do Riff, grupo liderado por Norberto Napolitano, aka Pappo, lenda sul-americana do blues rock. Ele já havia tocado na estrada com Chris Robinson (2016/17) no The Magpie Salute, projeto paralelo do guitarrista do Crowes. Imaginem como será a vibe do show em Buenos Aires com um hermano entre os Corvos?

Apesar da efeméride com selo de 30 anos da turnê comemorativa, neste 13 de fevereiro o disco de estreia do grupo formado pelos irmão Chris e Rich Robinson bate na marca dos 33 anos. Na época, o Crowes respirava ares ambíguos a seus pares, um sopro dissonante de grande parte das bandas/artistas daquele período. Lembre-se, vivíamos tempos em que o metal ainda era um grande negócio (Guns N' Roses rumo ao topo) e o rock alternativo ascendia como bola da vez num hiato pré som de Seattle. Em caráter de apresentação: era como se suas músicas — e a atuação dos Corvos — resgatassem com originalidade a cafajestagem dos Stones, os ares vira-latas do Faces e a picardia do Humble Pie. Corroborando a esse viés, além do repertório autoral, eles fizeram centenas de apresentações dedicadas a revisitar suas referências ancoradas ao som dos anos 1960/70. Tanto que, "1972" (2022), último EP deles, relê clássicos do T-Rex, Rod Stewart, Little Feat, David Bowie, Temptations e Rolling Stones. Mesmo surgido anos depois do apogeu do rock and roll naquela década, o Black Crowes sempre foi considerado uma banda setentista.  

Originários do Sul dos Estados Unidos, na Georgia, mesmo chão do hoje esquecido Georgia Satellites, autores do "Keep Your Hands to Yourself" (barrada do primeiro lugar nas paradas norte-americanos por "Livin' On A Prayer" do Bon Jovi), os Black Crowes aprofundaram a experiência dos Satellites a imersão pelo hard rock clássico. E para embarcar nessa viagem atemporal, no banco de produtor de "Shake Your Money Maker" estava George Drakoulias, ex-colega de faculdade de Rick Rubin, parceiros na Def American Records, o cara certo no lugar certo para produzi-los.     "Shake Your Money Maker" é um álbum impregnado de atrevimento. Entre os méritos, a afinação em sol aberto (a lá Gram Parsons/Keith Richards) puxada por Rich Robinson (guitarra) carimba sua atuação, assim como os riffs geminados e complementares de Jeff Cease (guitarra) reforçam a mira. O  groove pulsante de Johnny Colt (baixo, hoje integrante da atual encarnação mequetrefe do Lynyrd Skynyrd) e a batida malandra de Steve Gorman (bateria) são segredos bem guardados dessa primeira formação. Mas, acima de tudo, lá está Chris Robinson (voz), o frontman raro, uma mistura de Mick Jagger com Rod Stewart. Na verdade, na virada dos anos 1980/90, eles eram apenas um bando de garotos. O mais velho, Gorman, tinha 25 anos, e o mais jovem, Rich, 20. O interessante dessa constatação é percebermos que muitas vezes temos a sensação de estar ouvindo uma banda encardida, veterana e repleta de experiência. Apesar de ter sido formada apenas seis anos antes, em 1984, o quinteto fez um dos melhores álbuns de estreia dos últimos trinta e cinco anos.      O disco inclui canções composta por Rich aos 17 anos, além de uma releitura vitoriosa de um clássico da soul music, "Hard to Handle", música de Otis Redding escolhida a dedo como primeiro single de divulgação. Quatro videoclipes foram disponibilizados para a geração MTV — "Twice As Hard", "Jealous Again", "She Talks to Angels" e "Hard to Handle". "Shake Your Money Maker" alcançou a 4ª posição na Billboard, com 5 milhões de cópias vendidas (até hoje o maior sucesso comercial deles). O Black Crowes foi capa da Rolling Stone e a revista ainda os elegeu como a "Melhor Nova Banda Americana" em 1990. 

The Black Crowes, junho de 1990.  Foto: Rob Verhorst
Em 2021 foi lançado um box trazendo não apenas as faixas originais remixadas de "Shake Your Money Maker", mas lá estão outtakes e demos do período em que a banda se chamava Mr. Crowe’s Garden. O pacote incluiu um concerto em Atlanta, considerado um dos ápices ao vivo daquele período, como de fato é.  

Parabéns, Corvaiêdo! 

Ouça a versão comemorativa abaixo (as primeiras 10 faixas agrupam o álbum original remixado).   

Comentários