Aos 10 anos, um moleque argentino se apaixonou pelo filme "Crossroads" (1986) e, querendo conhecer mais sobre Robert Johnson, resolveu fazer aulas de guitarra com Miguel Botafogo (Pappo). O garoto era Nicolás Bereciartúa, hoje com 41 anos, filho de Vítico Bereciatúa, fundador de um dos melhores grupos do rock sul-americano, o RIFF, juntamente com o lendário Norberto Napolitano, aka Pappo. Nesse cenário, desde muito jovem ele participou de vários momentos históricos do rock argentino. Anos depois, aos 19, integrou, à convite do próprio Pappo, a última formação de seu grupo. Passado um tempo formou uma banda com seu pai, a Viticus, além de tocar com artistas como Charly García, Juanse, El Zorrito Von Quintiero, entre outros.
Foto: Paul Citone
A novidade na carreira de Nico Bereciatúa é que ele acaba de ser anunciado como novo guitarrista da corrente turnê dos Black Crowes, banda norte-americana dos irmãos Chris e Rich Robinson. Vale lembrar que a posição atualmente ocupada pelo músico já teve nomes como Marc Ford e até mesmo Jimmy Page, no tour que o guitarrista do Led Zeppelin fez em 2000 com a banda. A pergunta é: como se deu essa aproximação até o convite para tocar com os Corvos? Tudo começou em 2016, quando o músico portenho postou "Baby" no Youtube, uma música solo de Rich Robinson com uma versão sua. Na época, em campanha de divulgação de "Paper", um de seus álbuns, Rich abriu para os fãs em seu Facebook uma postagem ao estilo "pergunta e resposta". Nico não apenas participou como ainda deixou o link do vídeo gravado por ele. "Se você tiver um minuto, adoraria que você visse", escreveu. Inicialmente ficou no vácuo e não obteve êxito no seu contato.
Veja o vídeo de "Baby".
Contudo, oito meses depois, Nico estava andando por Buenos Aires quando percebeu uma notificação no seu Twitter. Era uma mensagem de Rich: “Adoro como você toca, vamos ver se nos encontramos”. Em resumo: em dado momento, Nico pegou um avião ate Nova York e fez um teste para músico de apoio na turnê de seu ídolo. Aprovado, o guitarrista argentino fez diversos shows nos Estados Unidos e Europa; primeiro, com a banda de Rich Robinson, e depois com The Magpie Salute, grupo que Rich formou com outros membros do Black Crowes (Marc Ford, Sven Pippen e Eddie Harsch). Passada meia década, após à volta dos Crowes em 2019, essa amizade lhe rende um emprego numa das melhores bandas surgidas nos últimos 35 anos no rock internacional.
Veja Nico tocando como integrante do Black Crowes (Las Vegas, 11/2/23).
Em carreira solo, Nico Bereciartua lançou dois álbuns muito interessantes, Nico (2015) e "Volviendo" (2019), seu trabalho mais recente, título que lhe rendeu o Prêmio Gardel (importante premiação argentina). Segundo o próprio Nico, as canções de "Volviendo" surgiram em meio as turnês pelos Estados Unidos e Europa, quando excursionou com Rich Robinson e o Magpie Salute. O disco passeia pelo folk, rock, country blues, rhythm & blues e até por ritmos sul-americanos. Há muitas passagens acústicas/instrumentais arrebatadoras — como em "El Cardal", "Fabylon" e"Segura", com destaque para o bumbo leguero de "La Juanita", onde ele consegue promover um encontro entre ritmos norte e sul-americanos. Ele também se revela um bom cantor de blues em faixas como "18 Hammers" (John Lee Moore) e em "Que queires de mi". Nas baladas "Yendo a casa" e "No queiro", brilham suas qualidades como melodista, assim como o funk-soul "Intensos" nos joga na lembrança dos melhores momentos do gênero.
Divulgação NB
The Black Crowes descem até a América do Sul em março. Obviamente Nico Bereciartúa estará entre eles. Os últimos ingressos para as apresentações no Chile (11), São Paulo (14) e Buenos Aires (16) ainda estão à venda. Imaginem como será a vibe do show na Argentina com um hermano entre os Corvos? Saiba mais AQUI
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