Uma banda chamada Black Sanga Grande Blues

Foto: arquivo pessoal
| Por Márcio Grings |

Apresentada a mim pelo amigo Marcelo Tajes, a Black Sanga Grande Blues é uma banda formada na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, em Uruguaiana, cidade vizinha a Paso de Los Libres, na Argentina. A ligação com o blues passa principalmente pela orientação do idealizador do quarteto, Carmo Goulart (guitarra), músico autodidata de 75 anos, um apaixonado pelo gênero. Carmo é 'veterano de várias guerras', um sobrevivente, encaminhador (ou desencaminhador) de outros tantos artistas, influenciador e agitador cultural de longa data. Completam a formação da Black Sanga — Áureo Goulart (guitarra), filho de Carmo e Vinicius Goulart Tajes (bateria), seu neto, além de Lucas Vasconcelos (baixo).  

Black Sanga Grande Blues
Vi a Black Sanga ao vivo faz algumas semanas, no Ferrovia Bar (Rua General Câmara, 1382), mesmo local onde eles novamente se apresentam nesta quinta-feira (8), às 22h. No show, o grupo bate ponto no CD de estreia homônimo, lançado em 2018, um álbum instrumental com nove faixas autorais. O trabalho foi gravado no Estúdio Sol Maior (mesmo lugar onde Carmo reside, na comunidade dos Goulart/Tajes na Rua Independência, em Uruguaiana), o que empresta uma ambiência familiar para as realizações da banda, pois isso forja um elo orgânico e original que pulsa nas gravações e nos palcos. O tom de descompromisso tira o peso de uma apresentação ao vivo e, assim, muitas vezes temos a impressão de que eles tocam como se estivessem fazendo uma jam na garagem de casa enquanto o churrasco assa e a cerveja gela. É divertido vê-los em ação.       

A Black Sanga pode buscar inspiração no blues britânico dos anos 1960 — como ouvimos em "Nascimento". "J. Blues" e "Luna Blues" —, mas também bate no som encardido dos anos 1970, no caso de "Blues da Anna" e "Será isso Hard Rock". O caldo engrossa quando eles evocam o som brejeiro de um Creedence em seus dias iniciais em "Rock Rural" (só que mais sujo e pesado), para logo depois deixarem o público reflexivo com o romantismo de "Me apaixonei, Carioquinha". No caso de "A alma de Chuck Berry", o nome da música já entrega o jogo e o cenário proposto, assim como "Na pressão" é o pó de pirlimpimpim que aproxima Uruguaiana de Chicago.

Carmo e Áureo intercalam posições e protagonismos, com ambos desenhando suas digitais nesse espaço. Áureo é um virtuose que me traz à lembrança de nomes como Eric Clapton e Peter Green (guardadas as devidas proporções). Por outro lado, o irreverente Carmo é um daqueles sujeitos com alma keithrichardiana, pois climatiza o terreno para o filho voar livre numa base aparentemente displicente, mas repleta de malandragem e firmeza. Nos solos, pai e filho distribuem estilos distintos, escolhas ambientadas conforme a necessidade de cada música. Tudo funciona, começando pela batida firme/ reta do jovem Vinicius, motor regulado na pulsação de Lucas, formando o centro emocional dessa moldura, o que estabelece um padrão básico para a liberdade e segurança dos solistas.  

Venham todos até o Ferrovia. A Black Sanga Grande Blues merece nossa atenção.             

Black Sanga no palco do Ferrovia, em Uruguaiana. 

Comentários

  1. Baita Banda!!! Se Uruguaiana não fosse tão longe!! Estariam em palcos maiores!! Com certeza!!!

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