O novo álbum do Tears for Fears surge como farol que ilumina o final dos tempos

Foto: Frank W Ockenfels III (The Guardian)

Por Márcio Grings 

17 anos separam Roland Orzabal e Curt Smith da última vez que o nome Tears For Fears esteve grifado num álbum com canções inéditas. O disco em questão foi batizado de "Everybody Loves a Happy Ending". Quase duas décadas depois, muita coisa mudou no mundo, inclusive as lojas de discos estão desaparecendo, assim como o streaming se tornou a principal prateleira da música mundial. Cada vez que penso nisso vislumbro que realmente a imaterialidade ainda vai acabar com a arte. Mas como paráfrase ao nome do último trabalho lançado ainda no início do século XXI, nós que, em tempos tão áridos, estamos ávidos por boa música, o anúncio do suposto final feliz proclamado em 2004 renasce de cabeça pra baixo em 2021 com "The Tipping Point" (O ponto de Desorientação), sétima marca na discografia de estúdio do Tears for Fears que será encrustada em fevereiro de 2022.    

Leia entrevista da dupla à Laura Barton, jornalista do jornal britânico The Guardian 


O ponto de virada deste retorno se deu em 2017, após a morte da esposa de Roland. Caroline Orzabal viveu um longo calvário de depressão e demência, algo que levou o seu marido ao fundo do poço depois de sua partida. Por outro lado, como uma das principais armas dos grandes artistas, impulsionado pelas dificuldades, o músico novamente começou a compor. Mesmo assim, seus problemas com o álcool chegaram ao momento mais crítico de sua vida, o que acabou por jogá-lo numa clínica de reabilitação. Meses depois, já recuperado, com o incentivo de sua nova namorada, a fotógrafa Emily Rath, Roland se encontrou com o velho parceiro de banda, quando então resolveram reviver a fera que os tornou conhecido mundialmente. 

Orzabal e a fotógrafa Emily Rath

E como primeira impressão, a velha química parece ter sido novamente materializada, pois a faixa título do novo álbum (single/videoclipe abaixo) é uma pequena obra de arte. Ao vermos o vídeo, o impacto inicial está nos cabelos brancos de Roland Orzabal e no rosto envelhecido de Curtis, lembrança de que a implacável ação do tempo não poupa ninguém. 

Celebremos o retorno da dupla Tears For Fears, pois "The Tipping Point" é a certeza de que ainda há luz no fim do túnel, principalmente quando a verdadeira música ressurge como tábua de salvação não apenas para Roland Orzabal e Curtis Smith, mas para todos nós que já estamos de saco cheio de quase tudo que anda e finge que respira na música pop de hoje.   

Que fevereiro de 2022 chegue logo. 

Comentários

  1. Realmente estamos diante da luz no fim do túnel, embora saibamos que a arte, assim como todos nós, caminhamos lentamente, rumo a um penhasco. O abismo do esquecimento nos aguarda? Ou só a possibilidade de saltarmos para eternidade? Este final feliz, só o tempo nos revelará.

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