Review — Wilde em Berneval (2020), de Gérson Werlang
Divulgação EC |
Gérson Werlang nasceu em Santa Rosa, mas adotou Santa Maria como lar, cidade onde atua como professor no Curso de música da UFSM. Ainda na segunda metade dos anos 1980, fundou a Poços & Nuvens, grupo de rock progressivo, ainda na ativa gravando discos e DVDs. Ainda como músico, Gérson mantém uma interessante carreira solo (ouça AQUI seu último álbum). Na literatura, estreou na poesia com "Outros Outonos" (1997), afora o lançamento de um longo ensaio ao qual versa sobre a música na obra de Érico Verrísimo, em 2011. "Wilde em Berneval" (Editora Coralina, 218 páginas) é seu primeiro romance, livro em que o escritor se debruça sobre um episódio da vida do escritor irlandês Oscar Wilde, recriando os passos do autor de "O Retrato de Dorian Gray" (1890), um dos clássicos da literatura mundial.
Werlang, o autor de "Wilde em Berneval". Foto: Ernesto Sacchet |
Em maio de 1897 Wilde foi libertado da prisão, isso depois de dois anos de cárcere e trabalhos forçados. O crime? — homossexualidade. Sua relação com um nobre, Lord Alfred 'Bosie' Douglas, o levaria à condenação. Um detalhe: no período que antecede imediatamente sua sentença, ele é um dos mais festejados autores da Europa. Contudo, durante e após o litígio, sua vida e carreira entram em vertiginoso declínio.
Depois da prisão e do escândalo, ele intuiu que não teria condições de viver na Inglaterra, e assim, por indicação de seus amigos, o escritor chega até a cidade portuária francesa de Dieppe, na costa da Normandia, como um bom lugar para reiniciar sua vida. Em busca de uma identidade secreta, muda seu nome para Sebastian Melmoth, e chega até Berneval, uma pequena aldeia próxima a Dieppe, situada à beira-mar. O livro de Werlang é um somatório de 67 cartas nunca enviadas por Oscar Wilde, relato fictício das treze semanas em que o escritor viveu nessa cidadedezinha da França, espécie de espólio dessa purgação e tentativa de renascimento.
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Em Berneval, Wilde inicialmente se instala no Hotel de la Plage, administrado por Monsier Bonnet, para logo depois alugar um chalé. Aos poucos, recomeça a escrever, mas é assolado por uma intensa bipolaridade — psiquiatras, me perdoem o diagnóstico — oscilando num ping-pong de sentidos e emoções, corroído por sentimentos ambiguos em relação a Bosie. A noite, pesadelos o levam de volta ao tempo em que esteve no cárcere, e como antídoto, procura afogar suas lembranças no álcool. Em suas cartas, reclama com frequência do distanciamento dos filhos, assim como se martiriza pela impossibilidade de passar a limpo os fatos com Constance, sua ex-mulher. Como paliativo, recebe a visita de alguns amigos, frequenta um café na vizinha Dieppe, tal qual busca encontrar paz de espírito em longas caminhadas e banhos de mar. Surpreendentemente, depois de uma provocação de Bonnet, acaba por transfigurar seu alterego num improvável detetive particular, quando aceita o convite para tentar desvendar o mistério de um assassinato, episódio ocorrido logo após sua chegada ao vilarejo. Durante a averiguação do caso, acaba se envolvendo com a pianista Emma Pinchon, irmã de um dos suspeitos de ter participado do crime ao qual investiga. Deste modo, num entruncado enovelamento emocional, Oscar Wilde — na pele de Sebastian Melmoth, tenta descobrir quais rumos o levarão para o futuro de seus dias.
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A narrativa de Gérson Werlang nos correlaciona a um texto coerente, repleto de referências biográficas que evidenciam um autor conexo a vários circunstãncias que levaram Wilde até Berneval. Ainda nos primeiros capítulos, o tom confessional de Werlang utiliza precisas doses de um humor sardônico — um queixoso pária em seu exílio involuntário, indução que nos condiz a imaginar estarmos na posse de um autêntico relato íntimo do próprio Oscar Wilde. Sem embargo — não há necessidade de algum conhecimento específico sobre a vida e obra do escritor irlandês para que possamos adentrar o universo de "Wilde em Berneval" — pelo contrário, o livro se sustenta pela sua própria força criativa, transportando o leitor para uma deliciosa viagem no tempo.
Compre "Wilde em Berneval" diretamente no site da Editora Coralina (R$ 38)
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