Tiki e o alerta sobre o extermínio das nações indígenas brasileiras
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O Dia do Índio é celebrado, nos países do continente (e não apenas no Brasil), em 19 de abril. Essa data foi escolhida em 1940, no Primeiro Congresso (itinerante) Indigenista Interamericano ocorrido no México. No mesmo dia em que lembramos essas ancestrais nações, donos absolutos das Américas muito antes da chegada dos europeus, o programa Fantástico (domingo, 19/4/2021) trouxe uma matéria sobre um novo flagelo que ocorre no norte do país. Tribos Kaiapós estão passando por maus bocados nas últimas semanas. Além do Coronavírus, cada vez mais perto dos índios, novas áreas de garimpo e desmatamento maculam as reservas no velho esquema de grilagem (falsificação de documentos para, ilegalmente, tomar posse de terras). Uma história que se repete década após década, e o pior — pelo o que tudo indica, com velada conivência do Governo Federal. Confira a reportagem do jornalista Marcelo Canellas.
Conheça também Ken Parker, o mais conhecido dos personagens criados por Berardi/Milazzo
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Aldeia Ianonâmi. Arte: Ivo Milazzo |
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Coincidentemente, ainda versando sobre a causa indigenista, acabo de reler um quadrinho italiano lançado na Europa ainda na segunda metade dos anos 1970. Trata-se de Tiki - O Menino Guerreiro (106 páginas, formato 22 x 32cm), personagem criado pelos quadrinistas italianos Giancarlo Beradi (argumento/roteiro) e Ivo Milazzo (ilustrações). A fagulha inicial para o surgimento de Tiki foi deflagrado após Berardi ler uma reportagem com relatos de que a Rodovia Transamazônica seria aberta à base de Napalm, sem preocupação com a população indígena que vivia na floresta, além de prejudicar um dos mais importantes ecossistemas do planeta.
Coincidentemente, ainda versando sobre a causa indigenista, acabo de reler um quadrinho italiano lançado na Europa ainda na segunda metade dos anos 1970. Trata-se de Tiki - O Menino Guerreiro (106 páginas, formato 22 x 32cm), personagem criado pelos quadrinistas italianos Giancarlo Beradi (argumento/roteiro) e Ivo Milazzo (ilustrações). A fagulha inicial para o surgimento de Tiki foi deflagrado após Berardi ler uma reportagem com relatos de que a Rodovia Transamazônica seria aberta à base de Napalm, sem preocupação com a população indígena que vivia na floresta, além de prejudicar um dos mais importantes ecossistemas do planeta.
Arte: Ivo Milazzo |
A reportagem deflagrou no escritor a criação de um história de denúncia contra o (falso) progresso que não liga para sentimentos e quanto menos para vidas humanas. O Carajá Tiki acabou sendo lançado no Brasil apenas em 2013 (antes tarde do que nunca), um empreendimento da editora Quadro a Quadro, com tradução de Marcelo Santana, numa devotada cruzada pessoal do editor Lucas Pimenta.
Arte: Ivo Milazzo |
Dividido em seis episódios, a trama revela como a ação do napalm acaba dizimando a aldeia de Tiki. Assim, após essa tragédia, acompanhamos a saga do jovem em busca de sua vingança. Apesar de certa ingenuidade no roteiro, com pequenos erros históricos/cronológicos, equívocos que destorcem parte dos fatos ocorridos durante a construção da Transamazônica nos anos 1970, há uma série de virtudes a serem exaltadas. A começar pela narrativa, conduzida em grande parte pelo ponto de vista do menino índio, ancorada pela monumental arte visual criada por Milazzo, o que nos induz até uma narrativa comovente. A medida em que os personagens evoluem no enredo, entra em pauta o eterno confronto entre o bem (índios) e o mal (homens brancos), por outro lado, há contínuas inversões desses papeis. Essa dualidade está simbolizada na relação entre o engenheiro polonês Mate Paskow e o jovem indígena, uma aproximação de conflito e reconhecimento.
Arte: Ivo Milazzo |
Apesar de Tiki - O Menino Guerreiro aparentemente apresentar uma visão dicotômica e não tão precisa de um episódio marcante da história de 'conquista' e expansão da Amazônia, Berardi/Milazzo não escorregam em banais maniqueísmos. Guardadas as devidas proporções, da mesma forma que obras como "Dança com Lobos" (1990), western de Kevin Kostner, "Enterrem meu coração na curva do rio", bíblia indigenista de Dee Brown, ou até mesmo Ken Parker, a mais famosa criação da dupla de quadrinistas, a saga de Tiki novamente nos alerta de o quanto certos desvarios se repetem na história da humanidade — o que também podemos constatar na matéria de Marcelo Canellas. Tudo se repete. Assim, em nome do progresso, mas principalmente de interesses escusos, ora ou outra novos esquemas genocidas vicejam, quase sempre afiançados por políticos decrépitos, e o pior — à sombra dos holofotes de um celebrado mundo globalizado. Todos sabemos o que está acontecendo. A mesma história, parecida com a mazela de Tiki.
Arte: Ivo Milazzo |
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