Tango sem Turistas: uma experiência incrível em Buenos Aires

Foto: Gisele Teixeira (Arquivo Pessoal)


Por Ana Bittencourt

Um dos gêneros musicais mais emblemáticos do mundo, o tango, é celebrado neste 11 de dezembro. Na Argentina, a data é lembrada como o Dia Nacional do Tango, em homenagem ao cantor Carlos Gardel e ao diretor de orquestra Julio de Caro. Gardel com certeza é o nome mais celebrado quando falamos no estilo, mas não é o seu único representante. Vale conhecer e ouvir outros talentos como Aníbal Troilo, Astor Piazzolla, Alfredo Le Pera e Eduardo Arolas. Esses, os clássicos.

Mas vale muito também conhecer outras vertentes, como o tango contemporâneo. E aqui entram China Cruel (grupo formado por seis mulheres que mandam muito bem), Daniel Melingo (gosto muito!) e Franco Luciani, cujo instrumento é a harmônica (popular gaita de boca) e já dividiu o palco com Mercedes Sosa, Fito Paez e Gotan Project. Gotan, no caso, faz dupla com meus queridinhos do tango eletrônico, o Bajofondo.

Grupo "El Afronte" tocando na Maldita Milonga, casa onde Gisele Teixeira dá aulas de tango (Foto: Gisele Teixeira/Arquivo Pessoal)


Deixando de lado a parte musical, lembro que o tango também é uma expressão artística riquíssima na área da dança. E, para mim, poucas coisas na vida são tão intensas, dramáticas e sensuais do que "una pareja bailando el tango", a meia luz, em um ambiente esfumaçado. Aliás, gosto muito de uma frase atribuída ao compositor, poeta, ator e dramaturgo argentino, Enrique Discépolo: "O tango é um pensamento triste que se pode dançar".

No final de  novembro passei alguns dias em Buenos Aires. Foi minha primeira viagem oficial com meu filho, Gabriel. O moleque - que já é um homem - completou 18 anos e vi nessa trip uma oportunidade de estarmos os dois, sozinhos, fora de casa e da rotina. Entre as experiências que tivemos na cidade, a mais marcante para os dois foi apresentada por uma brasileira e está diretamente ligada ao tango.

TANGO SEM TURISTAS

Uma das milongas históricas localizadas na cidade de Buenos Aires (Foto: Gisele Teixeira/Arquivo Pessoal)

Participamos, Gabriel e eu, de uma aula personalizada de tango. Ministrada pela jornalista gaúcha Gisele Teixeira, a experiência Tango sem Turistas oferece exatamente o que o nome propõe: uma experiência exclusiva, minimalista, personalizada e intimista, longe dos circuitos tangueiros mais tradicionais e - obviamente - apinhados de turistas. O Tango sem Turistas é a primeira experiência de tango em Buenos Aires pensada para o público brasileiro.

Gisele mora na Argentina há doze anos e nos seis últimos tem se dedicado a ensinar tango. É instrutora de dança certificada pelo Centro Educativo de Tango de Buenos Aires e tem especialização em História Social e Política do Tango Argentino. Além disso, a caçapavana (sim, Gisele nasceu em Caçapava do Sul e formou-se na Facos, na Universidade Federal de Santa Maria) assina o completíssimo blog Aquí me Quedo, onde podemos encontrar matérias sobre a cultura argentina, entre elas, mais de 500 sobre o gênero musical. Vale o clique!

Aulas personalizadas na casa da instrutora, Gisele Teixeira (Foto: Gisele Teixeira/Arquivo Pessoal)


PRIMEIROS PASSITOS

Pra começo de conversa, fomos recebidos na casa da Gisele, um charmoso sobrado no bairro Monserrat. Nessa noite contamos com a companhia de um casal de americanos - ou seja, nossos diálogos aconteceram em três idiomas: português, inglês e espanhol (porque vez ou outra eu e Gisele esquecíamos nossa brasilidade e nos comunicávamos no idioma dos hermanos). Já na chegada a anfitriã nos deixou muito à vontade oferecendo petiscos e um autêntico vinho argentino para descontrair os bailarinos de primeira viagem.

À esquerda (sempre) eu e Gabriel, junto aos nossos parceiros de aula, os simpáticos americanos (Foto: Gisele Teixeira/Arquivo Pessoal)


A partir daí, a descontração tomou conta e o que já estava super bacana, ficou ainda melhor. Como anfitriã, Gisele tem o poder de deixar suas visitas super à vontade. Paciente, ela explica os passos básicos e consegue arrancar dos participantes algumas performances tímidas. Depois da aula - durou cerca de uma hora - pegamos um uber e partimos para a segunda parte da experiência Tango sem Turistas: fomos a uma autêntica "milonga" - lugar onde os portenhos dançam tango.

O lugar escolhido nessa noite foi o Vuela el Pez Centro Cultural (visite, sério!). E se você já esteve em Buenos Aires visitando os espetáculos tangueiros feitos para encantar turistas e espera encontrar o mesmo na Avenida Córdoba 4379, esqueça. O Vuela el Pez é uma casa que fomenta, fortalece e promove a Cultura Popular, de forma independente e autossustentável. O lugar é incrível. Comidas (as famosas empanadas estão lá), bebidinhas (o amado ou odiado Fernet con Coca) e boa música (mecânica e ao vivo) recebem uma galera jovem e descolada que se relaciona em perfeita harmonia com senhores experientes na arte de bailar.

A simpatia da jornalista gaúcha Gisele enquanto se diverte ensinando tango (Foto: Gisele Teixeira/Arquivo Pessoal)


Foi no Vuela el Pez que nos arriscamos na pista, colocando em prática as lições recebidas no início da nossa incursão na noite de Buenos Aires. Mas não pensem que a aula ficou restrita ao apartamento da Gisele. No centro cultural continuamos a receber pequenas lições sobre a história do tango e sobre a etiqueta milongueira. Foi uma noite pra lá de agradável junto aos nossos parceiros de classe. O casal americano foi bem mais ousado que eu e se aventurou na pista mais de uma vez. Eu e a minha falta de coordenação motora precisamos de mais umas aulas, com certeza.

UMA EXPERIÊNCIA A SER VIVENCIADA


Gisele Teixeira (Arquivo Pessoal)
Se você pretende ir a Buenos Aires, inclua o Tango sem Turistas no roteiro. Ainda que você não seja um exímio bailarino, ainda que você tenha pouca ou nenhuma experiência com danças de salão, ainda que você ache que não vai conseguir. Mesmo que você esteja visitando a cidade sozinho, não deixe de procurar a Gisele. Sempre tem alguém na mesma situação e ela dá um jeito de formar um par. Ou ela mesma te conduz na aula ou pelo salão de alguma autêntica milonga argentina. Ainda que você esteja viajando com a família, se dê essa oportunidade, eu garanto que todos vão gostar. Para nós, Gabriel e eu, foi uma noite de aproximação entre mãe e filho, de cumplicidade e muitas risadas. 

Todas as informações sobre a experiência Tango sem Turistas estão nesse link




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