"Brownsville Girl", a parcerIa entre Sam Shepard e Bob Dylan

Anos 1970: Dylan e Shepard  durante a "Rolling Thunder Revue".     

Por Márcio Grings

Sam Shepard, que morreu em julho de 2017, faria 76 anos nesta terça-feira (5). Ator, escritor, roteirista, diretor, estamos falando de um dos maiores dramaturgos americanos de sua geração. Namorou Patti Smith, casado por 30 anos com a atriz Jessica Lange, autor de livros como “Crônicas de Motel” (1982), “Lua do Falcão” (1990), indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “Os eleitos” (1983), roteirista de “Paris, Texas” (1984), autor de diversos textos para teatro e parceiro de Bob Dylan em “Brownsville Girl”, faixa de destaque no álbum de “Knocked Out Loaded” (1986), tema dessa postagem.

Em ambos os sentidos, literal e figurativo, estamos falando de um épico narrativo de 11 minutos que imprevisivelmente remete às melancólicas lembranças de um amor perdido. "É engraçado como as coisas nunca saem do jeito que você planejou", observaram Dylan e Shepard em "Brownsville Girl".

Sam Shepard e Patti Smith


Não se sabe quem escreveu as partes específicas da letra, mas a história se encaixa perfeitamente no cânone literário de Shepard, com conexões a temas do Velho Oeste, o drama vívido nas fronteiras do México, mulheres misteriosas e o constante desencanto com a derrocada do sonho americano. Na verdade, a música reaproxima espíritos afins, homens decepcionados e desencantados com a fama, nos conectando a “The Gunfighter” (O Matador), filme protagonizado em 1950 por Gregory Peck.

A certa altura da música, Dylan passa do devaneio nostálgico para se inserir diretamente no próprio filme que está na fila para assistir. Ele traça paralelos o personagem de Peck, Johnny Ringo, "O Pistoleiro mais rápido do Oeste", um homem profundamente perturbado por ter se tornado um para-raios para cada jovem desesperado por fama que cruza em seu caminho.

Sam Shepard e Jessica Lange
"Ficamos trocando um monte de ideias, mas nenhuma delas chegava a lugar nenhum. Então começamos a contar histórias um para o outro", disse Shepard a Howard Sounes, um dos biógrafos de Dylan. "Uma das histórias que contou acabou se tornando a primeira estrofe da canção. Ele diz: 'Um dia estava na fila do cinema para ver um filme de Gregory Peck'. E eu disse: 'Por que não usamos isso... já que não estamos chegando a lugar algum?" Shepard também elogiou a capacidade de Dylan em transformar essa narrativa num tema musical: "Eu perguntava 'mas como você vai encaixar isso na melodia? E ele respondia 'não se preocupe, vai dar certo'. E sempre dava. O modo como ele espreme e estica o fraseado é notável", refletiu. 

Ouça. 

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