Pitty em Porto Alegre: cantora volta às origens e nos transporta para seu mundo


Foto: Alice Pozzobon
Review Ana Bittencourt Fotos Alice Pozzobon

Pitty sabe quem é e de onde veio. Isso ficou claro na no sábado (05), quando a cantora se apresentou no Pepsi on Stage, em uma noite de garoa em Porto Alegre. Mas, se fazia frio lá fora, a temperatura subiu e muito no interior da casa de shows. Com meia hora de atraso - que não chegou a incomodar a plateia - a baiana apresentou aos gaúchos a turnê do disco Matriz, lançado em abril desse ano.

Foto: Alice Pozzobon
Antes, porém, quem aqueceu a plateia foi a estreante Alice Kranen. Cantora, compositora, violonista e pianista, a gaúcha de 14 anos (sim, 14), foi convidada pelo projeto Palco Aberto e mostrou desenvoltura ao apresentar canções que vão compor seu primeiro álbum, produzido em parceria com o selo Marquise 51. Trilhando caminho na cena musical porto-alegrense, a jovem artista apresentou músicas próprias e conduziu uma bela versão de Zombie, (The Cranberries). Alice esteve acompanhada por  pelo veterano Lucas Hanke (guitarra), Lucas Georgetta (bateria) e Nico Demeneghe (baixo e teclado) - aliás, na noite em que as mulheres dominaram o palco, a jovem musicista chamou atenção no palco.

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Depois da apresentação da gaúcha, o palco foi preparado para dar lugar ao "santuário" da Pitty. Em um show com muitos efeitos visuais no telão - grande parte deles reproduções da artista plástica argentina Eva Uviedo - uma rápida introdução com "Bicho Solto" e a capa do disco "Matriz" projetada abre as portas do que o público vai presenciar nas próximas duas horas. Por sinal, um bonito adereço, figurino em que vemos Pitty com as costas nuas, vestindo um abadá de capoeira e segurando um ramo de arruda. Ao final, tudo se conecta.

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A partir daí, Ninguém é de Ninguém - canção-manifesto de amor livre - comprova que nenhum espectador vai conseguir ficar parado em qualquer setor do Pepsi on Stage. Para mim, estreante em um show da cantora, fica impossível negar a energia, a segurança e a elegância da Pitty. A mulher é muito, muito gigante no palco. É ela quem dá as cores, os timbres, a cadência e o ritmo do espetáculo. Acompanhada de músicos geniais (Martin Mendonça na guitarra, o anfitrião gaúcho Guilherme Almeida no baixo, Paulo Kishimoto no teclado e Daniel Weksler na bateria), é Pitty quem conduz o conduz o andamento das ações.

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Rebolativa na medida, vestida de preto com acessórios escarlate, sensual em uma saia rodada de tule (com generosa transparência), as tatuagens, o cabelão vermelho e piercings, Pitty seria o esteriótipo da roqueira. Mas se tem coisa que ela não quer ter ou definitivamente não tem a partir desse disco, são rótulos. Em "Matriz" Pitty traz uma musicalidade genial fortemente ligada as suas raízes baianas.

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A mistura de ritmos brasileiros e latinos fica evidente e fazem um contraste interessante com as guitarras distorcidas e a bateria enérgica do marido, Daniel. Em algum momento, assistindo de longe, pensei: "Esse rock é pra dançar!". E sim, a quantidade de pessoas, principalmente garotas, dançando como se não houvesse amanha ao meu redor comprovava que esse disco pode ser bom na vitrola, mas ele é muito, muito melhor ao vivo. Se você curte shows arrastados, é introspectivo ou mais contemplativo, certamente irá se sentir um 'peixo' fora d'água no show dessa turnê.

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Obviamente, o momento nostalgia do show não poderia falta, lindamente representado com as canções melódicas "Na Sua Estante" e "Equalize" (no bis). Mesmo hipnotizados, os fãs no Pepsi não deixaram a peteca cai e cantaram muito, muito forte ambas as canções. Foi realmente de arrepiar até o mais blasé dos espectadores.

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Outro momento tranquilo (e necessário para a galera respirar) durante o show foram as versões acústicas de "Teto de Vidro" e "O Lobo". Nesse momento, Pitty, Martin Mendonça e Guilherme Almeida pegam seus violões e, em círculo, nos transportam ao início da carreira da cantora. Inclusive, o telão exibe imagem de um quarto com paredes repletas de pôsteres. E com isso, Pitty fala à plateia sobre a lembrança da menina que cantava e tocava três acordes, "achando que podia se expressar" (palavras dela).

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"Todo mundo tem um instrumento pra se expressar. Isso aqui não é saudosismo. Isso aqui é olhar pro futuro. Bem-vindos ao meu quartinho em Salvador", afirma a baiana, comprovando que "Matriz" é sim sua volta às raízes, algo que ela já queria e sinalizava desde o disco "Setevidas". No álbum, Pitty introduz, ainda que timidamente, elementos da música africana com percussão, agogô e tambores de candomblé, tudo de forma experimental, mas que já davam a tônica de onde ela queria chegar com sua música.

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De todo modo, se alguém tentou, foi difícil ficar indiferente diante da participação especial do show em Porto Alegre: BaianaSystem. Formado em 2009, o grupo baiano que mistura rock, reggae e brasilidades fez bonito no palco junto com Pitty e banda. Juntos, tocaram duas faixas (Duas Cidades e Roda). E se a coisa já estava caótica até aqui - no melhor sentido da palavra - a catarse final veio com dois hits na sequência: "Me Adora" e "Máscara" (essa última com a participação de Alice Kranen, convidada a voltar ao palco à convite da roqueira).

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A essa altura, quem não tinha mais fôlego pôde respirar um pouco, enquanto o guitarrista Martin cantou "Bom Brasileiro", da banda gaúcha Cachorro Grande, isso já no bis. Depois dela, Pitty volta ao palco para encerrar com "Equalize" e a sempre necessária mensagem de "Serpente". Emocionante. Deu um aperto no peito, não sei explicar porquê. Mas foi um aperto bom, sabe? Acho que no coração da Pitty, dos músicos e do público rolou uma nostalgia bonita, mas com a certeza de que "logo mais, amanhã já vem". Obrigada, Pitty. Foi realmente uma grande noite. 

E o que dizer do público no Pepsi? Apesar da casa não estar lotada, a plateia fez bonito em dois momentos. O primeiro deles quando cantou "Parabéns a você" para a cantora baiana, que aniversaria nessa segunda-feira (07). E o segundo, quando entoou um recado não muito gentil ao presidente brasileiro. A manifestação foi espontânea e culminou com a entrada do BaianaSystem no palco. O que serviu para lembrar que arte é resistência.

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Nossos agradecimentos a Paulo Finatto (Opinião Produtora), pelo suporte e credenciamento e aos passageiros que fizeram essa trip acontecer. 

Setlist

Bicho solto
Ninguém é de ninguém
Admirável chip novo
Memórias
('Get Up Stand Up' from Bob… more )
Setevidas
Noite inteira
Te conecta
Na sua estante
Motor
Redimir

Acústico

Teto de vidro
O Lobo

Submersa
Duas cidades (com BaianaSystem)
Roda (com BaianaSystem)
Bahia blues
Me Adora
Máscara (com Alice Kranen)

Bis

Bom brasileiro (solo Martin Mendonça em cover da Cachorro Grande)
Equalize
Serpente

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