Nó - de Deborah Colker - Centro de Convenções da UFSM, 10 de Abril de 2019

Foto: Divulgação DC
Por Márcio Grings Fotos Camila Gonçalves (exceto indicada)

Deborah Colker é um dos nomes maiúsculos da dança no Brasil. Suas visões artísticas estão articuladas em espetáculos reconhecidos nacional/internacionalmente como "Mix" (1995), "Rota" (1997), "Casa" (1999), "4 x 4" (2002), "Dínamo" (2006), "Cruel" (2008), "Tatyana" (2011) e "Belle" (2014). Além desse protagonismo, Colker é a primeira mulher a dirigir um show do Cirque du Soleil, "Ovo" (2009). Mas foi com "Nó" (2005), montagem criada há praticamente uma década e meia, que a coreógrafa carioca veio a Santa Maria pela primeira vez. 

"'Cão Sem Plumas' (2017) me dilacerou, me esvaziou. Senti a necessidade de voltar ao 'Nó', rever o lugar onde minhas perguntas e angústias começaram a mudar. Eu tinha certeza de que não havia feito tudo o que precisava com 'Nó'", disse Deborah ao Diário de Santa Maria.     

O espetáculo, que estreou mundialmente no Tanzfestival Movimentos, em Wolfsburg, Alemanha, traz os elementos como o virtuosismo coreográfico, a precisão e o vigor dos bailarinos, a exploração e a ocupação de novos espaços cênicos. Os figurinos são do estilista Alexandre Herchcovitch, com direção de arte/cenografia de Gringo Cardia, direção musical de Berna Ceppas, iluminação de Jorginho de Carvalho e co–direção/fotografia de Flávio Colker.  

Foto: Camila Gonçalves 
No primeiro ato, os bailarinos se movimentam em meio a um emaranhado de 120 cordas. Trata-se de um impacto visual que nos deixa ligados e apreensivos. Ao londo do percurso, Deborah utiliza bondage (técnica com cordas para controle da dor, do movimento e do prazer), além de diversas modalidades de nós. A primeira parte do espetáculo incomoda, perturba, nos prepara para um climax que nunca chega. No segundo ato, saem as cordas e o palco é ocupado por uma caixa transparente de 3,1 x 2,5 metros, criação do cenógrafo Gringo Cardia. A inspiração veio de uma viagem que Deborah fez a Amsterdã, onde visitou o lendário Red Light District (Bairro da Luz Vermelha), local em que garotas de programa se expõem em vitrines nas fachadas das casas. Neste aquário gigante, feito de alumínio e policarbonato, nossos olhos nunca deixam de ficar ocupados com todas as mivimentações, dentro e fora do quadrado. O ritmo frenético das coreografias é impressionante, assim como a intensa movimentação dos bailarinos os aproxima de uma atividade esportiva. Claro, nunca nos furtando da apreciação artística.   

Foto: Camila Gonçalves
Na trilha sonora, além de criações de Berna Ceppas e Kassin, há trechos aliterados de Ravel e Alice Coltrane. Os temas colaboram para nos manter numa ambiência de permanente desconforto. Na segunda parte, preciosidades do jazz como "My One and Only Love", de Chet Baker; "Coisa nº 9", de Moacir Santos; e "Preciso Aprender a ser Só", de Marcos Valle/Paulo Sergio Valle, na voz da diva Elizeth Cardoso, surgem como composições sonoras que emprestam cores fidedignas as ações. Espetáculo visual que levou um bom público até o Centro de Convenções da UFSM, a produção local teve a mão firme da sempre competente e inovadora Cida Herok (Cida Cultural), produtora de eventos que tantos espetáculos trouxe a Santa Maria e que toda vez que retorna a cidade nos brinda com o melhor da cultura do nosso tempo.

Flavi Lisboa (Pró-Reitor de Extensão da UFSM), Cida Herok (Cida Cultural) e Paulo Burmann (Reitor da UFSM). Foto: Camila Gonçalves
     

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