Review: Paul McCartney "Egypt Station"

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Por Márcio Grings

Não sei quanto a vocês, mas quanto a mim, toda vez que Paul McCartney lança um novo álbum, um evento instantâneo se instala no dia programado para conhecermos o debute de sua nova leva de canções. E eis que nesse dia 7, foi liberada nas plataformas de streaming a audição de "Egypt Station", 17º trabalho de estúdio do ex-beatle. 

Aos 76 anos, o mesmo homem que ajudou a forjar a música que faz a trilha de nossas vidas parece ainda encontrar motivações para seguir em frente. Porém, é claro que somos permeados por visões de Paulie em suas encarnações anteriores, seja com os Beatles, ou até mesmo com o Wings. E tudo começa com a capa, um aceno ao amigo George e seu álbum "Gone Troppo".

Paul e George - "Egyptian Station" (2018) e "Gone Toppp" (1982). Reprodução





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"I dont know" abre o disco com ares promissores, uma típica balada mccarteniana pronta para ganhar o coração dos fãs. "Come on to me" certamente entra direto no setlist de suas futuras apresentações, tema que possui gema semelhante ao material produzido em "New", até então seu último e excelente álbum de estúdio. Há também resquícios de Wings, principalmente na linguagem dos metais e linhas de guitarra. "Happy with you" é Paul em sua melhor forma acústica, faixa que dá as tintas que o casamento com a norte-americana Nancy Shevell continua a inspirá-lo. "Who cares" começa num clima hendrixiano de distorção para depois se desdobrar num rock ao estilo dos anos 1970. Mais um número que leva selo de qualidade Wings, e outro tema de "Egypt station" que certamente irá soar ainda melhor ao vivo.     

"Fuh you" é puro pop, uma amostra de que o velho Paul continua ligado na atual cena da música internacional. "Confidante" novamente coloca o violão na linha de frente e sobe direto ao alto do pódio como um dos grandes momentos do álbum. Em "People want peace" o velho guerreiro do pop continua hasteando sua bandeira pacifista. "Hand in hand", uma piano song das boas, podemos encontrar uma clara demonstração de que em alguns momentos "Egypt station" equilibra a utilização da parafernália tecnológica e o minimalismo de um arranjo semi-erudito, ao estilo de uma velha canção tradicional britânica. "Dominoes" segue inicialmente em ideário semelhante, no entanto, quando a banda toma conta da canção, ganhamos outro capítulo em que o Wings ressurge em nossa memória.

Apesar de toda a expectativa que cercava a audição de "Back in Brazil", eis o primeiro anticlímax de "Egypt Station". Uma música que parece não chega a lugar algum, pois os acentos assinalados em prol de uma ligação com a música brasileira - e aí podemos usar como referência o som made in brazil tipo exportação ao estilo do que faz Sérgio Mendes - não consegue nem ao menos sombrear essa linhagem, com o resultado final beirando o caricato e descartável. "Do it now" coloca novamente o disco nos trilhos, uma bonita canção com vocais de apoio em destaque. "Caeser rock" deixa uma sensação de ser uma das fillers do álbum, ou uma outra prova de que mesmo com o passar dos anos, apesar de percebermos uma mudança gradual no voz de Paul, ele ainda consegue ser um ótimo vocalista. 

E já no epílogo da audição, a trinca de sons "Despite repeat warnings", a vinheta "Station II" e principalmente "Hunt you down/Naked/C-link", uma colcha de retalhos colorida até mesmo por um interessante recorte de blues, a impressão final é de que o álbum já pode acabar. Sem problemas, apenas pela primeira metade de "Egypt station", nosso velho companheiro de idas e vindas, Sir Paul McCartney, já consegue nos deixar com cara de bobo, com aquela certeza de que o homem ainda não perdeu sua genialidade e poder de encantamento. 

Ouça.
   

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