Yoñlu - o filme, primeiro longa de Hique Montanari, estreia nos cinemas


Vinicius Gageiro Marques (Foto: Reprodução/Internet)

Por Ana Bittencourt

"Ele não precisou sair do quarto para que o mundo ouvisse suas angústias". A frase, utilizada na divulgação do filme brasileiro Yoñlu, sintetiza a essência do que veremos nas telas a partir de 30 de agosto, quando estreia nacionalmente o longa metragem dirigido por Hique Montanari. A cinebiografia, baseada na história real de Vinicius Gageiro Marques, conta a história de vida e morte do garoto que, aos 16 anos, cometeu suicídio dentro do próprio apartamento, em Porto Alegre, no dia 26 de julho de 2006, incentivado por usuários de um fórum na internet.

Com talento e habilidade  para a música, a literatura, os idiomas e para a fotografia, Vinicius era filho único. Alfabetizado em francês (durante o doutorado da mãe em Paris), Vinicius tinha o inglês como idioma fluente e sempre foi ligado às artes em geral.

(Foto: Reprodução/Facebook)

Precoce e mergulhado no próprio universo, Vinicius foi compositor e produtor de suas próprias canções em um estúdio improvisado no quarto de casa. Deixou cerca de 60 músicas prontas. Destas, 23 entraram em um cd póstumo lançado pelo selo goiano Allegro Discos (ouça aqui e saiba mais sobre esse disco, aqui). O disco ganhou repercussão e reconhecimento internacional, tanto que foi relançado pelo selo  novaiorquino Luaka Bop, do músico David Byrne, com o título A society in which no tear is shed is inconceavably mediocre (Uma sociedade na qual nenhuma lágrima derramada é inconcebivelmente medíocre).

Aqui, no nosso quintal, quem manifesta respeito e admiração pela obra de Vinicius é o músico gaúcho Arthur de Faria. Aliás, o pianista, compositor, produtor musical, arranjador e jornalista foi uma das primeiras pessoas a ouvir as canções de Yoñlu e intermediou o lançamento do disco pela gravadora americana.

Mas, o que vale agora é falar sobre o filme Yoñlu, o primeiro longa do diretor gaúcho Hique Montanari, que já passou pela Facos (Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria e estagiou em uma das mais longevas agências da cidade, a ArtMeio). No papel título está o jovem ator Thalles Cabral que, além de interpretar, também executa algumas canções de Vinicius durante o filme.

Pelo trailer (veja abaixo), a produção já dá pistas sobre o que poderemos assistir nas telonas. Técnicas narrativas variadas, animações produzidas a partir de desenhos assinados por Vinicius, estética pop com uma pegada experimental e fantástica. Antes mesmo de entrar na programação dos cinemas brasileiros, o longa já deu a Hique o prêmio de Melhor Diretor Estreante na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Também consta na seleção oficial dos festivais do Rio e de Madri, na Espanha. Recentemente, foi selecionado para a Mostra Gaúcha de Longas no Festival de Cinema de Gramado (RS). Portanto, estejamos atentos à estreia. Nelson Diniz (A Oeste do Fim do Mundo), Leonardo Machado (Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos) e Mirna Spritzer (O Mercado de Notícias) também estão no elenco.




Enfim, eu não me atrevo a tentar sintetizar a personalidade sensível e suscetível às dores do mundo, muito menos a história de vida e morte de Vinicius, extremamente complexa e cheia de detalhes difíceis de explicar em um texto só. Por isso, o blogue sugere ao leitor que busque informações sobre Yoñlu. Tem muito conteúdo (bom!) sobre ele na internet. Um deles é a extensa matéria publicada na Revista Época, em fevereiro de 2008, com o título Suicídio.com e assinada pela espetacular Eliane Brum, em parceria com Solange Azevedo, ou ainda, o texto visceral chamado "Canções para viver mais", escrito pelo jornalista Marcelo Ferla e publicado na revista Rolling Stone, em março do mesmo ano.

Mais do que contar a história de um moleque de 16 anos que cometeu o autoextermínino para cessar a dor da própria existência, Yoñlu - o filme, vai nos colocar diante de um talento artístico e musical raro e emblemático. Para mim, fã incondicional desde que "conheci" Vinicius no exato dia de sua morte, resta a sensação da minha falta de oportunidade para oferecer-lhe um abraço, além da frustração de não ter conseguido ajudá-lo. Fica bem, Pipoca.

Lembre-se: Se você precisa conversar, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida, pelo telefone 188. As ligações são gratuitas e podem ser feitas de qualquer telefone, celular ou convencional. O serviço funciona durante 24h, todos os dias da semana. 

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