Depois do vinil... Eis que a fita cassete promove uma volta triunfal ao mundo físico


Reprodução www.digitalmusicnews.com
Os discos de vinil não são o único formato de comercialização de música em ascensão. Nos últimos anos, a clássica fita cassete também vem crescendo em popularidade. Falando especificamente no mercado norte-americano, de acordo com a BuzzAngle, as vendas de fitas cassete apenas nos Estados Unidos aumentaram 136,1% apenas em um ano, isso tomando por base os anos de 2016/2017. Trata-se de uma tendência de crescimento que simplesmente passou despercebida por grande parte dos aficionados em música. 

"Eu sou diferente; estou cercado de aparelhos analógicos: tive dois pianos de 400 quilos e por três anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensações... Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos; o digital não pesa, não tem cheiro, não opõe resistência, você passa um dedo e pronto... É a abolição da realidade (...)  A terra é mais do que dígitos e números". Essa declaração do filósofo sul-coreano Byiung-Chun Han vai de encontro a essa necessidade de alguns de nós em se conectar com o físico, uma negação ao mundo virtual e sem encartes ilustrativos, fazendo fila ao levante contra o insípido mundo do streaming. 

A inesperada demanda pelo cassete também pluga-se a um novo revival pelos formatos físicos de se ouvir música, não é um piano de 400 quilos, mas também vale o quanto pesa. Ainda falando do mercado estadunidense, durante a temporada de férias de 2017 (tecnicamente de 17 de novembro a 28 de dezembro), 69% dos álbuns comprados foram álbuns físicos (CDs, discos de vinil ou cassetes). Com um aumento de 130% desde a temporada de férias de 2016, um total de 26.699 fitas cassete foram vendidas durante esse período apenas no ano passado. 

Também de acordo com o BuzzAngle, as vendas de cassetes aproximaram-se de 100.000 unidades em 2017. Isso equivale a apenas 0,1% do total de vendas de álbuns físicos. Como CDs vivem um longo período de ocaso, as fitas cassete e os discos de vinil estão preenchendo o vazio físico. Surpreendentemente, discos de vinil estão entrando em seu décimo segundo ano consecutivo de retorno, impulsionado em grande parte pela nostalgia. Já de acordo com a Nielsen Music, em 2017 a venda de 14,3 milhões vinis apenas nos EUA, não deixa de ser uma marca assombrosa - apenas 'Sgt Peppers', dos Beatles, foi responsável pela inimaginável marca de 72 mil unidades vendidas.  

Mas daí fica a pergunta: será que a volta das fitas não passa de uma daqueles modismos passageiros? Certamente essa é uma pergunta interessante de responder. De fato, algumas séries de sucesso como Stranger Things, do Netflix - lançaram suas trilhas sonoras em cassete, estimulando o mercado das fitinhas. Recentemente o relançamento de "Purple Rain" de Prince e "Nevermind", do Nirvana, ajudaram ainda mais a reaquecer essa chama.  Assim como no vinil, eu aposto minhas fichas na volta  por cima dos cassetes. E nas entrelinhas dessa epopeia do retorno de um novo morto vivo da cultura pop, novas tecnologias na fabricação das fitas, aliada a relançamentos até mesmo aqui no Brasil, revelam que o defunto foi enterrado em cova rasa!  

Divulgação Polysom
Acreditem - a Polysom, conhecido selo que distribui vinis aqui no país, começou no último mês de maio a produzir cassetes. A fábrica tem capacidade inicial de produção de 4 mil cassetes por mês, com artes impressas nas fitas em tinta UV, até quatro cores, sendo que os próprios invólucros dos cassetes terão várias cores disponíveis. Os primeiros títulos anunciados são "Tranquility Base Hotel & Casino", do Arctic Monkeys, "Usuário", do Planet Hemp, "(Des) Concerto ao Vivo", de Pitty e "Voz e Violão – No Recreio – Volume 1", de Nando Reis. Alguém tem dúvida de que esse retorno não é apenas um exercício nostálgico? Sim, não tem 400 quilos, pesa só algumas gramas, mas está fazendo um barulho danado nos ouvidos dos amantes da música. Quem viver verá...     

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