77 músicas para os 77 anos de Bob Dylan

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Bob Dylan. Nascido Robert Allen Zimmerman, em Duluth (MN), em 24 de maio de 1941. Foto: divulgação

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Por Márcio Grings

No prefácio escrito por Kid Vinil no livro "A Estrada Revisitada", tradução de letras de bob Dylan organizada por Isabel Bing, o saudoso VJ/radialista decreta: "Bob Dylan é um tratado de vida". No caso do poeta Allen Ginsberg, houve um instantâneo arrebatamento: "Ao ouvi-lo, pensei que uma alma apenas segurava a tocha da América". Bono Vox, líder do U2, proclama: "Dylan tem muito mais do que três acordes e a verdade". Frank Sinatra poetiza: "Me impressiona seu tom de voz. É como um cello". Ganhador de Grammys, do Oscar de Melhor Música, laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, verdadeiro 'Campeão de Tudo' em sua carreira - e distante de algum possível rumor de aposentadoria, ele continua por aí. No final de Julho, Dylan e sua banda voltam à estrada para shows com o Never Ending Tour (turnê sem fim) por Tóquio, Cingapura, Hong Kong e várias cidades da Nova Zelândia e Austrália. Hey, Bob! Não esqueça do Brasil!

Arte: howtodraweasy.com
Relembre passagens de Bob Dylan por Porto Alegre:
- 07.04.1998
- 24.04.2012  

"Dylan lo que Dylan, Dylan for ever", parafraseou uma sentença pintada no Palácio de Esportes de Madrid, em abril de 1999, brincando com a expressão "digan lo que digan" (digam o que disserem). O amigo Kris Kristoferson decreta: "Bob Dylan é como Einstein. É como um disparo divino". Tom Petty, seu colega no Travelling Wilburys e sideman de Bob durante uma turnê realizada na segunda metade dos anos 1980, destila seu peculiar sarcasmo: "É um tipo normal. Se você perguntar as horas, ele te diz".    

Divulgação
Detratores como o escritor Truman Capote, pensam diferente: "Sempre achei que Dylan é um farsante. É um hipócrita, nunca entendi por que as pessoas gostam de sua música. Não sabe cantar".  Pro inferno, Capote! Ou melhor, permaneça por lá, já que você não aprendeu porra nenhuma enquanto esteve entre nós. A abrangência de Bob Dylan na música pop rompe todas as fronteiras: "Ele influenciou cada compositor do rock''n'roll", reflete Joan Baez. "Bob é simplesmente o maior. A força de suas letras ofusca todos os outros compositores", reforça John Sebastian. David Crosby vai mais longe: "Em alguns momentos de sua carreira como compositor, ele conseguiu cristalizar as coisas tão bem que elas irão durar uns mil anos na história humana. Se não nos destruirmos até lá, no ano 3000, alguém, em algum lugar, estará cantando 'he not busy being born is busy dying'. Isso, além de ser bastante significativo, é uma contribuição sem precedentes à arte". Para resumir seu testemunho a favor do artista, Crosby cita um trecho de "It's All Right, Ma! (I'm only bleeding)", um de seus temas mais viscerais compostos ainda na primeira metade dos anos 1960.  

Foto: Paolo Brillo
Sobre outro clássico, "Like a rolling stone", eis o que disse Frank Zappa: "Quando a escutei, pensei em abandonar o ramo da música". Ainda nessa tecla, Bruce Springsteen remonta sua epifania com a música: "A primeira vez que escutei Bob Dylan, estava no carro, com a minha mãe, ouvindo uma estação de rádio qualquer. De repente entra aquela batida... Parecia que alguém tinha aberto a chutes a porta da minha cabeça - 'Like a rolling stone'. Sabia que tinha ouvido a voz mais dura até então. Era uma voz pequena e, por alguma razão, parecia jovem e adulta ao mesmo tempo" Jerry Garcia, guitarrista do Grateful Dead, nos dá outra nuança: "Ele tirou o rock'n'roll do domínio dos ignorantes que martelavam instrumentos elétricos e o colocou em um patamar completamente diferente".

Foto: Paolo Brillo
E ao lembrarmos do bordão "envelhecer como vinho"? Brian Ferry faz o brinde simbólico sobre o teste do tempo: "Ele levou a poesia para a música pop e foi quem, de verdade, iniciou o lance de artista/compositor. Várias de suas canções parecem se tornar mais profundas à medida em que envelhecemos". E como seria o mundo da música sem Bob Dylan? George Harrison rascunha: "Já imaginaram como seria o planeta se Bob Dylan não existisse? Seria horrível!".

2012 - Dylan recebendo das mãos do Presidente norte-americano Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade. "Eu me lembro quando estava na faculdade, de ouvir Bob Dylan e ver meu mundo se abrindo. Ele capturou os detalhes mais vitais desse país", disse Obama. Foto: Charles Dharapak
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E há tanta identificação naquilo que ouvimos em seus discos: "É como se suas canções refletissem nossa vida", afirma Rosane Cash. "Os pontos de vista de Dylan acabaram se tornando um mapa - tortuoso e áspero; labiríntico e eventualmente sem saída, mas, ainda assim, uma mapa - para toda a história da música e da cultura pop", teoriza o jornalista Eduardo 'Peninha' Bueno. "Um roteiro sem portos seguros para uma, duas, talvez três gerações. A trilha - não apenas sonora - que ele abriu, e ao longo da qual percorreu todas as estações, manteve seus seguidores à beira do abismo. Bob Dylan queimou as pontes que o levaram até onde ele está. E nunca olhou para trás. Entrou em todas e deu um jeito de sair delas. Esteve em muitas, não ficou em nenhuma. Bob Dylan não está nem aí. Mas talvez também não esteja mais lá. Bob Dylan nem sabe quem Bob Dylan é. Nem ele nem ninguém", complementa o jornalista gaúcho.     

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2015 - Bob Dylan falando durante homenagem recebida pelo Musicares. Foto: Billboard
E esse lance de que muitas pessoas acham que tanto Dylan quanto sua música são um tanto sisudas, num permanente estado de flerte com o lado cinzento da existência? Já ouviram falar disso? Peter Seger dá o tom e o defende: "É de uma superficialidade pensar que os artistas devem estar sempre felizes. De fato, me lembro de uma frase de Bob: 'Feliz? Qualquer um pode ser feliz. De que serve isso?". 

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Foto: Courtesy of REX/Shutterstock
E se vamos falar de ufanismos, Bono retorna à nossa lembrança com outra frase das boas: "Bob Dylan! É como tentar falar com as pirâmides. O que você faz? Dá um passo atrás e fica embasbacado". E falando sobre monumentos e patrimônios da humanidade, David Gray conclui nossa homenagem aos 77 anos anos do poeta: "Dylan é como os Beatles ou a Torre Eiffel - ele está lá, sua presença é tão forte que ninguém o vê mais". 

Parabéns, Bob! Nos vemos em algum show do porvir, ou quem sabe daqui a pouco, já no próximo tête-à-tête com o toca discos. Pode ser logo abaixo... 77 músicas, 6h20 de som para lembrarmos os 77 anos do nosso herói.
       

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