RESENHA: Neil Young "Hitchhiker"

Divulgação
Em 1976, Neil Young, então com 30 anos e no auge de sua força criativa, gravou em apenas uma sessão, o álbum acústico intitulado "Hitchhiker". Esse conjunto de canções acabou por nunca ser lançado no formato em que foi concebido: voz, violão e harmônica. Há também uma piano song, "The Old Country Waltz".

Na verdade, várias das canções foram se desdobrando e se encaixando em projetos posteriores do músico, e apenas dois temas permaneceram inéditos: "Hawaii" e "Give me Strength". Quanto ao restante, a radiografia é a seguinte - "The Old Country Waltz" foi gravada ao estilo country band em "American Star N' Bars" (1976); "Campaigner" entrou como faixa inédita da coletânea "Decade" (1978); "Human Highway" abre o Lado B de "Comes A Time (1978); "Pocahontas", Powderfinger" e "Ride My Llma" se encaixaram em "Rust Never Sleeps" (1979); "Captain Kennedy" fecha o Lado A do ainda subestimado "Hawks and Doves" (1980). E por último, a faixa título, reapareceu elétrica em "Le Noise" (2010).

Com produção de David Briggs, as dez faixas acabaram por nunca serem lançadas nessa ordem. Autossabotagem? Tentando entender os 'por quês' do projeto ter sido abortado, acredito que parte dessa decisão passe pela própria profusão artística do compositor. Apesar do minimalismo da produção, as canções de Young apontam para várias direções, há pouca unidade entre elas. No entanto, é uma amostra do poder de fogo de Neil Young, um compositor rumo ao topo, prestes a finalizar a década de 1970 como um dos mais respeitados músicos de seu tempo. E comparadas as gravações que acabamos conhecendo dos discos, hoje, muitas das músicas de "Hitchhiker" soam como 'demos' de luxo. É o caso de "Powderfinger" e "The Old Country Waltz", completamente remodeladas em seus consequentes registros. Tanto que parte da ideia central da faixa título acabou virando outra música (Like an Inca), um dos melhores momentos do contestado álbum eletrônico "Trans" (1983). 

Na verdade, como registro histórico, o disco é fantástico. É Neil na ponta dos cascos (sem altos e baixos), prolífico e sintonizado com um recorte específico do final do século XX, mas que ainda a soar atual e não apenas relevante, bem mais do que isso: genial! Genialidade que parece ter desbotado nos seus últimos discos, mais precisamente (e praticamente) em todos os álbuns que lançou na virada do ano 2.000. Na minha opinião, depois de passar pela década de 1990 com um disco melhor que o outro, o último resquício extraordinário do músico canadense é o arrebatador "Silver & Gold" (2001). Mas falando ainda em tesouros, temos a certeza de que toda a prata e todo o ouro de Neil Young estão distribuídas em uma carreira brilhante. Sim, porque mesmo pilotando discos irregulares como "Greendale" (2003), essa bolacha contém pérolas como "Falling From Above", ou então "Living With The War" (2006), play que nos deu temas como "The Restless Consumer", 

Mas que grande disco pra se abandonar é esse "Hitchhiker"! Só os gênios podem nos proporcionar essas bolhas soltas no tempo. Estou em plena viagem nessa trip.

Ouça o álbum completo.

Comentários