Resenha: "Capitão Fantástico" (2016)
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Henry David Thoreau |
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Falo de Henry David Thoreau antes
de começar a falar de “Capitão Fantástico” (2016), filme que acabo de ver, porque a co-relação entre o conteúdo filosófico das duas obras encontram muitas similaridades. A princípio o título também evoca Walt Whitman (lembram-se de ‘Oh, Capitain, my
Captain’?), pois o referido ‘capitão’, ou o Ben Cash materializado por Viggo
Mortensen, também revela sua fascinação pela literatura e a reverberação épica dessa influência. O longa dirigido por Matt Ross é recheado de recortes e citações literárias, assim como em muitos momentos a retórica do protagonista poderia ser colocada 'entre aspas', mesmo assim sem perder a originalidade ou a coerência com o enredo.
E antes de ser um revolucionário
contra métodos deteriorados do nosso cotidiano, ele também atrela sua
família a esse modo de vida peculiar e imerso no isolamento. Sem internet, games, e qualquer suposto artificie nefasto de contaminação com a sociedade, a figura paterna do filme
impõe uma intenção ditatorial de se conectar apenas com fontes ancestrais de
conhecimento e sobrevivência. Com isso, o linguista, filósofo e ativista norte-americano Noam
Chomski passa a perna no Papai Noel e a data de nascimento de Chomski é comemorada como
o Natal dos Cash.
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Antes de sua esposa cortar os
pulsos e cometer suicídio, Ben também cortou os laços que o uniam a sua família
com o restante do mundo. E aí reside uma das forças motrizes do filme – o
confronto entre uma existência familiar que busca no isolamento a solução final, versus a consequente tentativa de blindagem dessa
influência externa da sociedade. E num mundo repleto de desvios e inverdades, Ben nunca se furta de falar a verdade, doa a quem doer, como por exemplo no instante que comunica sem rodeios o suicídio da mãe a seus filhos.
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E o tsunami emocional do enredo se dá justamente
no velório da esposa de Ben, quando o choque de estilos de vida promove o
grande embate e o importante debate do filme. E é dessa forma que a principal
virtude do roteiro original de Matt Ross também se impõe, quando a escolha por um
caminho do meio em sua narrativa, passa a bola para o espectador tomar para si
qualquer tipo de julgamento ou conclusão.
Esse é o ponto nevrálgico do enlace que ecoa entre a filosofia de Thoreau e a história de “Capitão Fantástico”
– tanto o livro quanto o filme podem nos inspirar a buscarmos uma vida
menos materialista e mais simples. E se “Walden” é considerado por muitos uma
publicação maniqueísta que refuta qualquer outra direção a não ser a percorrida pelo próprio autor, o recado de “Capitão Fantástico” é que se dosarmos esse embate contra o materialismo, o resultado desse equilíbrio pode melhorar e transformar a experiência humana.
Veja o filme completo e ouça a trilha sonora no player abaixo.
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q lixo
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