Iggy Pop, 70 anos. Confira entrevista com biógrafo Paul Trynka
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Nesta sexta-feira Iggy Pop completa 70 anos. Há poucos dias,
vendo o documentário “Danny Says” (disponível no Netflix) , me diverti com um breve entrevista dele no
filme. Danny foi empresário dos Stooges (primeira banda de Iggy) e também foi o cara que promoveu o encontro entre Iggy Pop e David Bowie, que terminaria por produzir "The Idiot" (1977), um dos melhores álbuns do cantor. A palavra 'sobrevivente' parece fazer um sentido danado quando imaginamos a figura esquálida de Iggy. Não sou um grande fã de Iggy, mas admiro sua reinvenção nos últimos discos.
Reproduzo aqui no Memorabilia uma entrevista com o biógrafo do músico,
Paul Trynka, matéria publicada no site do Jornal O Globo Quem assina a reportagem é o jornalista Pedro Só.
>> Como diz o jornalista inglês Paul Trynka, autor de
sua biografia definitiva (“A vida e a música de Iggy Pop — Open up and bleed”,
Editora Aleph), o inoxidável pioneiro do punk “não vai entrar docilmente na boa
noite”. Manco há mais de uma década, por conta de lesões maltratadas no
tornozelo e no quadril, o cantor é o primeiro a brincar com as perdas de
audição sofridas (“estou surdo feito uma pedra”, disse, em recente entrevista).
Ainda assim, com um vasto passado de hábitos autodestrutivos dentro e fora dos
palcos, Iggy Pop chega aos 70 anos — completos hoje — com uma performance ao
vivo energética e atlética. A partir de maio, sai em turnê que inclui noites
como atração principal em festivais nos Estados Unidos e na Europa.
No ano passado, lançou um dos melhores discos de toda sua
carreira (na opinião de Trynka e de boa parte da crítica mundial), “Post pop
depression”, feito com a ajuda de Josh Homme (Queens of the Stone Age), um dos
mais respeitados nomes do rock atual.
Iggy segue subvertendo até mesmo a imagem que construiu nas
seis primeiras décadas de vida. Seu mais recente projeto é o documentário
“Permanecer vivo — Um método”, em que aparece ao lado de seu amigo e fã, o
polêmico escritor francês Michel Houellebecq (autor do roteiro, coassinado pelo
diretor, o holandês Erik Lieshout). Atração do festival É Tudo Verdade, o filme
tem exibição hoje, às 19h, no Espaço Itaú de Cinema, e na próxima terça-feira,
dia 25, às 13h, no Espaço Cultural BNDES, no Rio.
Baseado em um texto de Houellebecq, “Permanecer vivo” pode
ser definido como uma espécie de autoajuda culta e levemente deprê, com direito
a truques como o uso de “Adagio for strings”, de Samuel Barber, na trilha. Mas
mostra um lado denso e inusitado do sempre inquieto Mr. Osterberg.
Filho de um professor de high school e de uma secretária,
James Newell Osterberg Jr. foi criado em um trailer, na periferia de Detroit.
Tinha bronquite e tirava ótimas notas. Autoapelido: Cérebro Atômico.
Ao GLOBO, Trynka, que também biografou David Bowie e Brian
Jones, situa Iggy como um dos mais importantes sobreviventes do rock e comenta
sua chegada à marca dos 70.
Como você vê Iggy Pop
chegar aos 70 anos, subvertendo o estereótipo do punk selvagem com projetos
como “Permanecer vivo”, depois de ter feito dois discos de chanson francesa e
jazz, “Préliminaires” (2009) e Après (2012)?
Eu adorei “Préliminaires”. Sempre achei que ele tinha uma
voz magnífica, que poderia funcionar em diferentes ambientações. Mas fiquei
surpreso mesmo foi com o quanto é bom seu último álbum, “Post pop depression”.
É um dos pontos altos da carreira dele! Então creio que Iggy não vai “entrar
docilmente na boa noite” (citação do famoso poema de Dylan Thomas “Do not go
gentle into that good night”, sobre o fim da vida).
A biografia “Open up
and bleed”, de sua autoria, conta a história de Iggy Pop até 2006. Nos últimos
11 anos, ele conseguiu se tornar muito mais bem-sucedido em termos financeiros.
Você esperava que isso acontecesse?
Ele foi um pioneiro, e pioneiros sempre levam todas as
flechadas. Mas sempre achei que, se Iggy continuasse em atividade por muitos
anos, daria tempo para o mundo alcançar o que ele fazia. Foi o que ocorreu.
De todas as mudanças
e escolhas criativas de Iggy Pop nos últimos dez anos, qual o surpreendeu mais?
Acho que nenhuma foi exatamente um choque. O que ainda é
chocante é ver aquele senhor algo frágil de fora dos palcos se transformar ao
entrar em ação: a idade cai, e o peso dos anos some imediatamente.
Você é um estudioso
do jeans (lançou em 2002 “Denim: dos caubóis para as passarelas”, não editado
no Brasil). Sabia que em uma das passagens pelo Rio (a segunda, em 2004), Iggy
comprou, virou fã e passou a usar calças da Gang, marca de modelagem
superjusta?
Hahaha! Bem, ele sempre foi um pioneiro nessa área. Quando
deixou Ann Arbor (sua cidade natal, nos arredores de Detroit) para gravar
“Funhouse” com os Stooges em 1970, levou apenas um par de jeans, e esse foi
basicamente todo o seu guarda-roupa por muito tempo. À medida que essa calça
foi se desgastando e se acabando, ele ajudou a criar a moda dos jeans rasgados.
Você mantém contato
com Iggy Pop? Como ficou a relação com o biografado após o lançamento do livro?
Eu fui bem próximo dele durante o tempo em que trabalhei no
livro — embora não fosse uma biografia autorizada, ele foi bastante aberto e
colaborativo. Desde então, tivemos apenas interações esporádicas. Não deve ser
fácil lidar com alguém que investigou a fundo meandros e recantos escuros da
sua vida. Mas ele foi legal comigo, mostrou-se grato por ter feito um trabalho
digno: um grande livro para celebrar uma grande vida.
O que você aprendeu
ao investigar a vida de Iggy Pop e pôde aplicar na sua vida pessoal?
Foi uma viagem estranha. Demorei muito tempo e viajei pra
bem longe. Tantas pessoas que eu entrevistei morreram nos últimos anos... Acho
que isso me estimulou a amar a vida e usar melhor o tempo que nós temos, sem
desperdícios.
Você também escreveu
biografias de David Bowie (“Starman”, de 2011) e Brian Jones (“Sympathy for the
devil”, de 2015) — ambas inéditas no Brasil. Na obra sobre o stone morto em
1969, Mick Jagger e Keith Richards têm sua importância dentro da banda
redimensionada. Diria que Iggy Pop é o mais importante roqueiro vivo?
Eu não acredito em rankings para a arte! O que posso dizer é
que Iggy mudou a forma como a música é feita. O efeito disso está em volta de
todos nós, podemos senti-lo ligando o rádio ou dando uma volta pela rua. Em
termos de impacto no mundo, acho bastante difícil superar isso.
Como você vê a
mitologia do rock daqui a dez, quinze anos, quando todos os maiores nomes
provavelmente não estarão mais em ação?
Tem sido esquisita pra mim esta última década. Meu primeiro
grande livro foi uma história oral do blues, que me levou a entrevistar pessoas
incríveis como John Lee Hooker (1917-2001), B. B. King (1925-2015) e Johnny
Guitar Watson (1935-1996), entre tantos outros. Eram caras sensacionais, que de
muitas maneiras ainda pareciam jovens para mim, porque a música deles estava
forte. Agora quase todos eles se foram, é difícil lidar com isso. Como é que
todos aqueles caras cheios de vida foram se transformar em simples verbetes, em
História? Mas basta que poucas pessoas ouçam os discos, e os artistas se tornam
jovens de novo. O poder da música deles ainda fala para todos nós >>>
Link original da entrevista realizada por Pedro Só
Link original da entrevista realizada por Pedro Só
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