JEFF BUCKLEY - YOU AND I

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No dia do lançamento mundial de "You and I", disco que revela interpretações inéditas de Jeff Buckley, o álbum passou batido pelos grandes jornais/sites do país. De todo o modo, arrisco a dizer que "You and I" será incensado por muitos como um dos grandes lançamentos do ano. 

Aguardem! 

O músico norte-americano que nos deixou há quase vinte anos, é uma gema única na música POP do nosso tempo. Seja como intérprete ou instrumentista, Buckley é sem dúvida um talento incomparável, uma ilha no contexto do rock. 

Bem, se por aqui o evento passou batido, em Portugal, o jornal Diário de Notícias publicou uma longa matéria assinada pela jornalista Mariana Pereira. 

Acabo de ouvir o disco. Posso dizer que ainda vivo uma plena sensação de arrebatamento. Destaco as releituras dos Smiths (The Boy in the Thorn in His Side e I Know It's Over);  a ginga de "Everyday People", de Sly Stone; Buckey emulando Billie Holiday em "Don't Let The Sun Catch You Cryin" e principalmente uma das versões mais bonitas de "Just Like a Woman" (Bob Dylan) já ouvidas por este que escreve essas linhas. 


E ainda tem a inédita "Dream and You and I", revelada com uma informalidade espetacular, como se Jeff estivesse nos apresentando sentando na sala de casa, explicando como a canção surgiu e o que a música significa. Ah, fãs de Led Zeppelin, não deixem de ouvir "Night Flight", uma das pérolas de "Physical Graffiti" relida de uma forma não menos despretensiosa e genial, além do tema principal do filme "Bagda Café".

Tudo isso em clima de demo, apenas acompanhado pelo violão, guitarra (limpinha sem nenhum efeito), ou dobro, como no blues "Poor Boy Long Way From Home". OUÇA "You and I", na íntegra AQUI


Abaixo a versão online da matéria publicada nesta sexta-feira no jornal português Link original 


Em 29 de maio de 1997, Jeff Buckley morria afogado em Memphis, no rio Wolf. Tinha 30 anos. Mas viveu, tocou, cantou e compôs o suficiente para que entre Jimmy Page, PJ Harvey, Thom Yorke ou Bono não exista alguém que não diga que foi extraordinário. Entre o que cantou e tocou estão os inéditos que compõem “You and I”, lançado hoje (11/3), composto por temas gravados na altura em que Buckley acabava de entrar nos estúdios da Columbia Records.

Estávamos em 1993 e ainda não existia o EP gravado no Sin-é - pequeno café nova-iorquino que servia comida, café e cerveja, não tinha palco, e onde Jeff, que fez dele a sua casa musical, chegava a lavar pratos. Nem existia ainda o seu único álbum de estúdio, o mítico Grace.
“You and I”, o nome que vem da canção que Buckley diz ter ouvido num sonho e canta ali, “Dream of You and I”. No disco canta ainda “Just Like a Woman”, de Bob Dylan. Tema que já havíamos escutado numa edição póstuma de “Live at Sin-é”, a que foram acrescentadas várias canções às quatro originais.

De Jeff Buckley, que muitos conhecerão por covers icónicos de canções que, se assim se puder dizer, fez suas, como “Lilac Wine”, de Nina Simone, ou “Hallelujah”, de Leonard Cohen, escutamos ainda em “You and I”, produzido pela mãe do músico, Mary Guibert, um clássico dos blues: “Poor Boy Long Way from Home”.
Billie, Beatles, Piaf

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Lembramo-nos, então, como se alguma vez a sua música o tivesse deixado esquecer, de que forma grandes nomes dos blues como Robert Johnson ou Son House foram influências para Buckley. A par de Billie Holliday, Beatles, Edith Piaf, Nusrat Fateh Ali Khan ou Judy Garland, dizia o autor de “Lover, You Should"ve Come Over”, um dos grandes temas de Grace. Como nos lembramos de que Buckley deu voz e guitarra a “I Know It"s Over”, dos Smiths, que volta a aparecer em “You and I” a par de “The Boy with the Thorn His Side”, primeiro single do álbum “The Queen Is Dead” que ouvimos Morrissey cantar.

Jeff desapareceu com 30 anos. É filho de Tim Buckley, também ele músico com estatuto de lenda da folk com existência fugaz. Jeff esteve com o pai uma semana, aos 8 anos. Tim morreria com 28.

"Eu sei que era genial, ouvi Grace"

Voltemos aos anos 90. David Fonseca, então um miúdo pelos 20 anos a estudar em Lisboa e a dividir um apartamento com amigos, não tinha como saber que, em 2010, iria gravar uma versão de “Lover, You Should"ve Come Over” com Mário Laginha. Anos 90, portanto, e “Grace” acabara de sair. "Um amigo meu ligou-me e disse-me que tinha comprado um disco em vinil, que ia oferecer a alguém, porque tinha lido críticas que diziam que aquele tipo era o novo génio da música americana. Aqui em Portugal nunca ninguém tinha ouvido falar do Jeff Buckley e eu também não."

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O amigo, conta o músico hoje com 42 anos, gravou uma cassete do álbum e ofereceu-lha. "Como eu não conhecia o tipo de lado nenhum, não fui a correr ouvir a cassete, que ficou no parapeito da janela durante meses." Há, finalmente, um dia em que David vê "lá aquela cassete, o nome não dizia nada. E essa cassete ficou lá a tocar - e não estou a exagerar nada - durante seis meses seguidos. Não havia gente que entrasse em casa a quem eu não dissesse logo: tu tens de ouvir uma coisa que eu tenho aqui".
Sabe “Grace” de cor. "De uma ponta à outra, porque de facto é um disco extraordinário. Não havia nada naquele disco que não fosse bom, do ponto de vista instrumental, vocal, das canções, produção... Era tudo inacreditável." E Grace, assim como o EP “Live at Sin-é”, é, de uma ponta à outra, Jeff Buckley. Quanto ao que foi editado depois da morte do músico, como “Songs to No One” (2002) ou “So Real: Songs from Jeff Buckley” (2007), David Fonseca - que compara a perda, pelo "impacto" que teve na sua "vida de melómano", à de Kurt Cobain - desconfia.

Talvez à exceção da edição de 2004 de Grace, que trazia temas "muito bonitos" como “Forget Her” e “My Sweetheart the Drunk”, em que Buckley trabalhava quando morreu e que foi editado um ano depois. David Fonseca ficou "à espera na loja, queria ouvi-lo o mais depressa possível". Do que Buckley gravou, mas não editou e que, aos poucos, nos vai chegando, diz: "Quando uma pessoa é criativa, deita muitas coisas para o lixo. Faço da música a minha vida e sei o número de coisas que deito para o lixo e que há muitas que eu gostava que nunca vissem a luz do dia."

David ainda não ouviu “You and I”, que traz ainda uma versão da canção “Grace”, e covers de “Night Flight”, dos Led Zeppelin, de Every-day People, de Sly & The Family Ston, ou de “Calling You”, composta por Bob Telson para o filme “Bagdad Café”, de Percy Adlon.

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Diz que o mais provável em tudo isto "é querer ouvir Jeff Buckley outra vez. Eu já sei que ele era uma pessoa genial, ouvi o ‘Grace’". Ele que "tinha uma voz extraordinária", e "tocava guitarra como quem canta". Ele "que virava tudo um bocadinho ao contrário, os acordes, as sequências..."

“You and I” está cá fora. Os inéditos podem agora ser escutados. Uns voltarão a ouvir o seu Grace, outros farão, naquele disco, descobertas. E talvez um miúdo pegue naquilo, dê a um amigo e diga: "Tu tens de ouvir aqui uma coisa que eu tenho aqui."

Obrigado Cristiano Radtke (pela link mágico) e Camila Gonçalves (pelo toque da publicação em Portugal). 

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