VIOLÊNCIA E ESPIRITUALIDADE NO EMOCIONANTE “O REGRESSO”

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Tomando por base as aparições bissextas no cinema norte-americano, o faroeste é um gênero que muitas vezes se faz de morto. Basta relembrar o imenso número de produções realizadas durante as décadas de 1950, 60 e 70 (sem pensar muito, dá pra citar uma penca de bons filmes), e a consequente escassez nas décadas posteriores. Escassez principalmente de bons filmes. Porém, esporadicamente algum cineasta se aventura a ressuscitar essa modalidade cinematográfica que ainda encontra um público fiel. Eu me incluo nessa turma. No entanto, raramente novos faroestes obtém êxito de crítica e público.

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Não é o caso de “O Regresso”, último feito do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, ganhador do Oscar do ano passado por “Birdman”. O filme é um dos fortes candidatos a vários prêmios na maior festa do cinema mundial. A cerimônia do Oscar 2016 acontece no dia 28 de fevereiro, no Teatro Dolby, em Los Angeles.

Além disso, o filme ainda confere a quinta indicação para Leonardo DiCaprio. Assisti “O Regresso” no último sábado (6), em Santa Maria, na Sala 2 de cinema no Royal Plaza Shopping, praticamente lotada. O longa é baseado na história real do explorador e caçador Hugh Glass, figura lendária do Oeste selvagem estadunidense, e região onde viveu na primeira metade do século 19. Em 1971, o diretor Richard Sarafian (Corrida Contra o Destino) filmou “Fúria Selvagem”, um bom filme com Richard Harris (Um Homem Chamado Cavalo) também inspirado em episódios da vida de Glass.

O verdadeiro Hugh Glass (esquerda) e DiCaprio. Divulgação
Só que no caso dessa nova incursão pela história, o impacto dos acontecimentos vividos pelo explorador ganha uma crueza sem dimensões. A câmera parece uma lupa gigantesca a ampliar toda a dor e sofrimento do protagonista, muitas vezes (literalmente) embaçando a lente e a visão do espectador. Pra se ter uma ideia, a cena inicial mostrando um confronto entre os índios Arikara e os caçadores, rivaliza em termo de realismo e violência com os primeiros minutos de “O Resgate do Soldado Ryan”, mais propriamente na sequência ilustrativa ao dia do desembarque das tropas aliadas na Normandia. Em “O Regresso”, a crueza e realismo dessa batalha entre índios e homens brancos é de arrepiar. Eu diria mais: sem precedentes no gênero.

Filmado apenas utilizando luz natural, um trabalho estupendo do diretor de fotografia mexicano Emmanuel Lubezki (Birdman, Gravidade), as locações tem como pano de fundo as geladas montanhas canadenses de Calgary, exceto a cena final filmada na Patagônia (Argentina), em Ushuaia, a 3 mil quilômetros ao sul de Buenos Aires. A mudança de hemisfério se deu pelo fim do inverno na América do Norte, quando Iñárritu precisou deslocar toda sua equipe para o sul do continente.

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“Não vou negar que a filmagem foi longa e fisicamente muito dura, mas ‘O Regresso’ é a experiência mais vasta e profunda de minha vida”, afirmou em entrevista o realizador mexicano.

O coração da história aparece na relação de Glass com seu filho, fruto de uma relação com uma índia da tribo Pawnee. John Glass é atacado por um urso, e pouco tempo depois, em condições precárias de saúde, é abandonado por seus companheiros de viagem, em especial pelo seu principal algoz, John Fitzgerald (Tom Hardy).

Uma história que versa sobre quesitos de sobrevivência e vingança, com o personagem de Glass remontando a lembrança de outros lendários heróis da grande tela, como o Tenente John Dunbar, de “Dança Com Lobos” (1990) e Chuck Noland em “Náufrago” (2001).

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No entanto, não dá pra não citar o paralelo com outro filme importante: “Mais Forte que a Vingança” (1972), faroeste existencialista dirigido por Sidney Pollack, com Robert Redford. O personagem de Jeremiah Johnson (Redford), também vivencia muitas das agruras, desafios e intempéries vividos por Glass. Só que no caso do último, a pendenga parece muito mais difícil de ser vencida. "Mais Forte que a Vingança" foi inspirado na vida de um outro explorador, o montanhês Liver-Eating Johnson.

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Já em "O Regresso", DiCaprio praticamente não fala. Fora os minutos iniciais, toda sua atuação é movida pelo olhar e expressividade. É assim, vamos acompanhando sua lenta recuperação; a viagem movida ao embalo de sonhos, pesadelos e alucinações; os encontros promovidos pelo destino, mas acima de tudo, a chave da sua sobrevivência é baseada na experiência de um homem acostumado a vencer as adversidades de uma região inóspita. 

Em sua jornada de vingança, violência e espiritualidade andam de mãos dadas, fazendo de “O Regresso”, um filme que facilmente pode ser perfilado ao lado de diversos clássicos do gênero. 

Além de DiCaprio e o diretor Iñárritu, “O Regresso" ainda concorre em mais 10 categorias: Melhor Filme;  Ator Coadjuvante (Tom Hardy); Figurino; Maquiagem; Fotografia; Edição; Efeitos Visuais; Edição de Som; Mixagem de Som e Produção de Arte.

Veja o trailer.


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