O INSUBSTITUÍVEL DAVID BOWIE DEIXA UMA LACUNA ABERTA NA MÚSICA POP
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Crédito imagem (The Times) |
Um dos grandes recados da vida artística é a
necessidade de reinvenção. É muito confortável estagnarmos em alguma posição e
por lá permanecermos. Vivermos dos louros dessas conquistas e assim deixar os
anos rolarem no piloto automático. Quando olho para a amplitude da perda de um
nome como David Bowie, o mais triste dessa constatação é percebermos que não
existem peças de reposição. Como/qual seria o novo projeto do músico inglês? Ao
lado de Bob Dylan, Bowie é sem dúvida um dos maiores reinventores do rock.
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Crédito imagem: #artofevents |
Por mais que constatemos vislumbres desse persona artística
em nomes como Madonna, Lady Ga Ga ou Marilyn Manson, (pra citarmos apenas três,
veja bem: eu disse vislumbres!) – toda a complexidade, qualidade, inovação e
pluralidade da sua obra estão anos luz à frente de seus contemporâneos. David
Bowie nunca foi um dos meus ídolos maiores, mas sempre nutrí uma admiração pelo
artista, um cara marcado pela imprevisibilidade e notável sensibilidade, um extraterrestre
musical.
Na minha coleção particular tenho quatro LPs do
Camaleão: duas coletâneas (Changes e Changes II), além de “Hunk Dorry” (1971) e
“Let’s Dance” (1983). Estou
atrás de “Space Oddity” (1969), “The Man Who Sold the World” (1970), The Rise
and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1973), Low (1977) e
"Heroes" (1978). A história das transformações do rock nos anos 1970, passam por várias canções desses discos.
Na última sexta-feira (8), dia do seu aniversário, e
coincidentemente mesmo dia natalício de Elvis Presley (outro extraterrestre), Bowie
lançou seu derradeiro álbum. E “Blackstar” facilmente entrará na minha lista
dos 10 melhores de 2016. Ouvi o disco antecipadamente graças ao amigo Cristiano Radtke, responsável pelo envio de um link nas últimas horas do último dia 31. Numa primeira impressão, o álbum me passou um
sentimento claustrofóbico, tenso e nebuloso. A funérea e instigante faixa
título, “This a Pity She Was A Whore” e “Lazarus” (que ganhou um videoclipe perturbador,
onde Bowie aparece numa e cama de hospital), já bastariam para nos
convencer de que o protagonista continuava vivo e provocativo.
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Divulgação |
Donny McCaslin, o saxofonista do disco, às vezes
ascende pelo jazz experimental, ou tremula quase atonalmente, tipo o que
fazia Dana Colley, homem dos sopros animalescos do saudoso Morphine, de Mark
Sandman. Sim, o sax soa como um pássaro preso numa cerca de arame farpado, tipo
um ser agonizante pedindo socorro. “Sue (Or in a Season of Crime” é o momento
punk do álbum, um gênero ao qual Bowie sempre apadrinhou involuntariamente.
“Dollar Days” é a faixa mais deliciosamente POP e tranquila do trabalho, e “I
Can’t Everything Away”, encerra as sessões no clima da ambient music, quase
flertando com o rock eletrônico. Só 40 minutos, clássico formatinho LP, um belo
canto do cisne de um dos gênios musicais do nosso tempo.
Sim, a palavra gênio lhe cai apropriada. Além de músico, Bowie
também era ator, performer, mestre nas artes visuais e figurinos, um cara
antenado com todas as formas de expressão artística. Enfim, um profissional
completo que deixa uma lacuna vazia, um buraco negro horroroso causado por uma
peça de quebra-cabeças perdida. É como tentar um substituto para a camisa 10 do
Santos. Impossível.
Outra
reflexão: quantas vezes vocês ouviram expressões do tipo 'novo Dylan', esse som
'lembra Stones". Fácil, não é? No entanto, é como se houvessem gêneros,
canções e formas de fazer música menos difíceis de serem reprisadas, sem
demérito aos citados. Mas se pensarmos melhor, fácil nada! Na grande parte das
vezes são apenas esboços que nunca serão vistos como obras-primas. Porém, só que
não lembro da imprensa enunciar nos últimos anos um 'novo Bowie'. Talvez por
que exista uma gema única naquilo que foi produzido em sua carreira.
Como consolo, uma das grandes vantagens da vida na música, é a inevitável
sobrevivência e o culto a obra. Para sempre a música de Bowie sobreviverá em
nossos toca-discos. Para sempre! E por último uma música apropriada para o momento. Releitura de David Bowie para "Trying to Get to Heaven", de Dylan.
perda imensuravel...
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