TODO O FIM TEM UM COMEÇO
Capa de "Watch" (1978), álbum da banda Manfred Mann's Earth Band. Imagem faz parte da história da Excluzive. |
A notícia mais comentadas em Santa Maria nessa semana foi o fim das atividades da Excluzive, um dos mais tradicionais pontos de venda de LPs, CDs, camisetas e itens relacionados ao mundo do rock e cultura POP em geral. Posso dizer que sou cria daquela loja, lugar que frequentei desde sua fundação em 1986, até o último dia em que ficou aberta, quarta-feira passada, 13 de agosto, quando paguei 25 contos por um LP do guitarrista de jazz norte-americano Wes Montgomery.
Leia reportagem no Jornal A Razão
O porto-alegresense Gilberto Ramalho, o Betão, se aposentou e resolveu voltar para próximo de sua cidade (um desejo antigo), e agora irá viver num sítio em Gravataí, região metropolitana da capital gaúcha. Cumpriu a missão por aqui.
Também Falei da Excluzive no site do Jornal
Pensando rapidamente
sobre algumas recordações relativas à loja, impossível desassociar a imagem da
Excluzive das ‘figuraças’ que são Betão e Ângela. Os dois sempre foram muito
parecidos, seja na forma de falar e expressar as suas opiniões, e até mesmo em
muitos gostos pessoais. Numa vida repleta de curvas e sinuosidades, quando
devido a alguns acidentes de percurso Betão precisou se ausentar, Ângela
colocou a mão no timão e segurou o tranco com pulso firme. E assim, o casal
criou suas filhas e levou a vida, dá pra dizer que, incessantemente nas trilhas
do rock and roll.
Betão no seu púlpito. Foto: Fabiano Dallmeyer (A Razão). |
Registro do último dia da Excluzive. |
Betão e Ângela. |
No entanto, duas recordações são as mais afixadas em relação à Excluzive. A primeira delas são os gatos da família que sempre estiveram deliberadamente trepando pelas prateleiras e circulando entre as peças do espaço. E os gatos da Exclusive sempre foram animais de rara personalidade e garbo. O último representante deles, Lola, é um bom exemplo dessa característica.
A segunda lembrança é a
mais forte, pois eu era só um adolescente quando me deparei com uma imagem
peculiar pintada na parede da loja, ainda nos tempos da Venâncio. Tratava-se de uma reprodução da “Watch”,
álbum da banda britânica Manfred Mann’s Earth Band, lançado em 1978. Um homem
de terno amarrotado, braços abertos como um pássaro, cabelos desgrenhados avançando numa pista de um aeroporto tipo uma aeronave prestes a decolar.
Aquilo me instigava. Surreal, inusitado, um retrato da loucura ou a
quebra de paradigmas? Talvez as duas coisas ou nenhuma delas. Provavelmente nem
Michael Sanz, o autor da pintura, saiba definir o que certamente não
precisa ser definido ou explicado.
Basta ser sentido.
Basta ser sentido.
A última compra. Quase metade do meu acervo veio das prateleiras do Betão. |
Que Betão e os seus
sejam felizes. Não há ponto final nessa história. Ficam as lembranças, as
lições, os discos circulando por aí e toda uma história que está documentada no
inconsciente coletivo dos amantes do rock que um dia colocaram seus pés na
Excluzive.
Que venha uma nova história.
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