EU ME LEMBRO DAS ARQUIBANCADAS DE MADEIRA

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Ainda moro no caminho do Estádio do Riograndense. Também vivi um bom tempo próximo ao Presidente Vargas. Sou colorado duas vezes, mas nutro um carinho especial pelo Periquito santa-mariense. Triste ver os dois times há vários anos lutando sem sucesso para voltar à elite do futebol gaúcho. Uma série de mazelas impeditivas. A grande delas passa por más administrações e falta de grana mesmo! Acho eu. As coisas por aqui, nesse aspecto, nunca foram fáceis. No entanto, vi muitas vezes aquele timaço dos anos 80 incomodando os grandes da capital. Várias lembranças. Parece que foi ontem que fiz minha estreia num estádio de futebol. Meados dos anos 1970, eu ainda era criança. Quando guri, frequentei tanto a Baixada quanto os Eucaliptos. Até os nove anos eu morava na Pedro Gauer, Bairro Perpétuo Socorro, bem atrás de uma das goleiras do estádio do Periquito.
Como esquecer os apupos da torcida que vazavam deliberadamente direto para o quintal da minha casa. Lembro que eu e meu irmão do meio subíamos em uma das árvores do pátio pra dar um bico nas partidas. Um tempo depois, já no finalzinho daquela mesma década, nos mudamos para o Bairro Passo D’Areia, na Avenida Independência, próximo ao Coloradinho. Foi quando meu pai me levou pela primeira vez na Baixada, exatamente no dia de um Rio-Nal. Eu recordo que as arquibancadas de madeira envergavam perigosamente ao balanço dos torcedores. Dava quase pra escutar (ou imaginar) os estalos da madeira nos avisando do perigo iminente.
márcio 2
Também lembro que segurava firme na mão do meu velho, com medo danado de despencar dali. Como esquecer os picolés de limão comprados de vendedores ambulantes, e do desespero que dava quando o sol derretia rápido demais o picolé e inevitavelmente melecava mãos, pernas, enfim. E aí, eu pergunto: será que da forma como os estádios eram naquela época, eles não seriam bem mais perigosos do que são atualmente? Acredito que sim. Bem, mas eram outros tempos.

Voltando a falar daquela tarde, parece que foi hoje que joguei papel picado pra cima e vibrei quando o chute de um zagueiro lançou a bola pras alturas, fora das fronteiras do estádio. Mas divertido mesmo foi assistir lá de cima da arquibancada, do lado de fora do estádio, um moleque sair correndo pelo meio da rua com a bola oficial debaixo dos braços. Outra lembrança: aprendi um monte de palavrões novos naquele domingo, e pra minha surpresa, grande parte deles saiu da boca do meu pai. Nem lembro quem ganhou o jogo.
Esse lance de ver o futebol de dentro de um estádio, no olho do furacão, no coração da torcida, não tem preço. É uma baita escola pra quem gosta desse esporte. Saudades. Faz tempo não vou até um estádio local. Pelo meu rádio de pilha, ouço as notícias dos clubes daqui. Todos os dias. Ainda sonhamos com dias melhores. Na verdade, eu sonho com aquilo de melhor que já vivi. Vocação para o saudosismo.



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