Shelby Lynne
Definitivamente, alguns artistas não foram feitos para as grandes massas. Ainda bem. A definição 'artista cult' parece cair como uma luva para Shelby Lynne, 51 anos. Procure na rede alguma matéria decente em português sobre a cantora e
você vai entender o que eu estou falando. Essa postagem possivelmente seja a única. Em mais de duas décadas de carreira,
Shelby gravou 14 álbuns e um EP, no entanto, apenas um título chegou às prateleiras daqui, o restante só pintou de relance em versões
importadas. Eu a conheci em 2005 (em vídeo), através de um dueto com
Willie Nelson.
Shelby nasceu em uma família musical no estado do Alabama
(Allison Moorer, renomado nome do country music, é sua irmã). Ainda na
adolescência se mudou para Nashville e, aos 17 anos, tornou-se uma das
revelações do programa de TV Nashville Now. Como resultado, no ano seguinte
acaba gravando um tema em dueto com o cantor George Jones e em seguida fecha
seu primeiro contrato profissional com a Epic.
Exatamente uma década depois, a jovem estaria ganhando o Grammy de “Best New Artist” por “I Am Shelby Lynne” (1999), um disco que mostrava que a menina não tinha olhos apenas para o country. Depois do sucesso de crítica e público, Shelby resolve mandar no próprio nariz e faz o disco mais cool da sua vida até então. “Identity Crisis” (2003) é um divisor de águas na carreira da cantora, quando literalmente resolve acertar as contas consigo, assumindo estar vivendo uma crise de identidade, artisticamente falando.
Em “Identity Crisis” o tom é ditado pelos violões de aço,
baixo acústico, uma percussão ‘na manha’ e o piano classudo de Bill Payne
(Little Feat). Depois de ser chamada de saladeira e atirar para todos os lados,
Shelby parece ter encontrado seu verdadeiro caminho como cantora e compositora.
Sabe o que aconteceu? Um fracasso comercial. Parte da critica adorou, o público
passou batido. Nada que abalasse a moça. Ela gostou da jogada de usar poucos
instrumentos, deixando de lado grandes produções (armações) e o vislumbre de se
tornar uma musa do pop.
Tanto que, apenas dois anos depois Shelby produz outra
leva de canções na mesma balada. Mantendo a bússula apontada para a
simplicidade, dessa vez a obstinada artista grava as {demos} canções no seu
próprio rancho. Como uma faz-tudo, ela compõe, produz, arranja e escolhe alguns
covers a dedo. No estúdio, chama Belmond Tech, tecladista dos Heartbreakers,
banda de Tom Petty, e também Michael Ward, guitarrista dos Wallflowers, dupla
que dá aquela mãozinha básica. Nessa empreitada (quase) solitária nasceu o CD
“Suíte Yourself”. Aí a americanada sacou que ela tinha chegado pra ficar.
Não bastasse isso, três anos grava “Just A
Little Lovin’”, um disco em que ela revisita o repertório de Dusty Springfield. Se nas
gravações originais ouvíamos aquela pá de excessos nos arranjos e orquestrações,
já com Shelby, as canções de Dusty soam mais limpas e o disco ganha o mundo.
Esse é também o seu trabalho mais conhecido aqui no Brasil, mesmo assim acabou
sendo timidamente lançado por aqui.
Finalmente chegamos a “Tears, Lies and Álibis” (2010), o
primeiro disco pelo próprio selo, Everso Records, pilar de onde Shelby afirma sua posição de visionária, de
artista iconoclasta que se enreda por vários gêneros sem confundir o ouvinte. Ao longo da audição dá pra
pinçar que o country ainda baliza suas composições, mas também há muito de
soul, rock, blues, pop e folk em sua música, formando um estilo único. Outras
vez temos violões e slides na medida certa, temas que falam da estrada como lar
e aí encontramos uma mulher que visivelmente sabe o que quer da vida.
No mesmo ano saiu ela lançou ainda “Merry Christmas”, um
disco com canções natalinas. Depois veio o “Desolation Road” (2011),
álbum em que ela praticamente gravou todos os instrumentos, com destaque para "Heaven's Only Days Down the Road". Na música, Shelby Lynne exorcisa o episódio mais horripilante de sua vida - "100 milhas do rio Mobile
Senhor, eu não posso tê-la, então tenho que matá-la." Lynne tinha 17 anos em 1986, ano em seu pai atirou em sua mãe na entrada de sua casa em Mobile, Alabama, e depois apontou a arma para si mesmo. Ela e sua irmã mais jovem, Allison Moorer, ficaram órfãs e foram enviadas para morar com parentes.
- "Eu precisava tentar entender e aceitar as ações de seu pai. A única maneira que encontrei foi através da música", disse em entrevista.
A letra conta a história de um homem lutando com culpa e desespero:
- "Carrego a arma cheio de arrependimento / E eu nem sequer ainda puxei o gatilho".
Ah, Shelby!!! Se todas fossem iguais a você! Não foi a toa, que em 2008, o jornalista Rob Hoerburger, do The New York Times, escreveu uma reportagem (não seria um artigo?) de 383 linhas no prestigiado jornal norte-americano, dando voz à quarentona. Na época ela disse: “Rob, Deixei o trabalho de lado! Eu quero apenas encher a cara e ouvir uma boa música”. Essa mulher é demais!
Senhor, eu não posso tê-la, então tenho que matá-la." Lynne tinha 17 anos em 1986, ano em seu pai atirou em sua mãe na entrada de sua casa em Mobile, Alabama, e depois apontou a arma para si mesmo. Ela e sua irmã mais jovem, Allison Moorer, ficaram órfãs e foram enviadas para morar com parentes.
- "Eu precisava tentar entender e aceitar as ações de seu pai. A única maneira que encontrei foi através da música", disse em entrevista.
A letra conta a história de um homem lutando com culpa e desespero:
- "Carrego a arma cheio de arrependimento / E eu nem sequer ainda puxei o gatilho".
Ah, Shelby!!! Se todas fossem iguais a você! Não foi a toa, que em 2008, o jornalista Rob Hoerburger, do The New York Times, escreveu uma reportagem (não seria um artigo?) de 383 linhas no prestigiado jornal norte-americano, dando voz à quarentona. Na época ela disse: “Rob, Deixei o trabalho de lado! Eu quero apenas encher a cara e ouvir uma boa música”. Essa mulher é demais!
Abaixo, confira Shelby Lynne em três momentos. Primeiro você vê a nossa gata se espreguiçando no clip de “Anyone Who Had A Heart”, e depois em "I Only Want To Be With You", duas de do disco em que ela canta o repertório de Dusty Springfield. E por último, só ela e o violão em "Like a Fool".
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