Eu vi um cavalo negro passeando pelas ruas da cidade
Naquela hora da madrugada, o som das patas do cavalo
se propaga facilmente pelas ruas mortas. O animal troteia mansamente, como se
soubesse o caminho de casa, farejando alguma coisa que encontra no caminho e
aparentemente ignorando o protesto dos cães, que latem ao vê-lo cruzar em
frente aos seus pátios onde estão confinados. O cavalo negro não, naquele
momento, está livre, sem sela, arreios, nenhum tipo de mortalha ou acessório
para lhe cercear o trote. Crinas revoando, músculos impulsionando a fera, que
não possui cavaleiro a conduzi-lo para algum tipo de tarefa ou exercício. E
apesar de aparentar cansaço, aquele bicho ostenta a imponência e a força de um
dos personagens coadjuvantes mais injustiçados da história da humanidade.
Já pensaram quantos animais tão majestosos quanto esse sucumbiram em guerras e presenciaram tragédias pessoais pelos quatro cantos do planeta? E sempre anônimos, carregando heróis, mártires e claro, muitos idiotas de todos os naipes. Alguém algum dia já leu algo sobre o cavalo baio de Bento Gonçalves? Será que o alazão de Simon Bolívar era tão belo quanto a imagem que vemos nas pinturas? O mustang do General Custer era realmente branco? Será que Adolf Hitler tratava devidamente seu corcel?
Quando criança, minha principal preocupação ao assistir os faroestes na TV, era de ficar imaginando o monte de cavalos mortos naqueles tiroteios e embates sanguinários entre índios e mocinhos. Na mesma época, lá pelos 11 anos, tornei-me um leitor voraz de HQs western, principalmente um “fumeti” italiano chamado Ken Parker. Sempre gostei de ver a relação entre Ken e seus cavalos. Havia muita sabedoria naqueles gestos entre homem e bicho. Eu me lembro do primeiro que montei na vida, uma égua de pelo avermelhado do meu avô. Pitiça, ela era tão mansa que suportava uma tarde inteira de sobe e desce pela chácara da família, levando eu e meus primos pelos quatro cantos, sem em nenhum momento, demonstrar desaprovação ou irritabilidade. Pobre do bicho. Gostava de alimentá-la de manhã, antes de o meu avô prepara-la para mais um dia de feira.
Já o nosso cavalo solitário continua marchando para algum lugar da cidade. Encontra o asfalto, alguns carros e fica mais agitado ao ouvir o som de suas ferraduras e as chispas rebatidas no piche. Em um movimentado cruzamento, não para frente ao sinal vermelho do semáforo. Um relincho estridente corta ao ar e faz uma mashup com o soar de uma buzina.
Crash!
Um caminhão bate de frente no cavalo, que não tem tempo algum de buscar uma saída. Impacto. Pancada na carne, ossos expostos. O animal fica esperneando no chão e o sangue toma conta de seu corpo. Fraturas. A frente do veículo fica destruída, mas o condutor não sofre um aranhão sequer. “Sem problemas maiores, o seguro irá cobrir os danos”, ele diz ao policial que atende a ocorrência. Morto, o cavalo é recolhido e, posteriormente, deve ser enterrado em algum local desconhecido. Sem nome, sem dono, como se nunca tivesse existido.
Já pensaram quantos animais tão majestosos quanto esse sucumbiram em guerras e presenciaram tragédias pessoais pelos quatro cantos do planeta? E sempre anônimos, carregando heróis, mártires e claro, muitos idiotas de todos os naipes. Alguém algum dia já leu algo sobre o cavalo baio de Bento Gonçalves? Será que o alazão de Simon Bolívar era tão belo quanto a imagem que vemos nas pinturas? O mustang do General Custer era realmente branco? Será que Adolf Hitler tratava devidamente seu corcel?
Quando criança, minha principal preocupação ao assistir os faroestes na TV, era de ficar imaginando o monte de cavalos mortos naqueles tiroteios e embates sanguinários entre índios e mocinhos. Na mesma época, lá pelos 11 anos, tornei-me um leitor voraz de HQs western, principalmente um “fumeti” italiano chamado Ken Parker. Sempre gostei de ver a relação entre Ken e seus cavalos. Havia muita sabedoria naqueles gestos entre homem e bicho. Eu me lembro do primeiro que montei na vida, uma égua de pelo avermelhado do meu avô. Pitiça, ela era tão mansa que suportava uma tarde inteira de sobe e desce pela chácara da família, levando eu e meus primos pelos quatro cantos, sem em nenhum momento, demonstrar desaprovação ou irritabilidade. Pobre do bicho. Gostava de alimentá-la de manhã, antes de o meu avô prepara-la para mais um dia de feira.
Já o nosso cavalo solitário continua marchando para algum lugar da cidade. Encontra o asfalto, alguns carros e fica mais agitado ao ouvir o som de suas ferraduras e as chispas rebatidas no piche. Em um movimentado cruzamento, não para frente ao sinal vermelho do semáforo. Um relincho estridente corta ao ar e faz uma mashup com o soar de uma buzina.
Crash!
Um caminhão bate de frente no cavalo, que não tem tempo algum de buscar uma saída. Impacto. Pancada na carne, ossos expostos. O animal fica esperneando no chão e o sangue toma conta de seu corpo. Fraturas. A frente do veículo fica destruída, mas o condutor não sofre um aranhão sequer. “Sem problemas maiores, o seguro irá cobrir os danos”, ele diz ao policial que atende a ocorrência. Morto, o cavalo é recolhido e, posteriormente, deve ser enterrado em algum local desconhecido. Sem nome, sem dono, como se nunca tivesse existido.
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