Pequeno ensaio sobre a vaidade

Crônica #44 publicada no Diário de Santa Maria 24.05/2013 | N° 3461

Elmo conversa com um amigo – especificamente, eles discutem sobre a valorização no trabalho. Então, ele ouve essa do interlocutor: “Tu és um homem vaidoso, né?”. Elmo rebate com veemência: “Sou nada! Apenas espero reconhecimento por aquilo que faço”. Uns dias depois, narra o episódio a uma amiga psicóloga e, para surpresa dele, ela compactua com a opinião do camarada de Elmo.

E o que o dicionário nos diz sobre vaidade? Segue uma pequena definição:

“Vaidade: característica daquilo que é vão; que não possui conteúdo e se baseia numa aparência falsa, mentirosa. Excesso de valor dado à própria aparência, aos atributos físicos ou intelectuais, caracterizado pela esperança de reconhecimento e/ou admiração de outras pessoas. Autocrítica ou opinião envaidecida que alguém possui sobre si mesmo. Ideia exageradamente positiva que alguém faz de si próprio”.

Entre outras coisas, para um cara que todas as manhãs, ao acordar, mal se olha no espelho, e que não liga a mínima para a aparência, quanto a esse aspecto, sem dúvida, ele não se enquadra na jogada. Agora, quanto ao âmbito, “atributos (...) intelectuais, caracterizado pela esperança de reconhecimento (...)”, sim, Elmo consegue se enxergar nesse perfil. O que o deixa puto da cara é a possibilidade das pessoas não entenderem, que muitos processos (profissionais), e dá para estender isso a uma diversa gama de atividades, – não sobrevivem sem reconhecimento. E como progredir? Às vezes ele inveja determinadas profissões onde as práticas de rotina não apresentam a necessidade imediata de reconhecimento ou meritocracia. É aquela história, de qualquer forma, quer esse sujeito faça seu trabalho – de forma displicente (ou não), a grana vai pingar na conta dele e o leite das crianças (sem contaminação, é claro!) está garantido.

Outro dia, eu estava caminhando no centro da cidade quando passei por um ponto de táxi e, para minha surpresa, um dos taxistas dali me cumprimentou e disse: “Frio né? Gosto de dias assim. É bom para trabalhar”. Não conhecia o sujeito, e ele prosseguiu: “Gostei muito da tua crônica do Diário sobre o frio. Penso exatamente daquela forma. Nessa época do ano tenho mais gás para tocar a vida”. Leia aqui

Pensei que talvez seja essa uma das definições de reconhecimento que Elmo se refere. Esse homem me lê. Eu poderia escrever um monte de coisas e ter uma papelada armazenada dentro de uma gaveta qualquer. Se alguém lê o que você escreve, e mais, se reconhece e concorda (ou até mesmo discorda) do seu ponto de vista, tudo bem:

– Então já tá valendo!

E nem estou falando da grana, outro importante viés do reconhecimento (ou valorização). Pois entenda, até podemos ser vaidosos, mas estúpidos, amigo Elmo, isso nunca! Ou você acredita em contos da carochinha?

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