O caminho mais longo
Olha para o relógio. 18h30min. Bate o ponto,
joga o crachá sobre a tela do PC e parte em passos rápidos até o
estacionamento. Desativa o alarme do carro, abre a porta, atira a bolsa no
banco de trás e assenta-se em frente ao volante. Fixa o rádio no encaixe do
painel, olha atentamente os CDs disponíveis e escolhe um disco de Tom Waits,
Mule Variations. O ator, cantor e compositor é uma figuraça! Sempre se lembra
dele como o maluco Renfield comendo insetos na prisão, em uma das cenas do
filme de Copolla baseado no livro de Bram Stocker.
Waits parece se sentir a vontade com sua imagem de maluquete convicto. Pesquisar sons distorcidos e ruidosos faz parte do processo criativo dele. Certa vez, revelou em uma entrevista que gosta de desvelar esses ruídos ouvindo dois rádios ao mesmo tempo e gritando melodias num gravador enquanto dirige o seu carro. “Quando você tem uma família, o automóvel passa a ser o único lugar tranquilo”, disse o artista norte-americano a um repórter.
Waits parece se sentir a vontade com sua imagem de maluquete convicto. Pesquisar sons distorcidos e ruidosos faz parte do processo criativo dele. Certa vez, revelou em uma entrevista que gosta de desvelar esses ruídos ouvindo dois rádios ao mesmo tempo e gritando melodias num gravador enquanto dirige o seu carro. “Quando você tem uma família, o automóvel passa a ser o único lugar tranquilo”, disse o artista norte-americano a um repórter.
“Tom Waits tá coberto de razão”, pensa ao girar
a ignição, relembrando o catecismo do artista publicado em uma entrevista
antiga. Ele seleciona com o dedo indicador a faixa 12, Chocolate Jesus. Agora
está pronto para partir para as ruas. Não tem outra: o automóvel é um dos
melhores lugares para se ouvir música. Além disso, com o trânsito caótico de
hoje, é também um baita antídoto ao stress. Com as ruas vazias, é possível que
ele levasse cerca de 8 a 10 minutos pra chegar até sua casa. Não é o que
acontece. Dá mais que o dobro desse tempo até abrir o portão e suspirar: “Lar,
doce lar”. Às vezes, nem tão doce assim...
Naquele dia, resolve pegar o caminho mais longo. Afinal, nada como levar o carro para outras bandas, fugir do fluxo e adentrar na noite como um animal sorrateiro. De supetão, decide que não vai requentar o almoço. #FastFoodFeelings. Resolve passar em uma lancheria e encomendar um xis. Bate papo com o garçom enquanto aguarda sua janta. Paga o débito com os últimos créditos de seu Vale Refeição, para logo após, teoricamente, acelerar o veículo até o previsível destino de todos os dias. O xis-salada não pode esfriar.
Naquele dia, resolve pegar o caminho mais longo. Afinal, nada como levar o carro para outras bandas, fugir do fluxo e adentrar na noite como um animal sorrateiro. De supetão, decide que não vai requentar o almoço. #FastFoodFeelings. Resolve passar em uma lancheria e encomendar um xis. Bate papo com o garçom enquanto aguarda sua janta. Paga o débito com os últimos créditos de seu Vale Refeição, para logo após, teoricamente, acelerar o veículo até o previsível destino de todos os dias. O xis-salada não pode esfriar.
Que nada! Outra vez quebra o protocolo e escolhe o caminho mais longo. Enquanto isso, Tom Waits continua recitando uma nova epístola pelos alto-falantes. Olha para o relógio do painel: 19h13min. “Ainda é cedo”, pensa. Fica refletindo ao andar da carruagem. Novamente toma as rédeas do player e seleciona a faixa 12. O poeta Gregory Corso dizia: “Estar na esquina à espera de ninguém é PODER”. Ele conclui: “Escolher o caminho mais longo é PODER”. Ao invés de seguir reto em um cruzamento, novamente vira para a direção contrária.
O xis continua esfriando no banco do carona. Segura firme no volante, engata a quarta marcha e acelera para lugar nenhum.
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