Velhos amigos
Crônica #35 publicada no Diário de Santa Maria 15.03/2013 | N° 3401
Quantos amigos de verdade você tem? Fácil ou difícil responder? É
engraçado, muitas vezes quando paramos para pensar sobre isso e nos damos conta
de como temos poucos amigos. Como diz um conhecido dito popular, “não enchemos
os dedos de uma mão” ao enumerarmos nossas amizades. Uma noite dessas, você
recebeu uma ligação de um velho camarada. Ele o convidou para participar de uma
festa de aniversário de um amigo em comum. No primeiro momento, você refuta o
convite. Desculpa-se que está indisposto e não gostaria de sair de casa. Do
outro lado da linha, seu brother lhe manda às favas e diz que já está passando
na sua casa. Daí, você resolve aceitar carona, relaxa e acaba por comparecer ao
encontro.
Chegando lá, percebe que rever antigas amizades é como resgatar páginas
arrancadas de sua memória. Existe um tipo de pacto nessas relações que não pode
ser explicada em algumas linhas. Ao lado desses caras, você passou por poucas e
boas, riu, chorou, aprendeu, ensinou, vivenciou coisas quando apenas imaginava
o que seria da sua vida. Hoje, olhando para trás, essa turma lhe rememora o
quanto a ingenuidade funcionava como elixir de uma juventude perdida. Naqueles
tempos, você pensava que sabia de tudo, e não sabia porra nenhuma. Hoje, você
tem certeza de que não sabe de nada, e quanto mais se aprofunda em qualquer
assunto, conclui, resignado, que nunca elucidará nenhuma verdade absoluta.
Outro dos grandes baratos de rever essa turma das antigas é que muitas histórias
das quais você protagonizou, e que foram inexplicavelmente apagadas da memória,
voltam à vida pelos lábios afiados dessa rapaziada. Assim como você também
descobre que aqueles irracionais adolescentes de ontem se tornaram homens
aparentemente comuns. Reforço: aparentemente. Não precisamos nos aprofundar
para perceber que nem de longe, todos vocês não podem ser considerados pessoas
“normais”. O velho espírito adolescente impera nesses encontros.
É uma volta no tempo! Você se recorda das sessões intermináveis de Hair
e Woodstock girando intermitentes nos videocassetes. Tardes embaladas por
músicas do Rush, Led Zeppelin, Pink Floyd. Estalos crepitantes nos toca-discos
e nas lareiras. Sente o gosto do pé-sujo ou “samba” (bebida feita à base de
aguardente e Coca-Cola), passando de mão em mão e a consequente dor de cabeça
pós-celebração. E aí vai... Tanta coisa! Daí você se lembra daquele “foguetaço”
que tomou na Tertúlia de 1987. Difícil foi encarar a mãe abrindo a porta e seu
irmão dando lição de moral. E alguns velhos amigos que encontrou nesse
churrasco foram testemunhas dessa e de tantas outras passagens. É. Novamente
você virou piada. As risadas soaram altas e, por isso, sempre vale a pena
reencontrá-los. Ah, se vale...
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