Um lugar para conhecer




Crônica #25 publicada no Diário de Santa Maria 04.01/2013 | N° 3342



Próximo onde moro, há um asilo geriátrico regido pela congregação de freiras São Vicente de Paulo. O lugar é cercado de morros, e de lá podemos ter uma vista privilegiada da cidade. O mais importante é que o asilo é referência por aqui, principalmente no que rege ao atendimento ao idoso em situação de vulnerabilidade social. É essencialmente assistencial, sem fins lucrativos. Presta serviço de proteção em conformidade com a Política Nacional do Idoso. Para isso, atende necessidades básicas dos usuários como: moradia digna, alimentação, higiene, saúde, convívio social, lazer e atividades terapêuticas. Com o passar dos anos, o asilo se tornou reconhecido na comunidade, como um lugar onde o idoso vive com conforto e dignidade.

No coração das dependências da casa, há uma capela, onde são realizadas missas semanais. A convite de minha mãe, a acompanhei em uma cerimônia. Essas celebrações ecumênicas são ministradas basicamente para as freiras e os moradores de lá, no entanto, a comunidade também pode assisti-las. Quando cheguei lá, nos primeiros instantes, confesso que fiquei impressionado. Lembrei-me das cenas iniciais de Um Estranho no Ninho, quando o personagem de Jack Nicholson se depara com os pacientes de um hospital psiquiátrico. McMurphy fingia ter problemas psicológicos, para assim, esquivar-se a de trabalhos forçados na prisão. Na vida real, o cenário também impressiona.

Os idosos, muitos deles em cadeiras de roda, e cada um com sua peculiaridade de deficiência, são assistidos com muito carinho e dedicação pelas freiras. Graças ao bom Deus, não vi por lá algum resquício da presença da senhora Mildred, a temível enfermeira chefe do filme dirigido por Milos Forman. Bem pelo contrário, não percebi nenhum clima de intimidação. A palavra que me veio à mente foi: acolhimento. Muitos desses vovôs e vovós vieram nos cumprimentar desejando votos de Feliz Ano Novo. Um deles, inclusive, era amigo e funcionário de meu falecido pai. Paulo – esse é seu nome – apesar da idade avançada, ainda tem a cara do ator norte-americano Gregory Peck.

Enquanto o padre ministrava a cerimônia, um cãozinho passeava pela capela. Aquela minúscula bola de pelos mordeu os calcanhares de metade do contingente da cerimônia. Em dado momento, um velho homem com deficiência motora e de fala, leu o salmo de responsório. Dava pra sacar que ele estava superando seus limites ao extremo. Peguei-me pensando: quanto desprendimento nessas mulheres que dedicam sua vida para cuidar de necessitados? O Asilo da Vila Itagiba tem constante necessidade de ajuda financeira, e a comunidade também pode colaborar com serviços de apoio, especialmente nas ocasiões de ações beneficentes. Antes de conhecer o lugar, minha mãe dizia: “aquelas irmãs são verdadeiros anjos na terra”. Durante a missa, quando elas entoaram seus hinos de louvor, tive (quase) certeza que pisei num pedacinho do céu.

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