A barraca iglu




Crônica #27 publicada no Diário de Santa Maria 18.01/2013 | N° 3354


Não sei de onde surgem certas coisas. Acontece que resolvi comprar uma barraca iglu. Estou falando daquelas pequenas, que cabem duas pessoas e custam cerca de R$ 50. Aí você me pergunta: “Tá, então tu vais acampar em algum lugar?”. Resposta: “Não. Sem planos de me internar no mato”. Na verdade, instalei-a no fundo do meu pátio. É que acabei de cortar a grama do meu quintal e, como estamos em época de calor, nada melhor do que recorrer a modos alternativos de adormecer em boas condições. Sim, isso mesmo! Estou dormindo na minha barraca iglu novinha em folha. Inclusive preciso usar um cobertor mais quente. Essa nova casa de poliéster e polietileno, com varetas de fibra de vidro, é predominantemente da cor azul, com detalhes em branco e acabamento em amarelo, tem cerca de 2 metros quadrados e, por enquanto, atende minhas expectativas. Está sendo bacana vê-la por lá.

Um amigo meu disse o seguinte: “Acho que tu cansastes de ti mesmo e te expulsou de casa”. Boa. Eis, talvez, uma boa maneira de dar um tempo no computador e no conforto do lar. Parece que encontrei um novo jeito de passar as horas de uma forma interessante. Na verdade, preciso dar um tempo em alguns ciclos viciosos que se instauraram em minha rotina e, dessa forma, talvez absurdamente nonsense para alguns, quem sabe eu possa descobrir novos e pequenos prazeres. Por exemplo: a leitura flui dentro da barraca. No próximo domingo, inclusive, eu vou tirar uma siesta nela. Alguns podem chegar à conclusão de que preciso de internação. Como uma simples barraca iglu pode deflagrar mudanças – radicais ou não – no cotidiano de alguém? Seria ela mais confortável que minha cama? Claro que não.

Sério, essa jogada de ficar enfiado dentro de casa, envergando em frente ao PC, está me aporrinhando o saco! Preciso voltar a interagir com o que acontece além das paredes da sala e do quarto. É aí que entra a barraquinha azul, amarela e branca, lá no fundo do pátio. Como moro numa área limite entre a cidade e o fim dela, posso dormir sentindo o cheiro do mato vazar pela tela no teto da barraca; é uma delícia saborear o cri-cri dos grilos e o coaxar dos sapos e rãs. Que sensação agradável é olhar para o alto e ver o céu como um mar de lumes.

Enfim, é bom demais curtir o combo de aromas misturados à noite e à madrugada e, por fim, despertar com o barulho dos pássaros empurrando o sol para o alto. Tirando um pequeno desconforto nas costas, a minha estada por lá está sendo perfeita. Daqui uns dias, eu volto a fazer rodízio com minha cama, no entanto, um fato está consumado: a barraca não ficará amarrotada dentro do saco de guardar. Lá pelos primeiros meses de frio, pretendo repetir a experiência e quero vê-la coberta de geada. É sério! Alguém conhece um bom psicólogo?


Comentários

  1. Olá. Adorei essa sua crônica. Eu já faço isso em casa. Junto uma piazada, amigos do meu filho de nove anos e acampamos no pátio de casa, rssss é muito bom. Adoro o descompromisso da barraca, a desarrumação, rssss não sei o que é, mas é muito bom. O contato mais proximo com a natureza, acordar cedinho com cheirinho de mato, passarinhos cantando, fazer um mate e dai me esticar numa rede. Vc tem a rede já? Ela faz parte do processo. Tem que ter para completar a delicia de se sentir meio indio, meu dono do mundo ou do seu pedaço. Depois me conte da sua experiencia. Adorei saber que tem mais pessoas como eu assim. Sucesso!

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