O último dia na Terra
Henry David Thoreau. Arte: artista desconhecido |
Crônica #23 publicada no Diário de Santa Maria 21.12/2012 | N° 3331
Às vezes você acha que tudo teria que ir pelos ares mesmo.
Sério. Certas coisas no mundo não tem (e talvez nunca tenham) conserto.
Corrupção, assassinatos, pedofilia, inveja, cobiça, falsidade, hipocrisia, desperdício dos bens naturais...
Poderíamos citar centenas de atos e palavras feias que definem inúmeros vícios da
humanidade. Você acredita que precisaríamos retroceder, dar alguns passos
atrás, fazer como o escritor norte-americano Henry David Thoreau fez no final
do século 19. Quando você leu Walden,
livro que ele escreveu há mais de 150 anos, realmente foi envolvido pelo conteúdo da coisa. A publicação é um relato da experiência dele longe da civilização e
de como viveu, o que sentiu e o que pensou durante o tempo que permaneceu no
lago Walden, em Concord, Massachussets (EUA). David ergueu uma cabana e sobreviveu sozinho somente com a
ajuda da natureza. Ao todo, foram dois anos que ficou por lá. Se lêssemos
Walden com a devida atenção, a maneira de enxergarmos a vida e o mundo que nos
cerca poderia ser diferente. O tema continua atual.
Você considera o evangelho de Henry D. Thoreau um dos mais
belos escritos que já leu. O recado final que ecoa de Walden é que o livro não passa de um testamento ético-espiritual
que até hoje inspira as pessoas a buscarem uma vida menos materialista e consumista. Além de confesso amante da natureza, Thoreau é considerado,
junto com os povos indígenas, um dos avós do movimento ecológico. Segundo suas
próprias palavras, ele foi morar na floresta porque queria "viver deliberadamente
e se defrontar apenas com os fatos essenciais da existência, em vez de
descobrir, à hora da morte, que não tinha vivido". Ele queria
"expulsar o que não fosse vida".
O caminho que leva ao lago Walden |
É, amigo David. Infelizmente fracassamos. A civilização
continua afrontando o bom senso a passos largos. E o pior: não ouvimos, ou
fingimos que não escutamos os importantes recados aos quais estamos cansados de
receber a milênios. Quando vamos nos dar conta de que necessitamos de muito
pouco para encontrar o caminho da felicidade? Entre suas resoluções de ano
novo, você anotou o desejo de construir uma horta no fundo do pátio e ficar menos tempo na internet. A TV
você já desisti faz tempo. Seu espírito agradece.
O negócio é o seguinte: o mundo não irá acabar nesta
sexta-feira. E mais, provavelmente tudo continuará da mesma forma velhaca que
conhecemos. Não interessa que já saibamos de tudo há tempos, indo de A a Z dá pra dizer que as injustiças, o
trânsito caótico, as minorias sendo favorecidas, pessoas passando fome,
artistas talentosos ganhando menos espaço que pseudo-artistas de categoria
inclassificável, e tudo mais aquilo de ruim que vira manchete nos jornais todo
santo dia, continuará listando as capas nos periódicos em letras garrafais.
A menos que você mude a ordem das coisas e comece a expulsar tudo aquilo que não é vida. Só se for agora, meu irmão!
Meu amigo Márcio Grings, quando tu falou "artistas talentosos ganhando menos espaço que pseudo-artistas de categoria inclassificável tu matou a pau. Nesta frase tu resumiu o que tantos, como eu pensava e não tinha coragem de dizer. Afinal, tanta gente boa, tanta música e literatura boa naufraga perdendo espaço pra o lixo que vemos atualmente. Um forte abraço
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