Jack of Hearts e o Treze
Na última quarta-feira, eu e meus colegas
Lennon, Zanini, Zuli, Cassuli e Tomás disparamos Light & Shade, o EP de
estreia da Jack of Hearts (JOH), banda que montamos ano passado, aqui na
cidade. O lance da JOH é revirar o terreno fértil do rock dos anos 1960 e 1970,
country rock e blues. Pelo menos, a tentativa é essa. Além disso, temos 15
canções próprias, todas em inglês, idioma que fornece fundamentalmente nossas
influências no terreno da música. Cinco desses temas foram selecionados para a
amostra em CD. O lugar escolhido para a première não poderia ser outro:
Theatro Treze de Maio, o melhor palco de Santa Maria quando o assunto é
cultura. O teatro, construído no final do século 19 e incrivelmente desativado
em 1916, teve seus anos negros como prédio que chegou a abrigar diversos órgãos
públicos e até mesmo a redação de um jornal.
Foto: Milany Rios |
Para
quem não sabe ou não lembra, em 1992 foi lançada uma campanha de restauração, e
o prédio foi recuperado e reformado, recebendo novos equipamentos. Infelizmente
o tranco não foi fácil, pois, com recursos escassos, a reforma precisou ser
paralisada. No entanto, a comunidade se reuniu e completou os fundos faltantes,
possibilitando a conclusão das obras e a reabertura do teatro em suas funções
originais, o que aconteceu em 1995. Isso sacudiu a cidade na época e, desde
então, há quase 20 anos, o nosso teatro passou a funcionar de forma periódica.
Foto: Fabiano Dallmeyer |
Alguém
imagina uma cidade sem teatro? Fico pensando nas pessoas que não prestigiam as
montagens que passam por lá e ficam trancados em casa, vendo TV e a novela da
hora. Provavelmente, seja esse mesmo povo que reclama da falta de opções
culturais em Santa Maria. É difícil de entender, mas, enfim...
Atualmente,
dona Ruth Péreyron e sua equipe mantêm essa “roda da cultura” girando com
invejável dose de paixão. O fato é que todo o misancène de armar um espetáculo,
que quase sempre é tão difícil de fazer acontecer por aqui, fica muito mais
fácil e profissional quando pisamos no palco do Treze. Na verdade, além do
lance factual de participar do show, o que mais me motiva é tudo o que acontece
antes, a expectativa que nos cerca segundos, minutos e até mesmo horas antes de
as cortinas se abrirem. A afinação das luzes, a passagem de som, a composição
cênica, a escolha e a ordem das canções no setlist e, principalmente, os amigos
se entregando por uma causa artística, apenas pelo simples fato de poder fazer
parte do time. Isso é bonito. É muito bom ter amigos desse naipe. Sou grato e
sinto-me agraciado por conhecer pessoas assim.
É
aí que projetos como o Treze: o Palco da Cultura precisam ser louvados. Tocar a
sola dos sapatos nessa casa centenária é sempre mágico. Nos sentimos dentro de
um sonho dourado, onde a música e a arte podem fluir de uma forma única e
plena. O verdadeiro paraíso encharcado de luz e sombra.
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